Um estudo realizado no Parque Sesc Serra Azul, localizado no município de Rosário Oeste, no sudoeste de Mato Grosso, registrou a presença do cachorro-vinagre (Speothos venaticus), uma espécie rara e ameaçada de extinção. A pesquisa, publicada na revista Notas sobre Mamíferos Sul-Americanos, foi conduzida pela equipe de cientistas composta por Marcione Brito de Oliveira, Martha Lima Brandão, José L. Passos Cordeiro, Henrique Sverzut Freire de Andrade e Luiz Flamarion Barbosa de Oliveira.
O cachorro-vinagre, conhecido por sua sociabilidade e hábitos diurnos, é um dos canídeos mais raros e menos estudados da América do Sul. Apesar de sua ampla distribuição, que vai da Costa Rica até a Argentina, a espécie é considerada naturalmente rara e enfrenta sérias ameaças devido à perda de habitat e à fragmentação de ecossistemas. No Brasil, o cachorro-vinagre é classificado como Vulnerável na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção (MMA, 2022).
Registros inéditos no Parque Sesc Serra Azul
Os registros no Parque Sesc Serra Azul foram feitos por meio de câmeras armadilhas, que capturaram imagens e vídeos dos animais em diferentes momentos. O primeiro registro ocorreu em 12 de julho de 2013, quando quatro cachorros-vinagre foram observados forrageando juntos em uma área do parque. Os indivíduos apresentavam pelagem saudável, um indicativo importante, já que doenças como a sarna sarcóptica, transmitida por cães domésticos, têm sido uma ameaça significativa para a espécie.
Um segundo registro, em 19 de janeiro de 2021, documentou dois cachorros-vinagre ao amanhecer de um dia chuvoso. Um dos indivíduos, identificado como macho, foi visto marcando folhas com urina, um comportamento comum entre canídeos selvagens que desempenha um papel crucial na comunicação e na formação de vínculos entre pares.
Importância do Parque Sesc Serra Azul para a conservação
A pesquisa reforça a importância de áreas protegidas como o Parque Sesc Serra Azul, que abrange aproximadamente 5.000 hectares de Cerrado, um bioma sob intensa pressão devido à expansão agrícola. A vegetação variada do parque, que inclui pastagens, cerrado, florestas sazonais e áreas inundadas, oferece um refúgio crucial para espécies ameaçadas como o cachorro-vinagre.
Além disso, a presença de potenciais presas, como tatus (Dasypus novemcinctus), cutias (Dasyprocta azarae) e pacas (Cuniculus paca), também foi registrada na área de estudo. Esses animais representam até 90% da biomassa consumida pelo cachorro-vinagre em algumas regiões, destacando a importância de manter ecossistemas saudáveis para a sobrevivência da espécie.
Corredores ecológicos
Os pesquisadores alertam para a necessidade de criar corredores ecológicos entre áreas protegidas, especialmente ao longo de rios e florestas ripárias, para conectar habitats fragmentados e permitir o movimento seguro de espécies como o cachorro-vinagre. A degradação acelerada do Cerrado, impulsionada pela agricultura industrial, tem levado à perda de habitats e ao isolamento de populações, colocando em risco a biodiversidade regional.
Alerta para a conservação
Os registros no Parque Sesc Serra Azul não apenas confirmam a presença do cachorro-vinagre na região, mas também destacam a urgência de estratégias de conservação que protejam habitats críticos e promovam a coexistência entre a vida selvagem e as atividades humanas. A pesquisa serve como um alerta para a importância de preservar áreas naturais e investir em estudos que ajudem a entender melhor a ecologia de espécies raras e ameaçadas, como o cachorro-vinagre.
Com a crescente pressão sobre os ecossistemas brasileiros, iniciativas como essa são essenciais para garantir a sobrevivência de espécies icônicas e a manutenção da biodiversidade do país.
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