A titular da Secretaria da Mulher de Cuiabá e tenente-coronel, Hadassah Suzannah, afirmou em entrevista exclusiva ao que o aumento de casos de violência em Mato Grosso tem aumentado devido à falta de conscientização e a desigualdade de gênero que perpetua na sociedade.
Há também as subnotificações, quando mulheres – especialmente de municípios menores – não denunciam a violência por vergonha, falta de confiança na região onde moram e por não saberem como relatar, fator associado à falta de redes de apoio.
“Muitas mulheres não denunciam por vergonha ou até mesmo por falta de confiança na região onde moram, ou por não saberem com quem falar, devido à falta de apoio dessa rede. Existem, portanto, muitos municípios que não dispõem dessa rede, o que faz com que a mulher não denuncie nem tome nenhuma medida”, explicou Hadassah.
Com a falta de apoio, muitas mulheres continuam a sofrer violência doméstica – especialmente destacando-se ao fato de que muitas vítimas não conseguem se afastar dos seus agressores, que normalmente são pessoas com que a vítima possui relação de intimidade.
Confira entrevista na íntegra:
VGN - Quais são os principais projetos e iniciativas voltados para mulheres em Cuiabá atualmente?
Hadassah - A Secretaria da Mulher tem direcionado seus esforços para a oferta de cursos em diversas áreas, com o objetivo de inseri-las no mercado de trabalho. Esses cursos estão sendo realizados na Secretaria da Mulher em parceria com o Senac. Além disso, a Secretaria da Mulher tem promovido, na primeira semana de cada mês, um mutirão de empregos, com a oferta de vagas na cidade e o direcionamento das mulheres para essas oportunidades. Também estamos realizando, nos bairros, ações sociais voltadas para as mulheres, como a que ocorreu no dia 12 de março na Praça Alencastro, com o objetivo de levar a estrutura e os serviços da Prefeitura para essas mulheres nas regiões periféricas.
VGN - Existe algum programa de acolhimento e suporte psicológico para mulheres vítimas de violência na cidade?
Hadassah - Hoje, a Secretaria da Mulher conta com o espaço de acolhimento do Hospital Municipal de Cuiabá, onde o atendimento é 24 horas. A mulher pode procurar esse espaço voluntariamente, caso precise de alguma informação ou ajuda. Além disso, ela também é frequentemente encaminhada por instituições como a Polícia Civil e pelo próprio hospital, quando identificam que a mulher chegou ao ambiente com algum tipo de lesão. O acolhimento também pode ser realizado na própria Secretaria, durante o expediente de segunda a sexta-feira. Estamos, ainda, ampliando esse atendimento para as unidades básicas de saúde, de forma que a mulher que mora na periferia também tenha um acesso mais fácil. É importante lembrar que a expansão para a periferia está sendo planejada em conjunto com a Secretaria Municipal de Saúde e as Unidades Básicas de Saúde.
VGN - Como podemos fortalecer a segurança pública e a conscientização social para prevenir crimes como o de Emelly Azevedo?
Hadassah - Eu entendo que o fortalecimento da Rede de Enfrentamento à Violência, composta pelo município e por diversas instituições, é uma das principais formas de enfrentamento. Outra forma essencial de fortalecimento é o trabalho de conscientização, que também é realizado pela Rede. Atualmente, ela atua na capital na conscientização, inclusive junto aos órgãos de segurança pública e às instituições responsáveis pelos primeiros atendimentos às mulheres. Por isso, é fundamental fortalecer essa Rede.
VGN - Os dados recentes mostram um aumento nos casos de violência contra a mulher e feminicídios em Mato Grosso. Quais fatores podem estar contribuindo para esse crescimento?
Hadassah - Voltamos a entender que a falta de conscientização é o ponto central, contribui também fatores culturais, que perpetuam a desigualdade de gênero e a violência doméstica. Entendemos também que há muita subnotificação; muitas mulheres não denunciam por vergonha ou até mesmo por falta de confiança na região onde moram, ou por não saberem com quem falar, devido à falta de apoio dessa rede. Existem, portanto, muitos municípios que não dispõem dessa rede, o que faz com que a mulher não denuncie nem tome nenhuma medida. Ela continua, assim, sendo vítima de violência doméstica de forma recorrente. É um problema complexo, e esses são alguns dos fatores que contribuem para o aumento da violência em Mato Grosso.
VGN - Como está a estrutura da rede de proteção às mulheres vítimas de violência na cidade? Há número suficiente de delegacias e casas de apoio?
Hadassah - Cuiabá, hoje, é referência para o Estado de Mato Grosso, pois é a cidade que mais dispõe dessa estrutura. Atualmente, temos delegacias especializadas no atendimento à mulher, diversas equipes treinadas na área de saúde para encaminhar essas mulheres para os espaços de acolhimento. Cuiabá também conta com a Casa de Amparo, que oferece acolhimento provisório e suporte psicológico para as mulheres, garantindo que fiquem protegidas e resguardadas. Além disso, o município conta com o Ministério Público, a Polícia Militar, por meio da Maria da Penha, a Defensoria Pública, entre outros órgãos e instituições. Embora haja muito a melhorar nessa rede, ela é resultado da luta incessante de um grupo de pessoas dedicadas, que buscam torná-la cada vez mais assertiva. Hoje, o município de Cuiabá, por meio da Secretaria da Mulher, está fortalecendo e ampliando a atuação dessa rede, e se colocando como um braço forte na defesa das mulheres.
VGN - Qual tem sido o perfil das vítimas de feminicídio? Há algum padrão identificado nos casos recentes?
Hadassah - Normalmente, a vítima tem uma relação de intimidade com o agressor, seja porque é parceiro ou ex-parceiro. Muitas dessas vítimas já trazem um histórico de violência, com relatos de agressão. Por isso, a Secretaria da Mulher tem envidado esforços para contemplar não apenas as mulheres vítimas de violência, mas todas aquelas que buscam autonomia financeira, independência emocional e psicológica. A Secretaria da Mulher tem direcionado seus esforços para oferecer capacitação e qualificação, a fim de possibilitar o retorno dessas mulheres ao mercado de trabalho. Através dos nossos mutirões, elas têm a oportunidade de retornar ao mercado de trabalho, com oferta de empregos, e até mesmo de empreender, ainda que em pequena escala, podendo contribuir para a renda dentro de casa.
VGN - Há apoio suficiente para crianças que testemunham ou convivem com a violência doméstica? Como isso impacta o futuro delas?
Hadassah - Hoje, o município trabalha por meio da Secretaria Municipal de Saúde, da Secretaria de Assistência Social e da Secretaria da Mulher, com o apoio de seus assistentes sociais, no sentido de monitorar as crianças que necessitam de apoio e que precisam ser afastadas do perigo. Essas crianças são devidamente encaminhadas para a Defensoria Pública e o Conselho Tutelar, pois elas necessitam, sim, da intervenção dos órgãos competentes para receber acompanhamento social e psicológico, a fim de lidar com a experiência traumática vivida. Portanto, se há impactos, são impactos significativos, trazendo dificuldades emocionais e problemas comportamentais. Atualmente, as escolas também estão sendo orientadas e direcionadas, com o suporte de profissionais capacitados, para identificar essas crianças que necessitam de suporte. Assim, o município tem buscado ampliar esse atendimento, sendo esta uma das medidas que já está em andamento.
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