A bancária Aline Ibanez, de 26 anos, começou um movimento espontâneo que atraiu críticas, elogios e a atenção da imprensa em Várzea Grande na última semana. Ao criar um grupo em um aplicativo de mensagens para reclamar da falta de água, Aline viu o movimento crescer exponencialmente e, de repente, as atenções se voltaram para as promessas de protesto na cidade.
Em entrevista ao , Aline comentou sobre a capilaridade do movimento e comentou como fez para não reforçar o lado "político" das manifestação. Segundo ela, as manifestações ocorreram porque a população tem acordado para o problema da água na cidade.
De acordo com ela, as manifestações são resultado da própria prefeita, Flávia Moretti (PL), que era muita assídua nas redes sociais e fez uma campanha com muitas promessas de solução do problema.
VGN - Aline, pode contar como começou a ideia de fazer protestos pela cidade por conta da falta de água?
Aline - Eu sempre fui do movimento estudandil. Então eu tenho um pouco disso de de ir até quem pode resolver problemas pontuais. E aí, até então, eu sabia que havia algumas questões sobre a água, mas eu não tinha me envolvido ainda, porque aquilo é aquele ditado, né? A gente espera bater na bunda. A Água bate na bunda. Eu via as notícias, mas não tinha feito nada ainda. E aí na quarta-feira da semana passada demorou para vir água lá em casa, eu achei que era algum problema com o pagamento. E na quinta-feira secou mesmo e não veio. Foi quando minha mãe se desesperou. E na hora eu pensei em criar o grupo e juntei outros moradores que estavam sem água.
VGN - Qual era a ideia inicial do grupo?
Aline - A nossa ideia era tentar ir lá na prefeitura e pedir alguma resposta de o que que estava acontecendo, até então eu não sabia o que estava acontecendo. Eu fiz o grupo quando era umas 8 da manhã e quando deu duas horas da tarde havia mais de 600 pessoas. Foi quando pensei: 'A coisa espalhou, eu vou ter que fazer alguma coisa'. No mesmo dia nós organizamos o movimento no Fiotão. Naquele momento, quase a gente desanimou porque tinham muitas pessoas no grupo, mas poucos compareceram.
VGN - E como foi esse primeiro protesto no Fiotão?
Aline - Foi engraçado porque no momento em que eu cheguei lá o vice-prefeito Tião chegou também. Eu desci do carro e fui correndo atrás dele. Falei para ele que a gente estava, perguntei se ele podia dar uma uma palavrinha com a gente no final. Tudo foi muito pacífico. Nenhum nós tentamos agredir, xingar, levantar bandeira política, era mais a questão de ser ouvido e querer explicações.
VGN - No segundo protesto, vocês também foram na Prefeitura, também em menor número, como foi lá?
Aline - Foi a mesma a percepção do do dia anterior, muita gente sofrendo com o mesmo problema, mas pouco engajamento da população ali no presencial, mas eu entendo totalmente alguns casos. Nós estávamos lidando com pessoas que estavam tomando água da chuva, porque não tinha a condição de comprar uma água mineral e a única água que estava vindo era essa. Qual que era a questão? A questão era lutar pelos que não podiam. Então, com o grupo, nós conseguimos ter noção de como era em outros pontos.
VGN - Como que você recebe essas críticas das redes sociais e de algumas pessoas que são aliadas da prefeita de que só está se fazendo manifestação agora e na época do antigo prefeito do Kalil Baracat não se faziam manifestações?
Aline - Eu acho que que cada cenário é um cenário. E estamos vivendo numa era digital, em que as notícias se espalham muito rápido. Mas eu acredito que de modo geral a população está acordando, não somente aqui, mas no Brasil todo. Como ela foi uma pessoa muito assídua na internet durante a campanha, ela será muito mais cobrada por este caminho. Teve problemas? Sempre teve. Na época de Kalil [Baracat], na época de Lucimar [Campos], de todos.
VGN - Você acredita que a prefeita seja mais cobrada porque prometeu mais?
Aline - Eu acho que muita gente era aliada da antiga gestão, tinha muitos aliados de Várzea Grande. Os vereadores tinham muito mais cargos, por muitos anos muitas pessoas estavam em seus cargos por conta da gestão, vai se arrastando. A pessoa está trabalhando, faz bem o trabalho, não há razão para ser trocada. Como teve muito corte de profissionais, tanto da parte da Prefeitura quanto da parte da Câmara, isso daí gerou um pouco de revolta. Quando veio essa troca de alguém que estava no poder há muitos anos gerou uma revolta.
VGN - Você entende que o grupo e a manifestação teve impacto político na imagem da prefeita?
Aline - Com certeza. Mas ás vezes soa um pouco hipócrita também. Não tem como a gente cobrar dela resolver o DAE em um mês ou dois meses. É hipócrita da parte de qualquer várzea-grandense dizer que ela tem que resolver. O movimento foi pelo colapso sim, nós levamos uma possível solução para eles que foi durante este tempo ter uma caminhão à disposição para destinar aos bairros mais afetados e eles atenderam de pronto. Outra coisa que estamos fazendo é mandando para eles os pontos de vazamento, que impede que a água chegue nas casas, até que chegue uma equipe que eles falaram que está vindo para dar apoio para o DAE.
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