O deputado Lúdio Cabral (PT) em entrevista exclusiva ao nessa sexta-feira (30.06) externou sobre a disputa eleitoral a Prefeitura de Cuiabá, nas eleições de 2024, avaliou os primeiros meses do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e teceu críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Segundo Lúdio, de “forma irresponsável e ideologizada”, Campos Neto compromete o crescimento econômico ao manter a taxa de juros de 13,75%, percentual considerado o maior patamar em mais de seis anos e meio.
“Há problemas estruturais na economia que precisam ser enfrentados e dependem de um lado da correlação de forças no Congresso Nacional, uma correlação de forças desfavorável ao nosso projeto, e de outro lado, mudanças que aconteceram no período do desgoverno passado, como, por exemplo, a tal falsa autonomia do Banco Central, que, por exemplo, temos hoje uma aberração que é um presidente do Banco Central bolsonarista, que conduz a política da taxa de juros no país de uma forma irresponsável, ideologizada e que compromete a possibilidade de incremento, de retomada do crescimento econômico com distribuição de renda e riqueza no nosso país”, criticou Lúdio.
Já em relação aos seis meses do Governo Lula, Lúdio apontou melhorias nas condições de alimentação do povo e importantes reduções de preços, especialmente o valor da carne e combustível, que contribuem diretamente na qualidade de vida da população brasileira.
Lúdio também externou sobre a Saúde de Cuiabá, propostas apresentadas ao PPA Participativo, dificuldade em emplacar projetos por ser deputado de oposição, bem como, criticou o Governo estadual por reclamações apresentadas pelos profissionais da Educação, como, por exemplo, dificuldades com o Web Ponto consideradas falhas pelos professores. Ele também criticou a militarização de escolas em Várzea Grande, abandono de obras, reformas somente de fachadas e o retrocesso das Diretorias Regionais de Educação – DREs.
VEJA ABAIXO A ÍNTEGRA A ENTREVISTA COM O DEPUTADO LÚDIO CABRAL
VGN – O senhor já externou não ser o momento para falar sobre pré-candidatura a Prefeitura de Cuiabá, ou seja, da eleição 2024. Porém, defende uma candidatura petista nessa disputa, aproveitando esse posicionamento pergunto: caso Lúdio fosse escolhido o que podemos esperar.
Lúdio Cabral - Eu avalio que 2024 temos que discutir em 2024, quando for aberto o calendário eleitoral. A política é muito dinâmica, a conjuntura evolui de forma muito fluida e eu entendo, que antecipar qualquer avaliação agora ou posicionamento, significaria contaminar a minha atuação, como deputado, como presidente da Comissão de Saúde, uma tarefa institucional. Eu prefiro fazer esse debate em 2024, tenho ciência da responsabilidade que eu tenho com Cuiabá, mas exatamente por ter essa consciência que eu considero importante não antecipar esse debate.
VGN - Presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann disse que o candidato à Prefeitura de Cuiabá vai sair da Federação; A Federação tem três nomes: do senhor; da ex-deputada federal Rosa Neide e do vice-prefeito José Stopa. Ela também não descarta uma aliança com o MDB do prefeito de Cuiabá Emanuel Pinheiro, para viabilizar um candidato petista na eleição do próximo ano. Com base nestas informações, o senhor fica confortável com um possível apoio de Emanuel Pinheiro a sua candidatura?
Lúdio Cabral - Bom, a Federação foi criada em 2022, com validade até 2026, então obrigatoriamente em 2024, esses três partidos PT, PCdoB e PV estarão juntos, isso engessa a conjuntura nas eleições em Cuiabá no próximo ano. Primeiro: o PT faz oposição ao atual prefeito e construirá uma candidatura e um projeto de mudança para cidade, porém, o PV tem o atual vice-prefeito que é pré-candidato já declarado e o atual prefeito tem o direito de ter um candidato que defenda a sua gestão. Só que não cabe duas candidaturas no mesmo partido ou numa mesma federação. Então, essa equação terá que ser resolvida em algum momento. E, eu defendo que o PT tenha candidatura e que apresente um projeto de mudança para cidade, para que inclusive esse campo da mudança não seja ocupado por candidaturas oportunistas ou inconsequentes, ou inconsistentes.
VGN – Como o senhor avalia o Governo Luiz Inácio Lula da Silva. Um Governo que ainda enfrenta resistência e até torcida contrária. Quais as diferenças o senhor já pode apontar em melhorias aos brasileiros.
Lúdio Cabral - O Governo Lula em seis meses já produziu mudanças muito positivas para nossa população. O trabalhador vai ao supermercado, vai ao açougue, vai ao posto combustível e já vê os reflexos positivos do Governo, o preço da carne caiu, o preço do óleo de soja que chegou a R$ 14, muitos governo passado, hoje já está na casa dos R$ 4, a gasolina abaixo de R$ 5, a carne de primeira, R$ 29, R$ 25, a picanha R$ 40, isso significa melhoria nas condições de vida do povo, nas condições de alimentação do nosso povo. Programas importantes foram retomados, o "Minha Casa, Minha Vida", reajuste real do salário mínimo, revisão da tabela do imposto de renda, subsídio para compra de carros populares. Então, há mudanças positivas já acontecendo no ritmo acelerado.
Agora é lógico que há problemas estruturais na economia que precisam ser enfrentados e dependem de um lado da correlação de forças no Congresso Nacional e é uma correlação de forças desfavorável ao nosso projeto, e de outro lado, assim mudanças que aconteceram no período do desgoverno passado como, por exemplo, a tal falsa autonomia do Banco Central faz com que, por exemplo, a gente tenha hoje uma aberração que é um presidente do Banco Central bolsonarista, que conduz a política da taxa de juros no país de uma forma irresponsável, ideologizada e que compromete a possibilidade de incremento, de retomada do crescimento econômico com distribuição de renda e riqueza no nosso país, mas o Lula assim, tem consciência que quatro anos passa rápido e está se esforçando no ritmo acelerado para produzir as mudanças que o país precisa.
VGN – PPA Participativo, o senhor defende alguma proposta específica. Pode defendê-la por gentileza. No geral, algumas já constam no Plano de Governo do presidente Lula, a exemplo habitação, neste caso, é preciso reforçar o voto na Plataforma, ou não é preciso.
Lúdio Cabral - Bom, há duas propostas importantes assim, que inclusive em função da conjuntura que nós estamos vivendo eh nós temos defendido no debate do PPA Participativo. Primeiro destacar a importância do Governo Federal escutar a população por meio de um processo participativo, na elaboração do Plano Plurianual (PPA), que se desdobrará no orçamento participativo a cada ano.
Quais as duas propostas que estamos defendendo? Uma sintonizada a outra, primeiro a defesa da pesca artesanal, sustentável e da organização e fortalecimento de cadeias produtivas relacionadas eh a pesca artesanal, considerando a dimensão ecológica, econômica, social, cultural, para gerar renda, trabalho, segurança alimentar, preservar o modo de vida das comunidades tradicionais de ribeirinhas e proteger o Meio Ambiente. A outra proposta é a defesa de política que defenda, que proteja os nossos biomas: Pantanal, Cerrado, Amazônia, com combate ao desmatamento, aos incêndios florestais e a grilagem de terras.
VGN - Em sua opinião, também como médico, como o Governo Lula pode se preparar para o inesperado, por exemplo, ninguém esperava a pandemia, ficamos economicamente e psicologicamente devastados. Ficamos com “sequelas” de todas as formas entre elas, muitos passaram a desacreditar nas vacinas. Em um contexto geral, economia, pôs-pandemia, recuperar a confiança na ciência, e também criar políticas públicas que não deixe o país despreparado, como o senhor avalia que este Governo deve atuar e o que falta para melhorar.
Lúdio Cabral - Um esforço enorme que terá que ser feito na saúde é enfrentar a queda da confiança da população nas vacinas. Enfrentar a desorganização que aconteceu da política nacional de saúde. Hoje, por exemplo, a cobertura vacinal da Poliomielite (paralisia infantil) que em 2015 era de 98.3%, no ano passado, chegou a 66%, o que significa o risco da volta de uma doença, que já havia sido erradicada no país. Contraditoriamente paradoxalmente essa desconfiança da vacina veio durante a pandemia, quando ao contrário, deveríamos fortalecer a confiança nas vacinas, porque foi exatamente a vacina que nos permitiu sair daquele cenário grave. Então é um esforço que o Governo Federal que o Ministério da Saúde já vem fazendo no sentido de sabe de retomar o sucesso do nosso programa nacional de imunizações.
Vivemos também uma epidemia eh de sofrimento mental que se exacerbou com a pandemia e as fake News, o discurso de ódio, os conflitos, nesse período tão sombrio, que a gente viveu de uma coincidência nociva entre pandemia e desgoverno, comprometeu ainda mais a saúde mental da nossa população, então, é preciso por meio do Sistema Único de Saúde, por meio de políticas sociais, por meio da Educação, por meio da Cultura, por meio do Esporte e Lazer enfrentar essa questão.
VGN - O senhor está acompanhando a intervenção estadual na saúde de Cuiabá, avalia que falta investimento por parte do Governo do Estado. Concorda com a prorrogação? Já viu solução?
Lúdio Cabral - Em relação à intervenção ela é resultado de uma decisão Judicial, não cabe concordar ou discordar, cabe monitorar o cumprimento dela, agora, a intervenção ela é sintoma de um problema grave na gestão do SUS. E em Cuiabá e no Estado de Mato Grosso, eu espero que com o Estado agora administrando a saúde municipal não haja mais conflito entre Cuiabá e Estado, porque o Estado terá que sentar com o Estado para superar os problemas que existem na saúde, tanto aqueles que são específicos de Cuiabá, quanto aqueles que são o resultado da responsabilidade que Cuiabá tem com o atendimento demais, de alta complexidade para população de todo o interior.
VGN – Projetos de Lúdio Cabral, o senhor tem dificuldades em emplacar projetos por ser da oposição?
Lúdio Cabral - O nosso trabalho no parlamento, ele é um trabalho de fiscalização e de busca de melhoria na legislação para que os direitos da população sejam realizados. E o fato de ser oposição, dificulta realmente a aprovação de determinadas propostas legislativas. Por exemplo, uma série de projetos que apresentei para enfrentar o problema do uso intensivo de agrotóxicos no território do nosso Estado, que contamina solo, alimento e água. E esses projetos infelizmente acabam não avançando por conta da correlação de forças, que é desfavorável, por conta de um Governo que tem compromisso com o poder econômico.
VGN – Deputado as DREs já existiam na década de 80, não deram certo, e foram substituídas por assessoria pedagógica, que tinha cada uma em uma cidade, porém as DREs acumulam cidades, como, por exemplo, Barra do Garça onde a DRE responde por 19 municípios e não está dando certo. Muitos servidores estão retornando para as escolas mesmo com uma oferta de salário melhor. O senhor já recebeu reclamações da atuação das DREs, o senhor já recebeu algum relatório, como avalia essa mudança.
Lúdio Cabral - O atual Governo desmontou a Educação pública, todas as conquistas foram resultados de muita luta ao longo de décadas, a gestão Democrática, a legislação de carreira, com construção do Plano Estadual de Educação, a Educação de jovens e Adultos, todas essas, a formação profissional de trabalhadores da Educação, todas essas conquistas foram desmontadas no atual Governo, com uma lógica de um lado autoritária, de outro privatizante e as mudanças que estão acontecendo, elas são muito negativas.
As delegacias regionais são do tempo da ditadura, ainda, uma estrutura centralizada e inadequada. Antes das delegacias regionais essa esse Governo acabou com as assessorias pedagógicas, que estavam em cada um dos municípios do Estado de Mato Grosso para apoia as escolas estaduais. De outro lado, a privatização do material didático a um custo milionário, uma qualidade questionável.
A compra de pacotes ao invés de você fazer uma formação profissional continuada adaptada a nossa realidade com os quadros, que a Educação pública estadual tem, que tem muitos doutores, muitos mestres a com o conhecimento acumulado que a Unemat, que a UFMT tem. O Estado opta por contratar pacotes online de formação e sem a qualidade necessária e sem reconhecer as características próprias da Educação pública estadual e mais um movimento de natureza privativa.
VGN – Em Várzea Grande, a Escola Estadual Porfiria Paula de Campos, localizada no bairro Asa Bela, passará por um período de fechamento para obras de reforma e modernização. Os pais reclamam que seus filhos serão realocados para um bairro distante. Eles podem esperar do senhor fiscalização com acompanhamento do MPE, para não acontecer como em outras unidades de Cuiabá. Ainda sobre as obras, o Governo tem feito molduras na frente das escolas e não uma reforma que tanto é necessário. Segundo reclamações enviadas a redação, a impressão é que é para maquiar e enganar a população como se estivesse ocorrendo uma reforma.
Lúdio Cabral – A questão estrutural das escolas está muito precária, reformas de fachada, a história dos pórticos é um exemplo disso de que é um governo que faz reformas de fachada. Isso acontece na Saúde, acontece na Educação, com esse Esporte, com a ausência de planejamento na reforma e na construção de novas escolas. Muitas escolas sendo fechadas, sacrificando a vida das famílias trabalhadoras, em Várzea Grande isso aconteceu de forma muito nociva, com muita maldade e muitas escolas.
VGN – Reclamações do sistema de ponto (P Puntu) são constantes por parte dos professores que acabam sendo obrigados a fazer relatórios, ora fora do ar, ora indica outra localização. Gostaria de saber do senhor acompanhou quantos foram gastos com recursos, se recebeu reclamações, se já tomou alguma providência, considerando que o sistema é falho tecnicamente, não funciona, e, na prática, também não atende seguramente conforme os horários diferenciados dos professores.
Lúdio Cabral - O tal do web ponto que cria mais confusão, mais dificuldade, que não reconhece o fato, por exemplo, de professores terem que se deslocar por duas, três, quatro escolas para poder cumprir a sua carga horária. Outro exemplo de uma medida, ruim para o funcionamento da Educação, que coloca os trabalhadores da Educação em sofrimento mental, em dificuldade porque é o tempo todo tendo que justificar os erros do sistema.
VGN - A reforma da Escola Estadual Militar Tiradentes Tenente Coronel Louirson Rodrigues Benevides (antiga Nadir de Oliveira), localizada no Jardim Glória, em Várzea Grande, continua abandonada e coberta pelo matagal, além de servir como esconderijo para criminosos e outros propósitos. Orçada em mais de R$ 3 milhões, a obra mais uma vez enfrenta atrasos devido à empresa contratada não ter cumprido o contrato.
Em relação à escola estadual Adalgisa de Barros, que o Governo insiste em militarizar. O senhor avalia que há um contrassenso, considerando que abandonou o Tiradentes do Jardim Glória, não entregou os uniformes militares aos estudantes de baixa renda, e, quer a Adalgisa, sendo que ocupa o prédio do antigo Licínio há poucos metros da Adalgisa?
Lúdio Cabral - O processo de militarização das escolas estaduais assim também muito equivocado, se o Governo quer construir novas escolas e fazer a gestão militar é uma escolha de Governo. Posso discordar, mas é uma escolha de Governo. Agora, pegar escolas que tem bons indicadores, que tem bons resultados, tem uma boa uma boa gestão e militarizar. Escolas bem localizadas, centralizadas, com bons indicadores apenas para dizer que a militarização melhora é uma postura equivocada, porque não amplia e não melhora a qualidade da Educação, além de ser também uma medida autoritária.
Sem falar nas centenas de famílias e de trabalhadores e trabalhadoras que perdem e abandonam a escola. O exemplo da escola Licínio, que é o exemplo emblemático, do que aconteceu. Uma escola que tinha é um trabalho de qualidade, com Educação deJovens e Adultos, com a Educação de Imigrantes, de pessoas especiais, pessoas com deficiência, dos trabalhadores do comércio noturno de Várzea Grande, foi simplesmente fechada e militarizada. E dos mais de 1300 estudantes que essa escola tinha, 800 deixaram de estudar, porque não encontraram onde estudar depois disso. Só na Educação de Jovens e Adultos foram mais de vinte centros de Educação de Jovens e Adultos desativados em Mato Grosso.
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