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Entrevista da Semana Sábado, 28 de Dezembro de 2024, 15:00 - A | A

Sábado, 28 de Dezembro de 2024, 15h:00 - A | A

"Enquanto mais falamos de Saúde mental, mais pessoas buscam ajuda", diz psiquiatra

Lázaro Thor/VGN

A psiquiatra Maria Elisa Orro Junqueira comentou, em entrevista ao #VGN, que quebrar o tabu sobre saúde mental é essencial para que mais pessoas tomem coragem para buscar ajuda, superando o sofrimento silencioso que muitas vezes oprime pacientes.

Ao comentar sobre a dificuldade que muitos homens enfrentam de procurar ajuda psicológica ou psiquiátrica, Maria Elisa ressalta que falar sobre o assunto é o melhor caminho para deixar as pessoas mais confortáveis. A profissional lembra também, sobre medicalização e sobre instrumentos para vencer a solidão no final do ano, um período marcado pelas reuniões familiares.

Confira a entrevista na íntegra:

VGN - Fale um pouco sobre você, sua formação profissional, e porque escolheu a psiquiatria como profissão e quais são suas perspectivas de futuro dentro deste meio profissional.

Sou uma pessoa que gosta muito de aprender coisas novas e de crescer como ser humano e trago minhas vivências e tudo que a ciência traz de comprovação para ajudar as pessoas que me buscam com algum tipo de sofrimento! Me formei em 2016 em Medicina pela Universidade de Cuiabá-Unic. No mesmo ano, entrei na residência médica de Psiquiatria pelo SUS-SP no Hospital Luzia de Pinho Melo em Mogi das Cruzes - SP onde estive em formação por 03 anos. Tive a oportunidade de fazer estágios no Hospital das Clínicas da Usp - IPQ em psicogeriatria, ambulatórios de Transtorno de Personalidade e Transtornos de Humor.

Quanto a minha experiência prática, já fiz parte do Corpo Clínico do Hospital Luzia de Pinho Melo em Mogi das Cruzes- SP como psiquiatra assistente, parte do corpo clínico do Pronto Socorro Municipal da Lapa vinculado ao Hospital das Clínicas da USP também como psiquiatra assistente e psiquiatra assistente pela rede Amil em São Paulo. Em Cuiabá fiz parte do corpo clínico como psiquiatra no Hospital Adauto Botelho, no Caps Adolescer e no ambulatório do HMC.

Atualmente moro em São Paulo mas continuo artendendo meus pacientes de Cuiabá e de várias partes do Brasil e do mundo por telemedicina. Escolhi a psiquiatria pois acredito que o estado da nossa mente e das nossas emoções regem nossa vida e o nosso corpo físico e gosto de ajudar as pessoas em seus processos individuais de cura, ressignificação de traumas e melhora na qualidade de vida!

Espero continuar podendo disseminar mais a respeito da importância do cuidado com a saúde mental de diversas maneiras e em diferentes cenários e continuar aprendendo com experiências enriquecedoras que a vida o mundo podem me proporcionar.

VGN - Questões de Saúde Mental estão cada vez mais deixando de ser um tabu e passaram a ser assunto de "mesa de bar" no Brasil. Com essa popularização, muitos influenciadores que não são especializados começaram a tratar do tema, surgindo coachs, mentores e outros leigos que se aventuram por essa área. Quais são os riscos para pessoas que, ao invés de buscarem por especialistas, encontram caminhos "alternativos" para sua saúde mental?

O cuidado com a saúde mental envolve diversas esferas da vida, tem relação com nosso mundo interior e tudo que acreditamos e praticamos, os ambientes e pessoas ao nosso redor e nossos hábitos de vida. O risco que vejo de não cuidarmos corretamente com o cuidado necessário é prolongarmos e agravarmos o adoecimento trazendo mais sofrimento e prejuízos em vária esferas da vida da pessoa. Entretanto o cuidado da saúde mental envolve tantas esferas, é multidisciplinar então aliar uso de medicamentos e psicoterapias quando necessários a outras mudanças no estilo de vida e utilização de várias ferramentas de bem estar, autoconhecimento e autocuidado será extramamente benéfico quando associadas aos demais cuidados necessários e realizadas com profissionais sérios e qualificados.

VGN - No final do ano, muitas pessoas que vivem de forma solitária sentem o impacto da ausência ou do distanciamento da família e aquele momento que para muitos é de celebração vira um momento de angústia. Para aqueles que passam por isso, o que é recomendado fazer?

Apesar do fim de ano tradicionalmente simbolizar união familiar e presença da família nas comemorações, quando olhamos essas datas de outra perspectiva podemos ressignificar esse sentimento de angústia e mal estar. Trata-se de treinar nossa mente para dar um novo sentindo e ver a data de uma outra maneira. Tentar utilizar esse momento de alegria e comemoração para se conectar com o que te faz feliz e o que te traz paz mental. Seja com amigos que muitas vezes são a família de muitos, seja em sua própria companhia e fazendo coisas que lhe dão alegria!

VGN - A extrema medicalização das pessoas, sobretudo para que se tornem aptas e produtivas no trabalho, tem provocado uma banalização de remédios que deveriam ser restritos e, em muitos casos, o vício de pacientes. Nos EUA, uma epidemia de opioides se alastrou pelo país. Do ponto de vista da Saúde Mental, como você vê esse fenômeno e como podemos mudá-lo?

Acredito que o desconhecimento sobre a importância do cuidado da saude mental e desconhecimento de como nosso cérebro funciona e o que podemos fazer para mantê-lo em equilibrio cause essa série de problemas como adoecimentos em massa e abuso de medicamentos. Quanto mais falarmos sobre saúde mental, mais traremos clareza para as pessoas e as ajudaremos. E pessoas esclarecidas, atuam diferente e mudam seu entorno e isso repercute também nos valores e cobranças externas da sociedade. Acredito que entender que somos seres humanos e não máquinas, que necessitamos de varios pilares estruturados em nossas vidas para nos mantermos bem, muda um pouco a necessidade que as pessoas tem de achar que apenas o uso de medicação sem acompanhamento e sem mudança em estilo de vida e tratamento de causas do adoecimento irá fazer um milagre, anestesiar suas dores e mudar suas vidas

VGN - Existe muito preconceito com psicólogos e psiquiatras no Brasil e em Mato Grosso. O mesmo tabu que ainda existe em relação a loucura e as doenças mentais. Muitas pessoas tem vergonha de dizer que fazem terapia por conta disso. O que é preciso fazer para superar esse preconceito?

Quanto mais falarmos sobre como cuidar da saúde mental, da importância , das ferramentas disponíveis, mais libertaremos as pessoas dos preconceitos enraizados na sociedade. Acredito que entender que somos pessoas em constante evolução, com falhas e acertos e que isso faz parte da vida , tira um pouco do peso que as pessoas tem internamente de buscar ajuda por se sentirem fracos ou vulneráveis. Entender também que o tratamento envolve mudanças ativa na vida do paciente, e que as medicações são por um período e não são a única ferramenta de tratamento incentiva muito as pessoas a buscarem ajuda.

VGN - A luta antimanicomial, uma luta que segue viva no Brasil, esbarra principalmente nas chamadas "comunidades terapêuticas", destinadas ao tratamento de pessoas com algum tipo de vício. Com caráter altamente religioso e moralista, essas comunidades abocanham um bom percentual de recursos públicos voltados à assistência social e à saúde mental. Como você vê esses fatores e o que você sugeriria como solução para os problemas que essas comunidades dizem enfrentar?

Eu acredito que é de suma importância inserir o paciente na sociedade, fornecer condições para que o mesmo possa viver uma vida com seus pilares minimamente equilibrados é a melhor alternativa. Pacientes sem riscos para si ou terceiros, com tratamento podem e devem viver em sociedade normalmente. Mas pacientes com quadros agudos, com risco para suas vidas e para os demais também precisam de internação para um tratamento mais urgente e profundo e retirada da crise. Acredito que a falta de opções para tratar pacientes em quadros agudos e falta de recursos governamentais para implantação e melhoria desses ambientes hospitalares sérios causa uma série de desequilibrios. Por outro lado, a falta de estrutura ambulatorial adequada para os pacientes, recursos limitados, falta de leis e programas de inserção desses pacientes em tratamento ao mercado de trabalho, a vida social faz com que as agudizacões sejam cada vez mais frequentes é sobrecarreguem todo o sistema.

VGN - O suicídio é alarmantemente maior entre os homens. Na "masculinidade" construída ao longo dos séculos, não falar sobre os problemas é uma forma de não encará-los. O que é possível fazer para vencer essa barreira?

Falar mais sobre saúde mental, mostrar que vivemos num mundo diferente, com novos acessos, outros ritmos e outras exigencias e que o homem é um ser humano com emoções e vulnerabilidades assim como todas as outras pessoas. E entender que as pessoas com sofrimento psíquico em sua maioria foram além de sua capacidade e por isso houve um desequilíbrio em seu cérebro. Quanto mais falarmos sobre o funcionamento do cérebro, sobre saude mental mais os homens de maneira geral e as pessoas que estão em sofrimento irão buscar meios de se ajudarem.

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