A médica psiquiatra Mariana Moura, e a piscóloga Yasmin Chacur, em entrevista ao VideoCast ‘Vovó Ta On’, com Cida Conagin, contaram suas experiências e o avanço da telemedicina, no 'novo normal' com a pandemia da Covid-19.
A doutora Mariana, psiquiatra, explicou que este método já era utilizado desde a segunda Guerra Mundial, onde os médicos entravam em contato com os soldados para avaliar os ferimentos, por meio de telégrafo e pelo telefone que estava começando a surgir.
No Brasil, especificamente, Mariana contou que a telemedicina começou através de laudos de eletrocardiograma, onde as pessoas faziam o exame e mandavam para o médico laudar. E assim foi evoluindo com desenvolvimento da tecnologia e avanço da internet.
Segundo ela, as consultas se intensificaram com a pandemia da Covid-19, e o Conselho Federal de Medicina regulamentou a teleconsulta, sendo hoje legal atender os pacientes de forma virtual.
Questionada se o método online consegue suprir 100% das necessidades dos pacientes, a doutora disse que varia muito a especialidade. “Dentro da psiquiatria, os profissionais conseguem atender 100% a demanda dos pacientes, por não necessitar de exames físicos. Sendo uma questão de avaliação através do diálogo”.
Mas, ressaltou que em algumas outras especialidades ainda existem barreiras, pois existe a necessidade do contato maior com o paciente. “Mas já existem vários subterfúgios que estão sendo desenvolvidos para que os pacientes e médicos possam interagir, como enviar por meio do celular sinais vitais, laudos de exames, receitas, entre outras coisas. São muitos avanços que têm possibilitado a técnica da telemedicina”, avaliou ela.
Já Yasmim, contou que na área de psicologia, o Conselho Federal tinha uma plataforma desenvolvida para atendimento psicoterápico online, e com a pandemia, o Conselho ampliou o cadastramento dos profissionais.
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Segundo ela, os seus atendimentos de telemedicina começaram antes da pandemia com indicações dos próprios pacientes, onde a mãe de uma paciente era atendida por outra profissional, na Rússia, e lá ela não encontrava identificação com esses profissionais, e ela ficou muito perdida, então começou suas sessões com a paciente por vídeo no Whatsapp e deu muito certo.
No entanto, Yasmin ressaltou, que na psicologia, o atendimento online precisou quebrar um pouco mais de tabu. Ela explicou, que nesta área é mais complexo a questão do acolhimento toque, do setting analítico, o divã, no caso de psicanalista, a luz, ambiente, cheiro, tudo que deixa o ambiente mais aconchegante.
Outro ponto delicado na área, é por se tratar de uma consulta sigilosa, e os pacientes acabam encontrando dificuldade em se expressar dentro de casa. Segundo ela, os pacientes têm vergonha, ficam com medo de serem ouvidos por marido, filho, mãe e pai. “Eu tinha pacientes que entravam no carro para fazer a sessão neste momento de pandemia”.
Yasmim disse ainda, que o atendimento online também mudou para aqueles que faziam presencial e passaram a preferir online, mesmo com o retorno presencial. “Conseguimos até adaptar o divan. Eu colocava o celular com a imagem para cima, pois no consultório o paciente deita no divã e eu fico de costa, então foi tudo uma readaptação”, avaliou ela.
A psicóloga contou ainda que participa de um projeto social “escuta por um fio”, para atender pessoas que estão vivendo um conflito na pandemia de ter que ficar em casa.
Ela relatou, que atendeu um paciente jovem de Florianópolis (SC) por telefone, pois ele não tinha dificuldade de fazer por vídeo. Com o decorrer das sessões, ela percebeu que se tratava de um caso de esquizofrenia e psicose ou transtorno bipolar com uma parte mais da psicose.
“Ele tinha uma paranóia, ele escutava vozes, e eu consegui fazer toda uma psicoeducação por telefone. Depois de dois meses atendendo ele, eu fiz um relatório, após eu conversar e falar sobre a minha suspeita e diagnóstico. Ele então levou o relatório em um CAPs para um psiquiatra, que até entrou em contato comigo, pois ficou curioso de eu conseguir fazer o diagnóstico por telefone. E hoje o paciente segue o tratamento com o profissional”, declarou ela.
Em relação ao isolamento social, ambas as profissionais classificaram como um grande prejuízo psicológico, pelo fato de ser obrigatório. Yasmim citou o caso de autistas que gostam de ficar mais isolados, mas isso é uma condição ou escolha, mas obrigatoriamente estar isolado é de um prejuízo tamanho.
“Podemos pensar no caso da saúde mental, em hospitais psiquiátricos que apoiam tanto ainda o isolamento dos pacientes. Olha o prejuízo, se nós não conseguimos viver isoladamente imagina eles. Então essa pandemia é um aprendizado, concluiu a psicóloga Yasmim”.
Confira entrevista na íntegra:
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