O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa, Assistência e Extensão Rural do Estado de Mato Grosso (Sinterp), Gilmar Brunetto, enfrenta aquilo que classifica como "fundo do poço" na Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer). Em um cenário marcado pelo desinvestimento, tentativas de venda do patrimônio e descaso com a agricultura familiar, Brunetto afirma que o mais afetado é a população do Estado, que hoje está cada vez mais dependente de importações para comprar alimentos essenciais na alimentação.
Sem apoio à agricultura familiar, Mato Grosso importa mais de 80% de alguns produtos básicos, como feijão, frutas, derivados do leite e de suíno. Apenas de farinha de mandioca, produto que poderia ser facilmente produzido aqui, Mato Grosso importa 95% do que consome.
Com a população rural envelhecendo e a maioria dos pequenos agricultores arrendando terras para a "agricultura empresarial", o presidente do Sinterp vê um cenário devastador para o campo em Mato Grosso.
VGN - Gilmar Brunetto, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa, Assistência e Extensão Rural do Estado de Mato Grosso (Sinterp). Qual sua avaliação sobre a situação atual em que vive a Empaer?
Gilmar Brunetto - Chegou no fundo do poço. Começou quando no ano passado quando exoneraram o o ex-presidente Ronaldo Loff. Eles exonerar assim, vamos dizer: 'vai para casa', de uma forma muito assim desrespeitosa aí. Daí entrou o Suelme ex-secretário da Seaf no governo Pedro Taques. E na gestão dele na Seaf, ele não fez nada pela Empaer, absolutamente nada na época porque tinha uma disputa por poder com o presidente da época. Ele assumiu e nós até depositamos uma certa confiança por conhecer a Agricultura Familiar, mas infelizmente lembro o que o Deputado Wilson Santos colocou, de que que ele seria o coveiro da Empaer, ele não está sendo ainda, mas ele ajudou.
VGN - Eu queria que você explicasse que processo é esse e qual que é a grande reclamação dos Servidores?
Gilmar Brunetto - Hoje nós servidores temos um compromisso com a agricultura familiar do Estado de Mato Grosso, um compromisso assim sacerdócio dos extensionistas com esta atividade e o que vemos hoje é um sucateamento da Empaer. Nós hoje temos no Estado 324 servidores no total dos quais apenas 220 atua diretamente com o pequeno produtor. Se compararmos por exemplo, o Distrito Federal tem 15 escritórios, e a mesma quantidade de profissionais que a Empaer Mato Grosso tem. Então está claro o descompromisso deste Governo com a agricultura familiar que nunca esteve numa situação tão crítica igual agora.
VGN - E que situação é essa da agricultura familiar?
Gilmar Brunetto - Dos 140 mil agricultores, nós temos mais de 113 mil vulneráveis agricultores vulneráveis, o que que é agricultor? Vulnerável é aquele que não consegue acessar as políticas públicas, principalmente o crédito. Porque ele não tem o CAR, o Cadastro de Ambiental Rural, ele não tem autorização prévia de funcionamento, sem esses dois ele não consegue acessar o crédito. Por falta deste apoio governamental as áreas principalmente de um tamanho acima de 100 hectares 150 e 200 hectares, no Baixo Araguaia, no Nortão, aqui em Rondonópolis, estão sendo arrendadas para o plantio de soja, milho e algodão. O produtor desmata que pode dentro da legislação, vamos dizer que ele arrendou 50 hectares, ele ganha 10 sacas por hectares, são 500 sacas de soja, ele passa a ter uma rendinha. Porém porém a maioria desses agricultores, além de serem vulneráveis, são agricultores acima de 60 anos. O que que vai acontecer com esse agricultor? Ele seguramente vai vender essa propriedade para aquele que está arrendando e que é da Agricultura Empresarial.
VGN - Essa perspectiva tem algum efeito para a economia do Estado?
Gilmar Brunetto - Mato Grosso importa hoje mais de 80% das frutas, verduras, legumes e até derivados de leite e suíno e pasme: importa 95% da farinha de mandioca consumida aqui no estado. Veja o caos que chegou. O feijão, a melancia, o tomate, o jiló, o quiabo, o abacaxi, batata doce, o mamão, o maracujá, todo esses produtos faltam na produção agrícola do estado. Você vai numa propriedade, num assentamento, aonde o agricultor arrendou a propriedade dele para a soja, mas a soja tem um protocolo de produção, ela exige muito nutrientes e muitos defensivos, ao aplicar os inseticidas e os herbicidas a praga vai para as lavouras do pequeno produtor. Tudo isso tem a ver com esse descaso do Governo com a assistência técnica e a extensão rural.
VGN - Qual seria a importância da Extensão Rural para esses produtores?
Gilmar Brunetto - É um processo educativo onde nós extensionistas, não vamos lá para cuidar da doença do porco, da doença da galinha, da doença de uma cultura... O extensionista vai lá para ver a propriedade como um todo, para ver a família como um todo, a assistência técnica é o que o Senar faz, ele vai lá, pega o produto e não quer saber do restante.
VGN - Em relação ao CAR, qual seria a solução para os pequenos agricultores?
Gilmar Brunetto - Alguns agricultores, por exemplo aqui há 30 km de Cuiabá, que tentaram fazer o CAR se deram mal porque eles se autodenunciaram. Porque, ao fazer o CAR, foi constatado desmatamento depois de 2008 e alguns receberam multa acima de 60 mil reais. O que nós propomos ao vice-governador Pivetta e que não foi atendido é que esses pequenos produtores tivessem acesso ao crédito e parte desse dinheiro fosse destinado ao pagamento das multas.
VGN - Do ponto de vista da pesquisa como está a situação hoje da Empaer?
Gilmar Brunetto - Vamos citar o Centro Regional de Pesquisa de Cáceres, queatendia toda aquela região e lá por exemplo foi lançada, foi validada e lançada, a variedade Banana-da-terra-anã. Só o município de Cáceres tem lá hoje 5.000 plantas de banana, veja o impacto que isso deu. Vai dar uma renda de 5 milhões no ano, dinheiro que vai entrar no município de Cáceres através dos agricultores. Esta área está abandonada e eu estou convidando os deputados para fazer uma visita. A Unemat solicitou, em uma articulação que nós fizemos, mas não foi para frente porque a área não era regularizada, porque o interesse era de uma rede hoteleira implantar uma pousada, então hoje a área está abandonada.
VGN - Até o momento quantas propriedades da Empaer já foram vendidas pelo Estado?
Gilmar Brunetto - Até agora foi vendida a área de Novo Horizonte Do Norte, e me parece que não recebeu. Ela foi vendida por R$ 2,8 milhões. Uma outra que é um filé mignon, que é o Campo experimental de Tangará da Serra, onde se desenvolveu a pitaya e se desenvolveu a cultura do café, da mandioca e outras, são 315 hectares. Eles tentaram vender vender parte da área e o nosso Sindicato impediu. Primeiro, eu pedi vista, me negaram vista, eu entrei na Justiça e isso atrapalhou. Nós articulamos com a Prefeitura de Tangará da Serra e a Prefeitura requereu a área. Agora a Prefeitura tem o compromisso de fazer o que o Estado deixou de fazer.
Gilmar Brunetto - Nós defendemos que, desta área 145 hectares que seria vendida seja totalmente reflorestado num projeto de sequestro de carbono. O córrego São José, que passa na área, é uma das nascentes do Sepotuba. Além disso, aquela é uma região que contribui com 30% das águas que vão para o Pantanal, então se você matar as nascentes de Tangará, você mata o Pantanal.
VGN - Na região de Várzea Grande, qual tem sido o impacto dessa política de "sucateamento", como o senhor afirma, na Empaer?
Gilmar Brunetto - Em Várzea Grande tinha uma estrutura com nove laboratórios. Uma estrutura enorme com 75 salas. No ano passado, o vice-govvernador foi lá com o com o presidente da Assembleia e fez um compromisso de ativar aquilo. Para surpresa nossa, ele destruiu tudo, acabou. E nós estamos em busca de onde foram os equipamentos que lá estavam.
Acabou laboratório de solo, laboratório de produção de fungo, laboratório de fitopatologia, laboratório para produção de mudas, laboratório de nutrição animal, eram nove, acabaram com tudo.
VGN - Ao que o senhor atribuiu o fim desse centro em Várzea Grande?
Gilmar Brunetto - Isso aconteceu para passar para a iniciativa privada. Uma análise de solo hoje na iniciativa privada custa no mínimo R$ 130, o agricultor familiar Empaer pagava entre 30 a 35 por análise de solo. A análise de soja hoje para um agricultor familiar é como um exame de sangue, é básica para a agricultura.
Em Mato Grosso isso é muito mais problemático. Em Santa Catarina, que tem 295 municípios, a empresa de extensão rural, tem convênio com 293 municípios.
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