Diante da ausência de quatro convocados, a reunião desta terça-feira (3) da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista que investiga as relações de Carlinhos Cachoeira com agentes públicos e privados foi marcada por embates políticos entre parlamentares do PSDB e do PT.
A condução dos trabalhos do relator Odair Cunha (PT-MG) foi novamente questionada pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). Ele apresentou estatísticas mostrando que, até agora, a maioria dos que prestaram depoimento é ligada ao governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB.
Segundo Sampaio, a comissão já ouviu 31 pessoas, 12 delas relacionadas a Perillo e dez ligadas diretamente a Carlinhos Cachoeira.
– Os números falam por si. Isso evidencia um direcionamento das investigações. Carlos Cachoeira é o objeto central desta CPI, e nós não estamos trilhando o caminho do escopo desta comissão. Não se investiga o centro da organização; não se investiga seu braço financeiro, que é a Delta; e se investiga o governador Perillo, que não faz parte de núcleo criminoso algum. É evidente que o relator tem que rever seu posicionamento – opinou.
Carlos Sampaio questionou ainda a decisão de Odair Cunha de não adotar sub-relatorias para auxiliar-lhe nos trabalhos.
– As maiores CPIs do Congresso, como a do Mensalão, a dos Correios e a dos Sanguessugas, tiveram sub-relatorias. Portanto, aqui caberia o mesmo procedimento sim, permitindo a existência de mais pessoas ligadas à análise dos fatos – argumentou.
As críticas foram imediatamente respondidas pelo deputado Cândido Vacarezza (PT-SP), que desqualificou os números apresentados por Carlos Sampaio.
– Esta estatística está incorreta. Não existe dicotomia entre governador de Goiás, Cachoeira e os integrantes da organização criminosa. Quem acusou, por exemplo, o chefe do Detran de Goiás foi a Polícia Federal, e ele viria aqui não como uma pessoa ligada ao governador Perillo, mas à contravenção – afirmou Vacarezza, referindo-se a Edivaldo Cardoso de Paula, ex-presidente do departamento de trânsito goiano, que aparece em gravações da Polícia Federal garantindo o repasse de verbas do governo estadual para uma das empresas de Cachoeira.
Ainda segundo Vacarezza, os fatos têm primazia em relação ao desejo das pessoas, e eles evidenciam que “essa organização criminosa se infiltrou no governo de Goiás, e muitos dos assessores diretos ou indiretos de Perillo tinham relação com o grupo”.
Ausências
A CPI não conseguiu ouvir nenhum dos quatro depoentes convocados para esta terça-feira. Apenas Ana Cardozo de Lorenzo falaria, mas ela não compareceu. Ana é sócia da empresa Serpes Pesquisas de Opinião e Mercado, contratada pela campanha do governador Marconi Perillo, quando concorria ao governo de Goiás.
O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), informou que na noite de segunda-feira o advogado dela chegou a solicitar a dispensa de sua cliente, mas o pedido foi indeferido.
Em entrevista à imprensa após a reunião, o relator Odair Cunha informou que Ana Cardozo admitiu à comissão, em documento encaminhado pelo seu advogado, que recebeu R$ 28 mil da Alberto & Pantoja para o pagamento de pesquisas eleitorais para o presidente do Detran, Edivaldo Cardoso de Paula.
– É um vínculo evidente entre um integrante do governo do Goiás com alguém da organização criminosa. Nós identificamos R$ 56 mil na conta de Ana Cardozo, que terá que explicar a origem da outra metade do dinheiro – afirmou o relator.
O policial federal aposentado Joaquim Gomes Thomé Neto, apontado como um dos “arapongas” do bando, até compareceu, mas pediu para falar outro dia, alegando ter sido submetido a um cateterismo há menos de uma semana.
– Ele está com 65% de obstrução coronariana e precisa de mais dez dias de repouso. Por isso será novamente chamado – esclareceu o presidente Vital do Rêgo.
Outro que se prontificou a falar em outra ocasião foi o ex-presidente do Detran de Goiás, Edivaldo Cardoso de Paula. Ele estava viajando, e a CPI não conseguiu comunicar sua convocação.
Já Rosely Pantoja da Silva, sócia da Alberto & Pantoja, não foi encontrada. Segundo informações da comissão, ela tinha cinco endereços diferentes, mas ainda assim não foi possível localizá-la.
– Nem os familiares sabem do paradeiro dela - disse o presidente da CPI, que não descartou o auxílio da Polícia Federal para encontrá-la.
A próxima reunião da CPI será às 9h de quinta-feira (5) para votação de requerimentos.
Rito de depoimento
Na reunião de quinta-feira também será decidido que tipo de rito a CPI irá seguir durante os depoimentos: se os depoentes que se recusarem a falar serão imediatamente dispensados, como vem ocorrendo nas últimas reuniões, ou se terão de ouvir os questionamentos dos parlamentares, o que pode durar várias horas, como aconteceu durante o depoimento do próprio Carlinhos Cachoeira.
O presidente da CPI, Vital do Rêgo, chegou a se reunir com outros senadores para definir qual rito seguir, mas não houve consenso. É por isso que a questão será decidida no voto na reunião de quinta-feira.
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