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Entrevista da Semana Sábado, 21 de Dezembro de 2024, 15:00 - A | A

Sábado, 21 de Dezembro de 2024, 15h:00 - A | A

entrevista da semana

Presidente da Associação de Cabos e Soldados cita falta de efetivo e afastamentos: "A tropa está doente"

O sargento disse que o baixo efetivo atual de Mato Grosso, tem agravado pelas iminentes aposentadorias.

Gislaine Morais/VGN

O sargento da Polícia Militar e presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros de Mato Grosso, Laudicério Machado afirmou em entrevista exclusiva ao , que falta de efetivo na segurança pública do Estado de Mato Grosso pode resultar em consequências irreparáveis, incluindo a perda de vidas de cidadãos. Segundo ele, um impacto devastador e incalculável. "A segurança pública não deve ser avaliada apenas em termos de custos financeiros, mas pela proteção e preservação da vida humana, que é inestimável", salientou.

Também presidente do Conselho Fiscal da Federação Nacional de Praças, Laudicério ressaltou que a convocação de somente 245 policiais não chega nem perto do ideal. Ele também comentou sobre o número de afastamentos de policiais por transtornos mentais e comportamentis e comentou que atualmente a PM conta com apenas dois psiquiatras: "A tropa está doente tanto física quanto mentalmente diante deste cenário", declarou ao comentar sobre a guerra contra as facções.

Confira entrevista na íntegra:

VGN - Em relação ao número de policiais na corporação. Acredita que atualmente haja um déficit de policiais militares em Mato Grosso?

Laudicério Machado - Sim, há um consenso de que esse problema existe e precisa ser abordado com planejamento contínuo. É essencial uma continuidade anual de cursos de formação para novos policiais, o que não só ajudaria a suprir a falta de efetivo, mas também garantiria que a corporação estivesse atualizada com as melhores práticas de segurança. Além disso, existem candidatos no cadastro reserva do último concurso à espera de convocação, e seria estratégico integrar esses indivíduos ao efetivo em 2025, especialmente considerando que a última turma foi formada em setembro de 2023.

VGN - Em novembro o Governo convocou 245 policiais, a categoria se manifestou e alegou que formar 245 seria o mesmo gasto para formar 650 na Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Praças. Como o senhor avalia esse posicionamento do governador Mauro Mendes?

Laudicério Machado - Convocar apenas 245 novos policiais não chega nem perto do ideal, especialmente quando se considera a população crescente, as grandes distâncias entre cidades, e o baixo efetivo atual de Mato Grosso, agravado pelas iminentes aposentadorias. A posição do governador Mauro Mendes de limitar a convocação não leva em conta o impacto potencial de um ajuste fiscal, proposto pelo ministro da Economia, Haddad, que introduz uma idade mínima de aposentadoria para militares estaduais. Isso poderia resultar numa evasão de quase 40% da tropa, pois muitos buscarão aposentadoria proporcional. Se essa evasão se concretizar, a segurança pública em todos os Estados está em risco de entrar em verdadeiro caos, o que representa uma séria ameaça tanto para a ordem pública quanto para a proteção dos cidadãos.

VGN - O Governo anunciou nos últimos dias, o programa Tolerância Zero. Contudo, essas ações já poderiam estar em andamento nesses seis anos de mandato do governador. Como avalia o programa e a criação de nova Secretaria? Não seria mais gasto? Os valores não seriam compatíveis para chamar o restante da categoria?

Laudicério Machado - O programa Tolerância Zero é uma iniciativa positiva, pois busca trazer segurança a áreas onde o aumento da criminalidade, especialmente devido à atuação de facções, é alarmante. No entanto, é crucial que os militares que estarão na linha de frente, enfrentando situações de risco e até mesmo arriscando suas vidas, sejam devidamente valorizados.

VGN - Quais as consequências da falta de efetivo para a segurança pública? Como a falta de policiais afeta a atuação da PM no combate ao avanço das facções criminosas?

Laudicério Machado - A falta de efetivo na segurança pública pode resultar em consequências irreparáveis, incluindo a perda de vidas de cidadãos, um impacto devastador e incalculável. A segurança pública não deve ser avaliada apenas em termos de custos financeiros, mas pela proteção e preservação da vida humana, que é inestimável.

VGN - Esses intensos combates contra facções sobrecarregam de alguma maneira o trabalho desses policiais no quesito físico ou até mesmo mental?

Laudicério Machado - Sim, a tropa está doente tanto física quanto mentalmente diante deste cenário. No entanto, é importante destacar que os Comandos Regionais estão implantando Coordenações de Assistências Sociais, com psicólogos, assistentes sociais, e atualmente o quadro de oficiais médicos da PMMT inclui dois psiquiatras, demonstrando esforços tanto institucionais quanto do governo para apoiar a saúde mental dos policiais.

VGN - Atualmente, o senhor sabe qual é o número de policiais afastados por atestados médicos em Mato Grosso? Se sim. Quais são os principais motivos de afastamento de policiais por questões de saúde?

Laudicério Machado - Não tenho acesso aos dados oficiais atuais sobre o número de policiais afastados por atestados médicos em Mato Grosso. Contudo, como uma entidade representativa de classe com milhares de associados da PM e do Corpo de Bombeiros, percebemos que as intervenções que fazemos são significativas e preocupantes, abrangendo desde tentativas de suicídio até sobrecargas de trabalho que resultam em saúde mental e física debilitada. Em meu doutoramento, concluído em 2016, pesquisei junto à Perícia Oficial do Estado e, ao analisar um período de cinco anos, constatei que mais de 50% dos afastamentos de profissionais militares da PM e Bombeiros estavam relacionados à classificação "F" dos CID, que refere-se a transtornos mentais e comportamentais.

VGN - Qual a sua avaliação sobre o trabalho realizado pelo deputado estadual Elizeu Nascimento, atualmente o único representante da PM na Assembleia Legislativa. Segundo o jornal A Gazeta, o irmão de Elizeu se deixou fotografar com faccionados. Além disso, o parlamentar costuma ter uma postura pró-Governo, com raras aparições públicas cobrando o governador para melhorar subsídios ou para melhorar o efetivo com o chamamento de novos concursados.

Laudicério Machado - Ele tem e sempre terá o meu respeito, pois sua história de luta fala por ele, quem considero um homem de bem. Quanto à situação envolvendo o irmão do deputado Elizeu Nascimento, não me recordo de ter visto a matéria ou checado sua veracidade. Contudo, é importante destacar que a atuação do deputado Elizeu Nascimento na aprovação da LOB no último dia 18/12/2024 foi crucial, pois sua intervenção evitou que a situação ficasse ainda pior para os militares, restaurando alguns direitos que haviam sido retirados. Presenciei seu posicionamento sendo apoiado pelos demais deputados, o que foi fundamental para que a luta por melhores condições avançasse, apesar de ainda não termos conquistado tudo. Por isso, reconheço e parabenizo o deputado pelo seu trabalho.

VGN - Sobre o polêmico projeto de câmeras de segurança nas fardas dos policiais, proposta pelo deputado Wilson Santos. O presidente da Assembleia, Eduardo Botelho e alguns deputados são contra. Qual o posicionamento do senhor em relação à implementação de câmeras nas fardas dos policiais em Mato Grosso?

Laudicério Machado - Sou totalmente contra a implementação de câmeras nas fardas dos policiais em Mato Grosso. A principal inquietude reside no fato de que não há nenhum movimento para implementar medidas semelhantes nas demais carreiras, criando uma percepção de desigualdade e desconfiança específica em relação à atuação policial.

VGN - O senhor acredita que a instalação de câmeras nas fardas poderia melhorar a transparência ou inibir os trabalhos dos policiais?

Laudicério Machado - Acredito que a instalação de câmeras nas fardas dos policiais não só inibiria o trabalho como potencialmente revelaria técnicas de combate ao inimigo. Somos uma instituição transparente, com meios de correição robustos e eficazes, como a Justiça Militar e a Corregedoria, que garantem a integridade e a responsabilidade nas ações policiais. Muitas vezes, iniciativas como a instalação de câmeras são mais sobre criar palcos e pirotecnia do que efetivamente melhorar a segurança e a eficácia do trabalho policial.

VGN - O senhor defendeu, em mais de uma oportunidade, policiais militares envolvidos na execução de pessoas sem julgamento, alvos da Operação Simulacro. 17 policiais foram denunciados pelo MPMT em junho deste ano. Na sua avaliação, o uso da execução sumária é uma solução eficiente no combate às facções?

Laudicério Machado - O que fizemos foi disponibilizar suporte jurídico para que os militares associados possam se defender durante o processo, garantir que tudo tramite na legalidade e que os militares tenham amparo. Não fazemos julgamentos, até porque há muitos casos de pessoas acusadas que, por fim, foram consideradas inocentes.

VGN - Qual sua avaliação sobre a escolha do Coronel Mendes. Após sua saída, o governador lançou um programa prometendo endurecer contra o crime organizado. Nesse contexto, qual a leitura que a tropa faz sobre a saída do comandante e como o senhor avalia o trabalho dele à frente da PM?

Laudicério Machado - Essa é uma decisão institucional do governador. É dele a prerrogativa de nomear ou exonerar o comandante. Reconheço o trabalho do ex-comandante coronel Mendes e tenho uma boa relação com o atual Cláudio Fernando Carneiro Tinoco.

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