Após a reunião de quase cinco horas da presidente Dilma com 27 governadores e ministros, quatro dos cinco governadores escalados para representar cada região do país defendeu a governabilidade. Somente Geraldo Alckmin (PSDB-SP) não manifestou apoio à governabilidade, e disse que esse assunto não entrou na discussão.
Após o encontro, o governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB), representante da Amazônia Legal, defendeu claramente a “manutenção do mandato” da presidente Dilma. Ele disse que os governadores trataram da crise política:
— Uma síntese do que foi tratado por nós foi a preocupação com a agenda política. A defesa clara e inequívoca da estabilidade institucional, da ordem democrática, do Estado de direito e contra qualquer tipo de interrupção das regras constitucionais vigentes. Portanto, a manutenção do mandato legítimo da presidente Dilma Rousseff que foi eleita para cumpri-lo — afirmou o governador maranhense, representando a Amazônia Legal.
Ricardo Coutinho (PSB-PB), que representava o Nordeste, falou da importância de evitar a instabilidade política:
— O país não pode permanecer, a partir de uma instabilidade política, gerando uma instabilidade econômica, porque o setor produtivo pensa duas, três, quatro vezes em investir sem saber como será o dia de amanhã. Então, para todos, é importante que se resgate a estabilidade, garantindo a governabilidade para quem foi eleito. Como nós governadores, a presidente Dilma foi eleita — declarou.
O governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), que representava a região Sudeste, negou qualquer discussão sobre a permanência de Dilma na presidência:
— Isso não foi tema da reunião nem está em discussão. Não há nenhuma discussão em relação a isso (mandato da presidente). Nós defendemos o quê? Investigação, investigação, investigação e cumprir a Constituição. Nosso dever é cumprir a Constituição — disse Alckmin.
RETOMADA DE INVESTIMENTOS
Apesar dos governadores Flávio Dino (MA), Ricardo Coutinho (PB) e Jackson Barreto (SE) terem feito discursos em defesa do mandato de Dilma, partiu dos governadores petistas Wellington Dias (PI), Camilo Santana (CE) e Rui Costa (BA) as cobranças mais duras sobre a necessidade de retomada dos investimentos, via empréstimos dos bancos oficiais e BNDES, para geração de empregos.
— Está tudo parado, temos que retomar esses investimentos — reclamou o governador Wellington Dias.
A avaliação dos governadores de oposição que participaram do encontro com a presidente é que foi mesmo algo “para tirar uma fotografia”, já que ela não apresentou nada de concreto de interesse aos estados. Os governadores concluíram que foi positivo porque aproveitaram para colocar uma pauta de reivindicações que tem como mote a retomada dos investimentos e financiamentos dos bancos públicos para obras de infraestrutura e criação de empregos.
— Foi um momento importante de diálogo, mesmo porque há muito tempo a presidente não se reúne com os governadores. Nesse momento de crise política foi uma boa oportunidade para passar a limpo uma agenda propositiva para o país — disse o governador de Goiás, Marconi Perillo.
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), considerou a reunião “boa” e citou dois avanços para os estados: promessa de liberação de crédito e a unificação das alíquotas do ICMS, com a criação de um fundo de compensação.
— Achei a reunião boa. Ela pediu que os governadores sejam solidários com o superávit primário, porque ela vai abrir crédito para os governadores, principalmente para os que já estavam com operação contratada.
Ainda de acordo com Pezão, todos estão preocupados com o aumento dos gastos públicos:
— Todos os governadores estão preocupados com o aumento do Judiciário, da Previdência. Impacta diretamente no caixa de todo mundo.
LEVY RECLAMA DE 'APANHAR SOZINHO'
Parte dos governadores saiu frustrada da reunião Dilma, afirmando que a conversa não esteve à altura da crise política e econômica por que passa o país. Eles também esperavam medidas imediatas para as demandas dos estados.
- Foi muito chato, o mesmo discurso de sempre. Vir falar de acidente de trânsito e sistema prisional em uma crise como essa? - disse um governador não alinhado ao Planalto.
Os governadores esperavam ainda que a presidente anunciasse, por exemplo, a sanção do projeto que permite a estados e municípios o uso, como receita, de parte dos depósitos judiciais.
As demonstrações de insatisfação não foram exclusivas dos governadores. Um dos presentes afirmou que o ministro Joaquim Levy (Fazenda), após brincadeira feita por Dilma, reclamou de não ser defendido dos ataques sofridos por conta do ajuste fiscal e dos cortes no Orçamento.
- Mas eu estou apanhando sozinho - disse o ministro, de acordo com um dos governadores, sem ser ouvido pela presidente.
A presidente havia acabado de contar que o governador de Rondônia, Confúcio Moura (PMDB), lhe disse que faz ajuste fiscal diário, porque tem uma superintendente que controla diariamente os gastos do estado.
- Vejo o riso no rosto do Joaquim Levy - brincou Dilma.
CUNHA CONTESTA EXPLICAÇÕES DE DILMA
Convertido formalmente à oposição ao governo desde que foi acusado de cobrar propina de US$ 5 milhões para viabilizar um contrato com a Petrobras, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rebateu nesta quinta-feira explicações da presidente Dilma Rousseff a governadores de todo o Brasil sobre a situação econômica no país.
Cunha afirmou que houve “erro de política” por parte do governo e que aspectos que influenciaram as contas nacionais já apresentavam, na época da campanha eleitoral de 2014, a mesma configuração de hoje. No encontro, Dilma havia afirmado que a conjuntura econômica era “bem mais favorável” durante a campanha do que agora, e citou uma série de fatores externos como justificativa para o quadro interno atual, como o “o colapso do preço das commodities”.
— Não acho que o problema esteja simplesmente no preço das commodities. As commodities caíram, mas o dólar subiu bastante. A queda real de remuneração da commoditie, na realidade foi de uns 20%. Isso não é causador. Talvez o Brasil tenha errado porque está sem produtos competitivos e com pauta de exportação volumosa muito restrita às commodities. Isso é um erro de política. Os preços das commodities e essa situação toda não aconteceu agora, já estava na campanha eleitoral daquele jeito — disse.
O presidente da Câmara também atribuiu a alta da inflação a equívocos do governo, como a mudança nas tarifas de energia elétrica, afirmando que não se pode culpar a conjuntura internacional por isso.
— A causa da inflação são os preços administrados pelo governo, principalmente a energia elétrica, que gerou toda essa confusão no setor elétrico. O governo é que errou e de certa forma o erro foi pago na forma de inflação. Isso não é culpa de conjuntura internacional – afirmou.
Hoje, o peemedebista se viu obrigado a remarcar encontro previsto para a noite de segunda-feira com seus apoiadores para não competir com evento de Dilma, que convocou líderes de partidos aliados para um jantar no mesmo dia, sem convidar o presidente da Câmara.
Para Cunha, nem mesmo o pagamento de R$ 717,4 milhões em emendas parlamentares autorizado nesta quinta-feira pela presidente deve melhorar o clima do executivo com o Congresso.
— É normal liberar, se não fizesse isso é que poderia dar uma revolta na base. Não é isso que vai adoçar, isso é cumprimento de um compromisso – disse.
Para o peemedebista, há mais fatores pesando contra o governo, como a baixa popularidade da presidente, a redução na arrecadação e o aumento da taxa de desemprego, do que a favor.
– Tem uma série de fatores que terão de ser levados em consideração nesse semestre: tem queda de popularidade, deficit nominal do primeiro semestre recorde, que mostra o descontrole das contas, uma baita redução da arrecadação tributária que tem impacto nos estados e municípios, aumento da taxa de desemprego... Pelo contrário, os parlamentares estão indo para suas bases e vendo o problema que está. Estou com movimentos do impeachment acampado na minha porta aqui. No meu escritório do Rio, todos os professore estão lá em greve nas universidades federais. É uma convulsão generalizada de todos os problemas. Isso tudo não é um clima bom – afirmou.
CONVERSA NÃO ESTEVE À ALTURA DA CRISE
Parte dos governadores saiu frustrada da reunião Dilma, afirmando que a conversa não esteve à altura da crise política e econômica por que passa o país. Eles também esperavam medidas imediatas para as demandas dos estados.
— Foi muito chato, o mesmo discurso de sempre. Vir falar de acidente de trânsito e sistema prisional em uma crise como essa? — disse um governador não alinhado ao Planalto.
Os governadores esperavam ainda que a presidente anunciasse, por exemplo, a sanção do projeto que permite a estados e municípios o uso, como receita, de parte dos depósitos judiciais.
As demonstrações de insatisfação não foram exclusivas dos governadores. Um dos presentes afirmou que o ministro Joaquim Levy (Fazenda), após brincadeira feita por Dilma, reclamou de não ser defendido dos ataques sofridos por conta do ajuste fiscal e dos cortes no Orçamento.
— Mas eu estou apanhando sozinho — disse o ministro, de acordo com um dos governadores, sem ser ouvido pela presidente.
A presidente havia acabado de contar que o governador de Rondônia, Confúcio Moura (PMDB), lhe disse que faz ajuste fiscal diário, porque tem uma superintendente que controla diariamente os gastos do estado.
— Vejo o riso no rosto do Joaquim Levy — brincou Dilma.
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