Um estudo realizado em Mato Grosso e publicado na Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil revelou que os municípios da macrorregião Norte do Estado apresentam um risco relativo cinco vezes maior de anomalias congênitas (AC) em comparação com outras regiões do Estado. A pesquisa, que analisou nascimentos ocorridos entre 2008 e 2019, aponta a alta concentração de agrotóxicos na região como um possível fator para o aumento desse risco.
O estudo, intitulado “Tendência e clusters de alto risco para a ocorrência de anomalias congênitas no Estado de Mato Grosso, Brasil (2008-2019)”, investigou a dinâmica espaço-temporal da prevalência de anomalias congênitas nos municípios do Estado.
O que são anomalias congênitas?
De acordo com os pesquisadores, as anomalias congênitas são malformações estruturais ou funcionais, que podem envolver distúrbios metabólicos, cromossômicos, gene único, herança multifatorial, teratógenos ambientais ou deficiência de micronutrientes. Elas podem ser identificadas antes ou durante o nascimento, ou ainda mais tarde na vida. As malformações congênitas referem-se a defeitos na formação dos órgãos ou partes do corpo.
Taxa de prevalência e dados do estudo
O estudo incluiu 4.207 casos de anomalias congênitas em Mato Grosso durante o período de pesquisa, resultando em uma taxa de 6,52 por 1.000 nascidos vivos. No Brasil, as anomalias congênitas são a segunda principal causa de morte entre menores de cinco anos.
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A pesquisa revelou que as anomalias congênitas têm uma distribuição desigual no Estado, com maior incidência nas regiões Oeste, Centro-Norte e Sul. No entanto, a macrorregião Norte se destacou, especialmente nos anos de 2016 e 2017, com um risco relativo cinco vezes maior de anomalias congênitas.
Fatores ambientais e o uso de agrotóxicos
A macrorregião Norte é uma das maiores produtoras de grãos e cana-de-açúcar de Mato Grosso e experimentou um aumento significativo na área plantada de soja, com crescimento de 49,41% entre 2003 e 2015. Esse aumento está associado ao uso intensivo de agrotóxicos, o que pode estar contribuindo para o maior risco de anomalias congênitas na região.
O estudo também destacou que a comercialização de agrotóxicos em Mato Grosso aumentou em 480,3% entre 2000 e 2016, superando o aumento da área plantada, que foi de 139,6% no mesmo período.
“A exposição a agrotóxicos está associada as anomalias congênitas, o que reforça a hipótese de que a exposição ambiental eleva a prevalência dessas condições, especialmente entre recém-nascidos de áreas rurais”, aponta a pesquisa.
Os dados utilizados no estudo foram extraídos do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e disponibilizados pela Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde de Mato Grosso (SES-MT).
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