Desde a redemocratização, em 1985, todos os presidentes da República eleitos direta ou indiretamente governaram com o apoio do PMDB. José Sarney, ex-presidente da Arena, dividiu, na prática, sua gestão com os peemedebistas liderados por Ulysses Guimarães. Até Fernando Collor, do oposicionista PRN, teve num dos fundadores do partido, Bernardo Cabral, seu ministro da Justiça. O vice collorido, Itamar Franco, procurou estabilizar sua gestão de tempo reduzido com senadores peemedebistas em seu primeiro escalão. E o sucessor Fernando Henrique Cardoso obteve o direito à reeleição com o apoio da legenda. Lula, em seguida, investiu, decididamente, em abrir espaço para o partido dentro de seus dois governos para ter maioria no Congresso.
A presidente Dilma Rousseff seguiu pelo mesmo caminho. Hoje, tem cinco ministros que são do PMDB. A pergunta é: Dilma tem mais a perder ou a ganhar caso haja mesmo um rompimento entre o partido e seu governo?
À primeira vista, governar sem o PMDB é cortejar a ingovernabilidade. Com 20 senadores e 77 deputados federais, além de cerca de mil prefeitos e cinco governadores de Estado, o partido gosta de se posicionar no centro partidário. Dessa posição, ora pende para a esquerda, ora se inclina para a direita. Deter posições de mando é seu norte principal. Dono das presidências da Câmara e do Senado, com Henrique Alves e Renan Calheiros, tem no vice-presidente Michel Temer o maior símbolo de sua participação no apoio à eleição e à gestão Dilma.
CALVÁRIO NAS VOTAÇÕES - Mas é igualmente verdade que governar com o partido como aliado tem sido, para a presidente Dilma Rousseff, um calvário. A cada votação importante, as negociações se tornam mais difíceis, a exemplo da extenuante aprovação da MP dos Portos, no início de junho, quando os votos do partidos foram arrancados na base do toma-lá-dá-cá da troca de apoio por emendas orçamentárias.
Agora, o líder da legenda, Eduardo Cunha, anuncia que vai apresentar Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para limitar a 20 o número de ministérios. A novidade foi anunciada na segunda-feira 29, um dia após a presidente declarar que não pensa em reduzir o tamanho do seu primeiro escalão de governo. Trombada de frente.
Ao mesmo tempo, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Eliseu Padilha, faz um dossiê com questionários respondidos por parlamentares do partido, que apontam para o desejo de mais espaço na adminitração federal ou, caso não haja disposição, uma debandada em apoio ao presidenciável Eduardo Campos, do PSB. Nesse quadro, o vice Michel Temer mantém um silêncio que fala alta para aumentar as tensões.
TEMPO NA TEVÊ - A esquerda do PT já se manifestou, em termos duros, a favor do rompimento do partido com o PMDB, mas até agora a presidente Dilma mantém sua posições fechada em copas. Entre os mais próximas, ela avalia se seria possível governar sem o partido. As perdas nas tramitações do Congresso poderiam ter um efeito eleitoral positivo, em 2014, com a presidente exibindo a imagem de independente. De todo modo, mesmo com o PMDB dentro da base, nenhuma votação mais é tranquila para o governo, especialmente depois que o líder Cunha venceu na bancada a eleição para o cargo. A tensão só aumenta.
No entanto, tomar de volta todos os cargos entregues ao PMDB pode ser traumático para administração, que sofreria muitas trocas em posições estratégicas. Ao mesmo tempo, perderia-se o precioso tempo do partido no horário eleitoral gratuito, ajudando diretamente a oposição. A ida do PMDB para Campos, pura e simplesmente, pode, até mesmo, viabilizar de uma vez o lançamento da candidatura do governador de Pernambuco, constituindo uma oposição conservadora a Dilma e estabelecendo, em definitivo, a alta probabilidade de um segundo turno na eleição presidencial.
FIEL DA BALANÇA - É exatamente por seu papel de fiel da balança da política que o PMDB, a todo momento, joga com o peso de sua estrutura para obter os benefícios que o voraz apetite de seus quadros exige.
O dilema da presidente é grande. Nenhum governante, após a redemocratização, como se viu, conseguiu trabalhar sem ter o PMDB ao seu lado. Mas, neste momento, é o próprio partido, com seu aguçado senso de sobreviência, que faz movimentos ameaçadores para romper o acordo.
Esse estica e puxa pode durar até 2014, quando, necessariamente, terá de ser resolvido. Se já estiver desconfiada de que o PMDB, na hora "H", irá abandoná-la, por que Dilma não dá o primeiro passo e procura fugir da cova de leões em que se encontra? Ela é capaz de escapar sem se ferir – ou morrerá devorada politicamente?
Essa é a pergunta que, neste momento, não quer calar nos bastidores do governo.
Na posição da presidente, você contemporizaria com o PMDB ou mandaria o partido às favas?
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