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VGNJUR Quarta-feira, 09 de Novembro de 2022, 10:20 - A | A

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Caso Japão

Exames apontam danos psicológicos causados em mãe e irmão do agente morto por Paccola

Mãe e filho experimentam sofrimento emocional, condizentes com os sintomas esperados e naturais de um processo de luto

Edina Araújo/VGN

O Ministério Público de Mato Grosso (MPE) juntou na ação penal movida contra Marcos Paccola (Republicanos), por homicídio doloso que vitimou o agente penal, Alexandre Miyagawa de Barros, os Relatórios Psicológico e Social, produzidos pela equipe multidisciplinar do órgão, com a finalidade de analisar as possíveis repercussões do homicídio à saúde mental e qualidade de vida dos familiares da vítima.

Leia matéria relacionadaMãe de Alexandre Miyagawa quer Justiça e diz que Paccola estragou a vida da família

O caso foi direcionado à Coordenação do Núcleo de Defesa da Vida, que é um setor do Ministério Público do Estado de Mato Grosso, composto por uma equipe interdisciplinar, que atende as demandas das Promotorias de Justiça que atuam no Tribunal do Júri.
Consta dos autos, que a Coordenação Jurídico-administrativa do Núcleo de Defesa da Vida conversou com o irmão e a mãe da vítima, Gustavo Miyagawa dos Santos e Elia Miyagawa dos Santos – respectivamente, em 31 de agosto de 2022, em sala reservada e de forma individual.

“Durante os atendimentos psicológicos, utilizou-se a Anamnese Psicológica como ferramenta, tal instrumento tem como finalidade fornecer subsídios no momento da análise, colaborando com a verificação do nível de sofrimento do indivíduo, através do histórico de vida, sintomas apresentados e demais fatores do contexto atual”.

Consta ainda do relatório, que a análise do caso levou em consideração os relatos pessoais e os autos do processo, bem como se norteou pelo entendimento da Terapia Cognitivo-Comportamental – TCC, abordagem teórica e técnica do campo da Psicologia que compreende que, embora duas ou mais pessoas vivenciem a mesma situação, cada uma interpreta e apresenta reações emocionais, físicas e comportamentais particulares.

Segundo a equipe, a relevância desse estudo parte da compreensão de que o homicídio pode afetar os familiares da vítima em diversas áreas da vida: mental, física, familiar, social e espiritual. “De acordo com a literatura, mortes violentas podem gerar questões de saúde, problemas financeiros, dentre outras consequências graves, que repercutem na qualidade das pessoas próximas às vítimas e que necessitam ser vistas pelo Poder Público, a fim de que sejam garantidos os direitos”.

Ao analisar, a equipe aponta que Alexandre foi caracterizado como uma pessoa presente, afetuosa e atenta às necessidades das pessoas próximas, elementos que o tornavam uma importante figura de apoio na vida de seus familiares.

Consta do relatório que, ainda que Alexandre desempenhasse atividades laborais de risco (Agente de Segurança Socioeducativo), os familiares não conviviam com a sensação de perda iminente, portanto, não esperavam que ele fosse morrer de forma precoce e sob tais circunstâncias, dessa forma, o homicídio causou choque emocional, sobretudo por terem presenciado a cena dos fatos (corpo estirado ao chão e ensanguentado na pista de rolamento) e pelas proporções que o caso tomou.

“O caso analisado obteve grandes proporções midiáticas, desta maneira, Elia e Gustavo foram expostos a diversas situações invasivas, como a pedidos de depoimentos no momento do cortejo. A mídia pode atuar como fator de risco para a revitimização dos familiares da vítima, uma vez que as expõem a uma constante repetição dos fatos e possibilita que pessoas emitam múltiplas opiniões a respeito, por vezes, a índole da vítima pode ser questionada ou deturpada”.

Em relação aos aspectos emocionais dos familiares, a equipe destaca que ambos experimentam sofrimento emocional, condizentes com os sintomas esperados e naturais de um processo de luto.

“Elia se percebe mais sensível, chorosa e angustiada que o habitual, sente dificuldade em ficar sozinha, tem sensação de vazio e sente-se desesperada em determinadas situações. Gustavo tem se sentido mais triste, ansioso e cansado mais que o habitual, apresenta isolamento social, sentimento de raiva, estresse e preocupação em níveis elevados, bem como teve alterações no sono (insônia). Para além dos aspectos individuais, Gustavo e Elia também sofreram repercussões no sistema familiar, uma vez que os papéis familiares sofreram reajustes. Anteriormente, os dois irmãos partilhavam do sentimento de dever de cuidar da mãe e se dividiam nas tarefas em relação a ela. Após os fatos, Gustavo se tornou filho único e se percebe inteiramente responsável por suprir as necessidades emocionais da mãe. A longo prazo, esses fatores podem lhe gerar sobrecarga emocional, prejudicar seus relacionamentos interpessoais, bem como favorecer o desenvolvimento de transtornos mentais, se associados a outras vulnerabilidades. Por outro lado, Elia também se preocupa com o bem-estar de Gustavo, sobretudo no que diz respeito à sua integridade física. Depois da morte de Alexandre, ela passou a sentir medo de perder o único filho, consequentemente, adotou comportamentos com o objetivo de protegê-lo, como por exemplo, pedir para que ele evite sair de casa no período noturno e de frequentar determinados lugares” cita trecho do relatório obtido pela reportagem do .

O relatório aponta ainda, que os laços entre Elia e Gustavo se mostram fortalecidos, visto que possuem relação de cuidado e apoio mútuo, porém, cabe salientar que, a depender dos desdobramentos e das mudanças no contexto de vida, as fragilidades emocionais apresentadas após o homicídio, como o medo de que outro membro da família morra, podem causar prejuízos significativos ao bem-estar, à autonomia e aos relacionamentos interpessoais de ambos, uma vez que podem desenvolver dependência emocional.

“Por fim, vale destacar que a relação com a justiça pode ser um importante fator de revitimização no processo de luto da família, uma vez que esperam por uma resposta do Estado e vivenciarão uma trajetória em que necessitarão repetir os depoimentos sobre os fatos, especialmente o Gustavo, arrolado como testemunha” destaca.

Ao final, a equipe conclui que os familiares da vítima vivenciaram a perda de uma pessoa significativa e foram expostos a diversas situações traumáticas e até o momento, Elia e Gustavo apresentam características de um processo de luto saudável, no entanto, estão envolvidos em fatores estressores que, se somados a outras vulnerabilidades, podem favorecer o desenvolvimento de transtornos mentais, como: Transtorno de Estresse Pós-traumático, Transtorno Depressivo Maior (depressão), dentre outros.

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