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Política Quarta-feira, 05 de Outubro de 2016, 14:45 - A | A

Quarta-feira, 05 de Outubro de 2016, 14h:45 - A | A

"Filhos de Gepeto"

Gaeco deflagra operação; Chefe de gabinete de deputado é alvo

Redação VG Notícias com MP/MT

O Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (GAECO) deflagrou na tarde desta terça-feira (05.10), a segunda fase da “operação Ventríloquo”, denominada “Filhos de Gepeto”, mediante cumprimento de mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão expedidos pela Vara Especializada de Combate ao Crime Organizado contra Francisvaldo Mendes Pacheco, chefe de gabinete do deputado estadual Romoaldo Júnior.

Também foi oferecida denúncia contra Francisvaldo Mendes Pacheco pela prática dos crimes de constituição de organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro. Figura também no polo passivo da referida denúncia o advogado Júlio Cesar Domingues Rodrigues pela prática do crime de extorsão.

Narra a denúncia que no período compreendido entre os anos de 2013 e 2014, em Cuiabá, os investigados Francisvaldo Mendes Pacheco, Júlio Cesar Domingues Rodrigues, José Geraldo Riva, Anderson Flavio de Godoi, Luiz Marcio Bastos Pommot, Joaquim Fábio Mielli Camargo, bem como outros agentes e Parlamentares Estaduais, constituíram uma organização criminosa estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com o fito de saquear os cofres públicos, notadamente os recursos públicos da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso e assim o fizeram, apropriando-se ilicitamente de seus numerários em proveito próprio, conforme a seguir será minuciosamente esclarecido.

Consta ainda que, formatada a organização criminosa, inclusive com clara divisão de papéis, no período compreendido entre fevereiro e abril de 2014, os investigados subtraíram dinheiro público no montante de R$ 9.480.547,69 (nove milhões, quatrocentos e oitenta mil e quinhentos e quarenta e sete reais e sessenta e nove centavos), em proveito próprio e alheio (peculato-furto), valendo-se da facilidade que proporcionava a condição de funcionários públicos de alguns de seus membros.

Consta, finalmente, que no mesmo período adrede citado, os investigados, em continuidade delitiva, ocultaram e dissimularam a natureza e a origem dos valores provenientes de infração penal (lavagem de capitais). Júlio Cesar Domingues Rodrigues, José Geraldo Riva, Anderson Flavio de Godoi e Luiz Marcio Bastos Pommot já haviam sido denunciados pelos crimes mencionados, cuja ação penal encontra-se em fase final de instrução processual.

Com relação aos aarlamentares, as investigações se encontram em andamento perante o TJMT, em face do foro por prerrogativa de função.

Destacam os promotores de Justiça que as investigações revelaram que o outrora colaborador Joaquim Fábio Mielli Camargo ocultou, dolosamente, o envolvimento nos fatos pelo deputado estadual Romoaldo Aloisio Boraczynski Júnior e pelo seu assessor Francisvaldo Pacheco, restando incólumes todas as demais informações por ele passadas a este Grupo.

Por tais fatos, os promotores de Justiça que integram o Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado) e NACO (Núcleo de Ações de Competência Originária) ingressaram com pedido de rescisão da colaboração premiada outrora firmada com Joaquim Fábio Mielli Camargo, o que será apreciado quando do julgamento do mérito da ação penal em que foi homologado o acordo, após o que poderá ser oferecida denúncia em seu desfavor.

Narra ainda a denúncia que, logo após a deflagração da primeira fase da Operação Ventríloquo, em julho de 2015, já sabendo que tinha sido expedido em seu desfavor mandado de prisão preventiva, Júlio Cesar Domingues Rodrigues constrangeu o deputado estadual Romoaldo Aloisio Boraczynski Júnior, mediante ameaça de entregar à Justiça o áudio de uma conversa entabulada entre ambos, a lhe entregar a quantia de R$ 1milhão.

Segundo restou apurado, mais precisamente no dia 07 de julho de 2015, por volta das 14 horas, Júlio Cesar encaminhou um sms (short message service) de seu aparelho de telefonia móvel (11 95073-6430) para o telefone do irmão do Parlamentar (Juliano Jorge Boraczynki), exigindo a entrega de dinheiro, sob pena de, não o fazendo, entregar o áudio que, posteriormente, efetivamente fez chegar às mãos deste Gaeco. A mensagem encaminhada foi a seguinte: “Temho seu mano gravado varias vezes...Quero um milhão p segurar a bronca toda..Vcs tem 3 dias” (fls. 704). Logo em seguida encaminhou outra com os seguintes dizeres: “Sim ou não?” (fls. 707).

Narra a denúncia que as conversas gravadas por Júlio Cesar “podem ser categorizadas como verdadeira confabulação mafiosa, em que integrantes da organização criminosa exigem sua parte do dinheiro desviado, restando clara a ocorrência de sérias divergências entre seus integrantes acerca da divisão dos valores expropriado dos cofres públicos”.

Segundo os integrantes do Gaeco, as razões ora apontadas como suficientes para embasar o pedido de prisão preventiva de Francisvaldo Mendes Pacheco também se aplicam a Romoaldo Aloisio Boraczynski Júnior e Joaquim Fábio Mielli Camargo, já que o falseamento da verdade com vistas a prejudicar as investigações se deu em conluio e conjugação de esforços dos acima nominados, contudo, com relação ao último é necessário que ocorra o reconhecimento judicial de causa rescisória da colaboração premiada (já requerido pelo GAECO e NACO); e no que concerne o Deputado Estadual Romoaldo, cuja investigação corre em segunda instância, por força de foro por prerrogativa de função, a legislação proíbe a decretação de prisão preventiva de Parlamentar Estadual (art. 29, § 2º, da Constituição Estadual), motivo pelo qual pugnaram tão somente, e por ora, pela decretação da prisão preventiva de Francisvaldo Mendes Pacheco.

Os promotores de Justiça destacam, finalmente, que os elementos de convicção carreados aos autos, notadamente o teor dos áudios gravados por Júlio Cesar, demonstram que José Geraldo Riva mentiu em seu interrogatório judicial, mesmo tendo confessado participação nos fatos, já que, ao contrário do que afirmara, as provas são irrefutáveis no sentido de que era efetivamente o líder da organização criminosa.

Operação Ventríloquo - A Operação Ventríloquo teve início após delação premiada do advogado Joaquim Fábio Mielli Camargo, que representava o banco HSBC que tinha crédito a receber com a Assembleia Legislativa relativo a seguros de saúde contratados pelo então presidente da Casa, José Riva para os servidores do Legislativo Estadual.

Na denúncia, cita que Riva teria determinado o pagamento de uma dívida na integralidade de R$ 9,4 milhões ao banco desde que metade do valor fosse desviado para um grupo chefiado por ele.

Durante depoimentos de investigados, o empresário Rodrigo Santiago Frison, proprietário do Canal Livre Comércio e Serviços Ltda, disse que recebeu R$ 240 mil de Francisvaldo por meio de depósitos bancários realizados por terceiros, sendo ele advogado Joaquim Fábio Mielli Camargo. O dinheiro estaria relacionado à quitação de um empréstimo feito pelo servidor com o empresário.

O empresário disse ainda que havia realizado outros empréstimos ao funcionário do gabinete de Romoaldo, e que todas foram pagas.

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