Um suposto esquema para transferência de lideranças do Comando Vermelho da Penitenciária Central do Estado (PCE) para o Centro de ressocialização de Cuiabá, antigo Carumbé, em 2020, foi revelado no celular de Wilian Aparecido da Costa Pereira, vulgo "Gordão", preso na operação Ragnatela, deflagrada na manhã dessa quarta-feira (05.06), pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de Mato Grosso (FICCO/MT).
De acordo com as interceptações, há citação de pedido de autorização de permuta ao secretário de Estado de Segurança Pública na época, Alexandre Bustamante. Os diálogos apontam que os envolvidos usariam o estacionamento do supermercado Big lar, para realizar o pagamento de R$ 100 mil pelas transferência, o dinheiro teria sido recebido pelo segurança do ex-secretário.
Apontado como tesoureiro-geral do Comando Vermelho no Estado, Paulo Witer Farias, o WT, seria um dos beneficiados no esquema, assim como outros, os conselheiros, Jonas Gonçalves Junior, vulgo Batman e Fábio Aparecido Marques do Nascimento, vulgo Lacoste, Aurélino Gomes da Silva Bisneto, vulgo Lerino e Luenio Cesar Rondon Rocha, vulgo Bicudo.
Uma das transferências seria do preso de alta periculosidade e líder máximo do grupo, Sandro Silva Rabelo, o Sandro Louco. Contudo, a permuta em relação a ele não foi possível.
Outro alvo da operação, o policial penal Luiz Otavio Natalino, seria a pessoa que tramou a ação criminosa com o vulgo "Gordão". O policial era quem que ajudava "Gordão" a entregar celulares aos faccionados. Luiz Otavio chegou a informar que tinha como contato direto o então diretor do Centro de Ressocialização, Winkler de Freitas Teles, quem poderia garantir a transferência.
Confirmando a negociação, Otavio encaminhou ao Gordão telas de conversa travada com Winkler, comprovando a negociação, valores e a possibilidade real de concretizar o esquema para permitir a transferências dos presos indicados.
Desses prints é possível perceber que Winkler encaminha cópia de ofício solicitando a permuta dos presos e informa que o valor seria R$ 20 mil por cada preso, totalizando R$ 100 mil.
Confirmando os diálogos entre o policial penal e Freitas e Otavio e Willian Gordão, também foram encontradas imagens do que parece ser um ofício (protocolo n° 93120076-12062020 de 12 de junho de 2020) do antigo diretor do Centro de ressocialização de Cuiabá, Winkler, ao Secretário de Segurança Pública de Mato Grosso à época, Alexandre Bustamante, solicitando a transferência dos presos.
Em outra imagem é possível constatar que o então secretário Bustamante dá o parecer favorável para as transferências, que ocorreram entre 16 de junho a três de julho de 2020.
Outro lado
A reportagem do procurou o ex-secretário Alexandre Bustamente e o ex-diretor do Carumbé, Winkler de Freitas Teles. Em entrevista, Bustamente alegou ser inocente e afirmou que foi feita uma interpretação equivocada da Polícia Federal pois o relatório não afirma qual secretário teria sido beneficiado.
"Não tenho participação em nada desse caso, o meu nome está citado no relatório porque o analista quando pega uma quebra de material de celular apreendido, a conversa fala que é uma negociação de transferência de cinco presos, mas na conversa não fala Alexandre Bustamante, a conversa fala secretário", afirmou. "Esse documento [que teria sido assinado por mim] não existe", completou Bustamente.
Winkler de Freitas Teles ainda não apresentou manifestação sobre o caso.
NOTA DE ESCLARECIMENTO
Após tomar conhecimento através da imprensa, o advogado Alexandre Bustamante dos Santos vem a público esclarecer as falsas acusações de seu envolvimento em negociatas relacionadas à transferência de presos no Estado de Mato Grosso.
Gostaríamos de enfatizar que:
- Alexandre Bustamante não teve participação em nenhuma negociata de transferência de presos.
- A transferência de presos no Estado de Mato Grosso segue um protocolo rigoroso que não passa pelo Secretário de Segurança.
- Durante seu período na Secretaria de Segurança, Bustamante não teve qualquer contato com os envolvidos nas supostas irregularidades e acredita que tais transferências não ocorreram durante seu mandato.
- Temos a convicção de que houve um equívoco na análise das informações ou que seu nome foi envolvido de forma errônea ou maliciosa pelos responsáveis e envolvidos na investigação.
- Causa surpresa que os documentos que se tornaram públicos, mencionando a transferência de presos, não tenham sido verificados antes da operação ser deflagrada.
Alexandre Bustamante reitera que sempre esteve e estará à disposição da Justiça para quaisquer esclarecimentos necessários. Entretanto, ele não se manifestará publicamente sobre o assunto até o final das investigações, tendo em vista seu histórico profissional de combate às organizações criminosas.
Atenciosamente,
Alexandre Bustamante dos Santos
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