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Atualmente, Izadora Ledur desempenha funções administrativas no Corpo de Bombeiros
A Justiça Militar realiza neste momento o julgamento da tenente do Corpo de Bombeiros, Izadora Ledur Souza Dechamps, acusada pela morte do aluno Rodrigo Patrício Lima Claro, em novembro de 2016, em Cuiabá.
A defesa entrou com pedido para que ela fosse dispensada de acompanhar o julgamento, pedido este que foi acolhido pelo juiz da 11ª Vara Criminal Especializada da Justiça Militar, Marcos Faleiros, que preside o Conselho Militar no qual é composto ainda pelo tenente-coronel Neurivaldo Antônio de Souza e os majores Paulo César Vieira de Melo Júnior, Ludmila de Souza Eickhoff e Edison Carvalho.
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O promotor de Justiça Paulo Henrique Amaral Motta, apresenta a denúncia contra a tenente, chegando a citar que o caso ganhou grande repercussão na mídia e que pessoas o procuraram para dizer que tudo estava levando a “crer que Izadora Ledur não seria responsabilizada pelos fatos”.
O promotor afirmou que a vítima não possui qualquer anomalia quando participou do curso de formação, e que inclusive apresentou atestados médicos que comprovam que estava em plena aptidão física.
Sobre Ledur, ele disse que a tenente era “grosseira”, “agressiva” apresentando quadro de sociopatia, comportamento que deixa seus alunos com medo dela.
Paulo Henrique relatou o depoimento do soldado Mailson que contou sobre como teria ocorrido a morte de Rodrigo Claro e também supostas atitudes arbitrárias durante o treinamento dos alunos no qual contou que ela os chamava de “burro”, e que eles eram “a turma mais burra” que ela havia treinado.
O depoente disse que Ledur dava “caldo” (subiu nas costas do aluno e o afundava, ficando o mesmo submerso na água) nos alunos que não conseguia cumprir as determinações atribuídas do curso.
Atualizada às 14h10 - O promotor citou outra testemunha Airton que declarou que Claro era um dos melhores do Pelotão, ficando bem classificado, e que ele apenas teve dificuldade no exercício da travessia na lagoa. “Eu disse para ela, calma, relaxa, ninguém vai matar nós aqui. Falta poucos dias para nos formar”, disse Motta ao relatar trecho do depoimento.
Segundo ele, essa testemunha, disse que tanto ida quanto na volta da travessia Ledur dava “caldo” em Rodrigo, e que ele no meio do exercício pediu para parar declarando que estava com muita dor de cabeça, e que não queria mais realizar a travessia. “Para de frouxura, você é uma bichinha”, declarou a testemunha em relato do promotor.
Essa testemunha negou que no dia do exercício na água não tinha nenhuma unidade móvel ou fixo de socorro, como por exemplo, ambulância.
Atualizada às 14h30 - Uma terceira testemunha, de nome Jefferson, conforme o promotor, pediu a todo o momento da travessia que queria parar, que assinava qualquer coisa para não continuar mais na instrução do exercício, porém, Ledur negou todos os pedidos e seguiu o puxando pela cintura afundando-o na água, em uma forma de ajudar e castiga-lo ao mesmo tempo, contou Motta ao detalhar o citado depoimento.
Ainda segundo ele, o pais de Rodrigo relatou na época que o filho tinha medo e pânico em relação a Ledur, e que no dia da travessia estava com “muito medo ``.Ele disse que a Ledur já teria dito a ele que iria pagar pelo atestado apresentado”, contou Paulo Henrique, ao citar trecho do depoimento da mãe de Claro.
Atualizada às 14h55 - O promotor afirmou que ocorreu castigo pessoal por parte de Ledur com Rodrigo por ele apresentar atestado médico nas vésperas do treinamento, castigo pessoal por ele apresentar dificuldades na natação na travessia da lagoa.
Segundo ele, afirmar que Rodrigo morreu em decorrência de outros fatores e não do “castigo pessoal” por parte da tenente é “brincar com os fatos narrados nos autos”, e que o óbito foi mediante aos inúmeros afogamentos por parte de Ledur.
Pedro Henrique destacou que ele ao deixar a água com fortes dores de cabeça, seria evidência de uma Acidente Vascular Cerebral (AVC), e que ante gravidade do presente caso, se a impunidade persistir, o caso será levado a Convenção Interamericana por se tratar de crime da tortura, e que pode “manchar” a corporação.
Ainda segundo ele, no caso em concreto “a dor de família” e repercussão da mídia não se trata de uma “mero crime de agressão”, e que todos as provas apontam que a tenente Ledur cometeu crime de tortura, pedindo a condenação dela conforme consta da Lei de Tortura e do Código Militar.
Atualizado às 17h05 - A defesa de Ledur, patrocinada pelo advogado Huendel Rolim, negou que ela cometeu crime de tortura sob argumentado que “não se verifica dos autos a caracterização da conduta delitiva, tampouco o nexo casual entre os treinamentos e a causa mortis do aluno-soldado”.
Segundo ele, a tenente na execução do exercício de travessia autorizou que Claro foi auxiliado por um colega, permitindo até mesmo a troca de “canga” (espécie da dupla na travessia) em decorrência dele ter dificuldade na natação, retirando alegação de que teria agido como forma de punir a vítima.
O advogado declarou que Ledur incentivou Rodrigo de forma “enérgica” para que ele cumprisse a atividade na lagoa, como forma de ajudá-lo a vencer a dificuldade no exercício de água, assim como alegou que outros dois soldados também sofreram o “caldo” o que derrubaria tese de suposta perseguição alegado pelo Ministério Público no caso da tenente contra Claro. "Quem castigar não cria muros, cria atalhos”, declarou o advogado.
Entenda
Conforme denúncia do Ministério Público Estadual (MPE), Rodrigo Claro aconteceu no dia 10 de novembro de 2016 durante o treinamento de atividades aquáticas em ambiente natural do 16º Curso de Formação de Soldado Bombeiro do Estado de Mato Grosso realizado na Lagoa Trevisan em Cuiabá.
Na denúncia cita que Rodrigo foi submetido a sessões de afogamento durante a travessia da lagoa. Ele chegou a ser hospitalizado, mas morreu dias depois.
Segundo a denúncia a tenente Ledur, era a instrutora do curso, e teria usado de meios abusivos de natureza física e de natureza mental. Após ser denunciada criminalmente, Izadora chegou a usar tornozeleira durante três meses, mas o equipamento foi retirado.
Em sua defesa, a tenente disse, em depoimento à Justiça, que a vítima tinha “descontrole emocional na água e não estava preparado para ser bombeiro”, e afirmou que não aconteceu nada diferente nesse curso em relação ao primeiro aplicado por ela. “A diferença é a resposta do aluno”, disse ela na época do depoimento.
Atualmente, ela desempenha funções administrativas no Corpo de Bombeiros.
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