Maurício Júnior dos Santos disse nesta segunda-feira (18.07) que deixou o 15º Curso de Formação de Soldado do Corpo de Bombeiros, porque temia pela sua vida em decorrência da tenente Izadora Ledur de Souza Dechamps, ter “prometido pegá-lo” no campo final do curso de salvamento na Lagoa Trevisan, em Cuiabá. “No campo final você não me escapa”, relatou a vítima ao falar sobre promessa feita por Ledur durante audiência de instrução nesta segunda-feira (18.07), por meio de videoconferência.
Izadora Ledur responde por Ação Penal Militar pelo crime de tortura contra Maurício Júnior nas aulas da disciplina de salvamento do curso de formação. O processo tramita na 11ª Vara Especializada da Justiça Militar, e nova sessão audiência de instrução foi agendado para 22 de novembro às 13h30.
Maurício Júnior reconheceu que teve dificuldades durante o curso de formação, mas que desde antes de entrar no concurso público fazia aula de natação para tentar melhorar no fundamento e que inclusive fez treinamento junto com outros colegas paralelamente com o curso.
Ele contou que as pessoas alertavam que teria que melhorar na questão da água porque quando caísse nas “mãos da Ledur” a mesma não daria moleza. “Outras turmas já tinham relatado como ela era”, contou.
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A vítima disse que no dia do treinamento na Lagoa Trevisan estava cansado, desgastado por estar dormindo cedo, comendo mal, mas em decorrência do curso. Segundo ele, no dia Ledur fez com que todos corressem em volta da lagoa e em seguida fez com que os alunos fizessem flexão, polichinelo e outros exercícios antes de entrar na água.
“Quando entramos na água, meus braços e pernas não se aguentavam mais. Comecei a fazer a travessia e começou a me dar cãibras, cãibras. Alguns metros eu disse que não aguentava mais, aí me deram a boia. Chegando no meio, a Ledur me chamou até ela e começou a me xingar. Ela mandou eu pegar a corda e passar no pescoço, aí começou a me afundar. Um certo momento eu peguei nela e disse para que tu vai me matar, para, para. Ela disse: você está louco aluno pegando em oficial. Aí ela me afundou, afundou”, contou.
Maurício declarou que ao chegar na margem da lagoa estava passando muito mal e vomitando. “Ela gritava para mim volta, volta, e começou a me xingar. (...) Quando estava na maca ela (Ledur) veio me ver, para saber como estava, e depois disse: é uma bichinha mesmo”.
No depoimento, a vítima acrescentou: “Se eu tivesse tomado medidas mais duras na época, o Rodrigo Claro poderia estar vivo. Como ele está hoje? Ele está morto”.
Ele narrou que dias após o afogamento, fez uma prova final de salvamento e que ficava flutuando na água, e que no citado dia começou a se afogar, passando mal e foi levado com seu carro para uma unidade de saúde.
“Nunca pensei em desistir do curso. Quem em sã consciência iria desistir faltando um mês. Passando tudo que passei, desisti no final. Eu não queria (...) Nos últimos dias que estava no Corpo de Bombeiros, eu resolvi desistir temendo minha vida. Eu estava prometido no campo final. Eu achei que não iria sair vivo”, declarou.
Ainda segundo Maurício, sua questão médica de pressão alta não o incapacita e nem obriga fazer uso de medicação, e que quando deixou a corporação procurou buscar provas para denunciar os excessos, mas que todos os colegas do curso de formação tinham medo de sofrer represálias.
“Eu fui torturado. Era para mim está morto e não o Rodrigo Claro. (...) Se eu não tivesse sido prometido, eu estaria formado”, revelando que na época todos tinham medo de denunciar os excessos no treinamento aos superiores com receio de que os demais alunos fossem prejudicados.
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