A empresa Rumo Logística, em parceria com uma empresa norueguesa, empregou uma tecnologia de ponta conhecida como geoescaneamento aéreo para reduzir custos na construção da Ferrovia Vicente Vuolo em Mato Grosso. O método, inédito no Brasil, permitiu diminuir incertezas geológicas e otimizar investigações de solo, resultando em uma economia estimada de R$ 20 milhões nos custos de escavação para o trecho analisado do projeto.
As informações sobre o projeto inovador, o primeiro em clima tropical no mundo, foram publicadas em um artigo científico disponível na internet.
Como funciona o geoescaneamento aéreo
O geoescaneamento aéreo utiliza sistemas eletromagnéticos acoplados a aeronaves para mapear variações na resistividade elétrica do subsolo. Essas variações indicam diferentes tipos de solo e rocha, permitindo a construção de modelos tridimensionais da estrutura geológica.
No caso do projeto ferroviário de Lucas do Rio Verde, um trecho de 170 km foi sobrevoado com um sistema de uma empres especializada. Paralelamente, foram realizadas sondagens geotécnicas em pontos específicos para validar os dados. Esses modelos combinados foram analisados com técnicas de aprendizado de máquina, gerando mapas detalhados da interface solo-rocha e identificando áreas críticas para investigações futuras.
Resultados práticos
Os dados coletados revelaram regiões com maior incerteza geológica e permitiram reduzir em 33% o número de sondagens necessárias para caracterizar adequadamente o terreno. Além disso, o uso de modelos baseados em redes neurais artificiais diminuiu em 30% a incerteza nos custos de escavação, quando comparado ao método convencional, baseado exclusivamente em perfurações.
A abordagem tradicional, amplamente utilizada no Brasil, estima profundidades de solo-rocha por interpolação linear, sem considerar incertezas. Já o geoescaneamento aéreo, combinado com modelagem por variogramas e krigagem, ofereceu uma análise mais precisa. O intervalo de confiança para os custos de escavação, usando a nova técnica, foi de R$ 86-210 milhões, contra R$ 74-231 milhões do método convencional. Isso significa que o pior cenário foi reduzido em R$ 21 milhões.
Limitações e futuro da tecnologia
Embora eficiente, o geoescaneamento aéreo apresenta desafios. Em áreas onde a resistividade elétrica entre tipos de solo, como areia e arenito, é semelhante, ainda são necessárias perfurações para determinar a interface solo-rocha. No entanto, o impacto positivo na otimização de grandes projetos de infraestrutura é evidente.
O estudo de caso no Mato Grosso se destaca como o primeiro uso bem-sucedido dessa tecnologia em um clima tropical. Ele não apenas posiciona o Brasil na vanguarda de técnicas de investigação de solo, mas também fortalece o uso do geoescaneamento aéreo como ferramenta essencial em projetos de infraestrutura ao redor do mundo.