Parte do dinheiro da propina paga pelas empresas envolvidas na Operação Carne Fraca era destinado à campanha eleitorais de partidos políticos, notadamente o PP e o PMDB. A informação foi divulgada pelo delegado da Polícia Federal, Maurício Grillo, em entrevista coletiva concedida em Curitiba.
“Está bem claro que uma parte do dinheiro da propina era revertido para partido político. Era destinado para campanha política”, afirmou o delegado. Questionado sobre os partidos que seriam beneficiados, respndeu: “No caso de dois partidos, PP e PMDB, era muito claro”. Grillo afirmou que não é ainda possível afirmar quanto foi repassado aos partidos nem quanto tempo durou esse esquema. “Nos dois anos da investigação era muito claro, mas não sabemos se havia antes.”
O delegado informou que ainda não é possível apontar o volume de propina movimentada pelo grupo. Nas buscas e apreensões, foi encontrado, por exemplo, um maço de dinheiro, no valor de R$ 65 mil, no bolso do casado de um superintende do Ministério da Agricultura. Os policiais encontraram dinheiro vivo na casa de vários fiscais suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção.
A Operação Carne Fraca, deflagrada nesta sexta-feira (17), investiga a venda ilegal de carnes por frigoríficos de seis Estados e do Distrito Federal. O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, é citado nas investigações. A Polícia Federal não apontou ilegalidade na conduta do ministro, que teve interceptada uma conversa telefônica com o superintendente do Ministério da Agricultura do Paraná de 2007 a 2016, Daniel Gonçalves Filho, que seria o líder da organização criminosa.
Então deputado federal pelo PMDB do Paraná, Serraglio ligou para o superintendente em fevereiro do ano passado para obter informações sobre o frigorífico Larissa, de Iporã (PR), de Paulo Roberto Sposito, que foi candidato a deputado federal por São Paulo em 2010.
“Grande chefe, tudo bem? Viu, tá tendo um problema lá em Iporã, cê tá sabendo? O cara que está fiscalizando lá apavorou o Sposito, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico… botou a boca. Deixou o Paulo apavorado”, afirmou Serraglio ao telefone. Gonçalves entrou em contato com o fiscal da área para ser informado sobre o ocorrido. Informado de que não haveria nada de errado na empresa, o superintendente passa a informação a Serraglio.
Carne Fraca - A operação foi deflagrada na manhã desta sexta (17.03), pela Polícia Federal, com o objetivo de desarticular organização criminosa liderada por fiscais agropecuários federais e empresários do agronegócio. A operação detectou, em quase dois anos de investigação, que as Superintendências Regionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do Paraná, Minas Gerais e Goiás atuavam diretamente para proteger grupos empresariais, em detrimento do interesse público.
Aproximadamente 1100 policiais federais estão cumprindo 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão, em residências e locais de trabalho dos investigados e em empresas supostamente ligadas ao grupo criminoso, números que fazem desta a maior operação já realizada pela PF em toda sua história. As ordens judiciais foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba/PR e estão sendo cumpridas em sete Estados: São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás.
Os agentes públicos, utilizando-se do poder fiscalizatório do cargo, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva.Dentre as ilegalidades praticadas no âmbito do setor público, denota-se a remoção de agentes públicos, com desvio de finalidade para atender interesses dos grupos empresariais. Tal conduta permitia a continuidade delitiva de frigoríficos e empresas do ramo alimentício que operavam em total desrespeito à legislação vigente.
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