Claudecy Oliveira Lemes, 52 anos, pecuarista, está sendo investigado por supostamente ter investido mais de R$ 25 milhões em operações de desmatamento químico, afetando uma área de 81 mil hectares no Pantanal Mato-grossense. Em um depoimento virtual realizado na terça-feira (16.04), Lemes optou por permanecer em silêncio.
A delegada Liliane Muratta explicou que as próximas etapas incluem a conclusão da investigação, a elaboração do relatório do inquérito e o encaminhamento do caso ao Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) para análise. "As evidências que temos são robustas", afirmou Muratta.
Recentemente, o MPMT recorreu de uma decisão que, em 18 de março, negou o pedido de prisão preventiva de Claudecy. O recurso foi apresentado na última sexta-feira (12) e está pendente de julgamento. De acordo com o Ministério, este caso pode representar o maior dano ambiental já documentado no Estado, comparável à extensão da cidade de Campinas (SP).
Os advogados de Claudecy alegam que ele tem respeitado um acordo prévio de reposição florestal com o Ministério Público. No entanto, uma investigação recente do programa Fantástico mostrou que, durante o período alegado de desmatamento químico, ele deveria estar engajado na restauração da vegetação em áreas previamente comprometidas.
Foram identificados 25 tipos de agrotóxicos aplicados à vegetação do Pantanal, incluindo um herbicida com a substância 2,4-D, notório por seu uso durante a Guerra do Vietnã. Desde 2019, Lemes foi autuado 15 vezes por danos ambientais na região, mas segue em liberdade, submetido apenas a medidas cautelares. Ademais, ele teve 11 fazendas bloqueadas judicialmente, animais confiscados e atividades econômicas suspensas, além de estar proibido de deixar o país.
As multas aplicadas pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema-MT) e a avaliação do dano ambiental somam R$ 5,2 bilhões. Os delitos ambientais ocorreram principalmente em propriedades rurais em Barão de Melgaço, a 121 km de Cuiabá, no coração do Pantanal Mato-grossense. Aviões foram utilizados para dispersar grandes quantidades de agrotóxicos sobre a vegetação nativa, visando a conversão da terra em pastagens para gado.
O Ministério Público informou que amostras de vegetação, água, solo e sedimentos coletados nas áreas afetadas revelaram a presença de quatro herbicidas com substâncias tóxicas, capazes de causar a morte das árvores. Embalagens de produtos agrotóxicos foram também apreendidas nas fazendas do investigado.
A ação ilegal de desmatamento resultou na morte de árvores em pelo menos sete propriedades, devastando áreas de preservação permanente e biodiversidade. As investigações apontam que a quantidade de substâncias mencionadas nas notas fiscais corresponde à necessária para tratar uma área de 85 mil hectares, o que está em consonância com a extensão do dano sob investigação.
Entre julho e agosto de 2023, nove autos de infração e nove termos de embargo e interdição foram emitidos devido às degradações ambientais atribuídas ao pecuarista.