16 de Setembro de 2024
16 de Setembro de 2024
 
menu

Editorias

icon-weather
lupa
fechar
logo

Entrevista da Semana Sábado, 07 de Setembro de 2024, 15:00 - A | A

Sábado, 07 de Setembro de 2024, 15h:00 - A | A

ATAQUES PRECONCEITUOSOS

"Registramos B.O e não resolvem nada", diz sacerdote sobre intolerância religiosa em MT

Tata Kature"Nganga diz que a fé de Umbanda não procura por ninguém, apenas recebe aqueles que se interessam

Lázaro Thor/VGN

O sacerdote de Umbanda e militante religioso Tata Kature'Nganga é o entrevistado deste semana e em conversa com o , Tata comentou sobre a luta para que o Governo estadual, através da polícia, passe a punir mais os crimes de intolerância religiosa. 

Segundo ele, umbandistas não procuram por fiéis, apenas recebem aqueles que são interessados e, mesmo assim, são alvos constante de intolerância, de violência e de tentativas de silenciamento. Ao comentar sobre o recente incêndio criminoso na casa de artigos religiosos de Várzea Grande, o jovem sacerdote enfatizou a importância de políticas públicas 

VGN - Conte-nos sobre sua história pessoal e sobre sua vida na sua religião. O que te motivou a entrar nesse grupo religioso? O que te fez encantar sobre a fé que você professa?

Meu nome é Alex, tenho 25 anos, estou há sete anos na religião e há seis anos iniciado em Candomblé. Eu me iniciei no dia 18 de agosto de 2018. Eu era adventista do sétimo dia, eu nunca tive paixão por placa de igreja, minha paixão sempre foi pelo espiritual. Dentro da bíblia encontrei uma frase que mexe comigo até hoje: conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Do que se trata essa verdade? Eu vi fraudes dentro de sistemas religiosos dos protestantes que me causaram dúvidas se era aquilo que eu queria. A religião de matriz afro me despertou interesse pela sua cultura, pelo seu modo de trabalhar. Quando fui a primeira vez encontrei alguém que me disse “nos ajude a quebrar esse preconceito, nos ajude a quebrar esse preconceito de que a gente só faz o mal”. Então eu fiquei me perguntando que verdade seria essa que a bíblia diz? Existe fundamento em uma oferenda, existe fundamento em um trabalho. Pode ser para dar um caminho, para dar saúde, para livrar alguém de uma feitiçaria. O que me fez entrar para a religião foi essa preservação cultural, a religião traz desafios, ela não permite que o seu fiel se mantenha no comodismo, é negativo para nós se manter no comodismo. O que me fez encantar é que nós não saímos daqui para mostrar que estamos certos, para mostrar que nós somos a religião correta, nós estamos aqui o tempo todo, as pessoas que vêm até nós, até mesmo o intolerante, nós não saímos para brigar, estamos o tempo todo para o nosso canto.

VGN - Recentemente, ocorreu um caso de intolerância religiosa no centro de Várzea Grande. De início, o Corpo de Bombeiros negou que tenha sido esse o motivo do crime. E, nas redes sociais, muitas pessoas colaboraram com essa interpretação. Depois que o vídeo foi divulgado, mostrando a ação criminosa, ficou comprovado aquilo que a proprietária já afirmava. Na sua opinião, existe dificuldade das autoridades de entenderem e investigarem a intolerância religiosa?

De certa forma existe uma dificuldade sim das autoridades entenderem e não sei qual a dificuldade de investigarem a situação. Compreendo que há falta de interesse das autoridades porque tudo se pode resolver quando se tem uma modalidade de investigação própria para essa situação. Eu como sacerdote de Umbanda já passei por situações de intolerância, até dentro de casa, ameaças de vizinhos de jogar fogo e de jogar bomba. Nós temos crianças e idosos aqui, mas nem todos têm respeito pela religião. Quando se registra boletim de ocorrência, não se resolve nada. Os governos e as autoridades não têm interesse, parece que estão mais a favor que isso aconteça. É chato porque ficamos vulneráveis a mais e mais situações. Acontece uma situação dessa, acontece outra e nada é resolvido.

VGN - Há anos existe regulamentação, nas escolas, para que a história da áfrica seja incluída na grade curricular. Você acredita que se os governos estaduais colocassem em prática essa regulamentação as ações de ódio e violência contra religiões de matriz africana poderiam diminuir?

Eu acredito que não mudaria muita coisa. A intolerância religiosa só seria extinta a partir de uma ação de conduta do governo para restringir isso. O fim ou a redução da gravidade desses crimes e a quantidade desses atos intolerantes a partir do momento que o governo começar a punir os malfeitores e os criminosos, e começar a divulgar essas punições. Até aqui a educação pública do Brasil é fraca, fraca até mesmo para colocar o aprendizado sobre a África, talvez faria aumentar a intolerância dentro da própria escola.

VGN - Sabemos que, em muitos casos, é uma religião professada não apenas por negros, mas também por brancos, pessoas de classe social baixa ou de alta classe social e, apesar da diversidade, há um enorme tabu com relação a este credo. O que explica isso?

É uma religião onde comemora-se a era da liberdade da negritude. Hoje ela é mais aberta, mais acessível a outras pessoas, a outras classes sociais nas quais negros, pardos, indígenas, brancos, pobres, ricos professam essa fé. Hoje não há tanto tabu, é uma religião até bem vista, há um medo das pessoas que levam com que elas não aceitem. Existem muitas pessoas que no meio da sociedade dizem que não gostam da nossa fé, mas estão sempre aqui. Tem muitas pessoas na curiosidade, que tem vergonha de vir, justamente pela intolerância religiosa justamente pelo preconceito.

VGN - Na sua avaliação, o que é preciso ser feito para que as religiões de matriz africana sejam mais valorizadas em Mato Grosso?

Existe inúmeras ações que podem ser feitas. Em Cuiabá, temos um ponto que é a lavagem da escadaria do Rosário, mas deveríamos ter mais ações voltadas para essa religião, deveríamos ter visibilidade social e visibilidade cultural, deveríamos ser reconhecidos como parte da cultura do Estado. Não somos apenas religião, somos também cultura, os nossos atos são culturais, desde o nosso linguajar, que representa a África, até a nossa culinária.

VGN - Recentemente a informação de que o Estado do Rio Grande do Sul era a região com mais terreiros no país foi usada para justificar as enchentes que assolaram os gaúchos. No seu modo de ver, como esse tipo de visão e estigma pode ser combatido?

O que aconteceu com o Rio Grande do Sul foi uma ambição territorial, em áreas que deveriam ser áreas verdes. É uma negligência do governo e da engenharia do estado. Não tem como incluir religião nisso. Em Dallas, nos Estados Unidos, não têm casas de macumba, mas há tornados, ciclones com níveis de desastres altos e inacreditáveis. Não deveria ter se o problema fosse a religião ou a quantidade de religiosos.

VGN - Se pudesse convidar alguém para conhecer a sua fé e a sua religião, o que você diria? O que você sente quando está vivendo a sua fé?

Basicamente eu não convido. Não fico convidando, mas ao mesmo tempo percebemos o interesse e então convidamos. Nossa religião é diferente, é interessante, é animada, traz paz. Quem pode te ajudar somos nós, mediante a espiritualidade. Somos monoteístas, porém temos objetos de adoração que nos levam até Deus. Eu tive uma evolução depois que entrei para a religião porque sem processo não há progresso.

Leia mais: Centro de Referência de VG treina atletas para os Jogos Paralímpicos de Los Angeles

 
 

Acesse também: VGNJUR      VGNAGRO    Fatos de Brasília

RUA CARLOS CASTILHO, Nº 50 - SALA 01 - JD. IMPERADOR
CEP: 78125-760 - Várzea Grande / MT

(65) 3029-5760
(65) 99957-5760