O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, sinalizou ao Palácio do Planalto a possibilidade de deixar o governo caso avancem propostas de taxação sobre exportações do agronegócio. A medida, defendida por setores que buscam conter a inflação dos alimentos, gerou forte reação do ministro e intensificou a tensão entre o governo Lula e o setor agropecuário.
Aliado do presidente desde a campanha de 2022, Fávaro tem atuado como interlocutor entre o agronegócio e o governo, mas deixou claro, em reuniões recentes, que a taxação das exportações ou a criação de cotas para produtos como carne, soja, milho e etanol seriam um limite intransponível para sua permanência no cargo.
"Se a ideia é criar restrições para exportações, seja por meio de cotas ou taxando os produtores, eu estou fora", teria dito Fávaro a interlocutores.
Crise com o agronegócio se intensifica
A relação do governo com o setor agropecuário já estava estremecida e se agravou na última semana, após a suspensão temporária de linhas de crédito subsidiadas pelo Plano Safra. A medida gerou insatisfação e mobilizou parlamentares da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), presidida pelo deputado Pedro Lupion (PP-PR). Embora o governo tenha revertido rapidamente a situação por meio de uma medida provisória, o episódio aumentou o desgaste político.
Além disso, Fávaro passou a ser alvo de críticas mais contundentes da bancada ruralista, que o acusa de não representar adequadamente os interesses do agronegócio. O ministro, por sua vez, rebateu e afirmou que a FPA tem atuado mais como oposição ao governo do que como defensora do setor.
A origem da pressão por taxação das exportações
A proposta de taxação sobre exportações não é nova e tem sido defendida por setores do PT no Congresso. Durante o governo Bolsonaro, parlamentares petistas chegaram a apresentar projetos de lei com esse objetivo, sem sucesso. Agora, a pauta voltou à tona com o apoio de entidades do varejo e da associação de supermercados, que pressionam o governo a adotar medidas para conter a inflação dos alimentos.
A ideia tem como referência a política adotada pela Argentina nos anos 2000, que impôs restrições às exportações de carne para reduzir os preços internos. Embora tenha surtido efeito no curto prazo, a estratégia levou à queda na produção e acabou prejudicando produtores e consumidores.
Setor produtivo reage e isola Fávaro
Diante da ameaça de um novo imposto, entidades representativas do agronegócio, como a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), emitiram notas contundentes contra a proposta, pedindo a intervenção do Congresso Nacional. A entidade, que tem forte presença em Mato Grosso, Estado de origem de Fávaro, criticou duramente a condução da política agrícola do governo Lula.
Nessa terça-feira (26), durante o almoço semanal da FPA em Brasília, parlamentares e líderes do agronegócio decidiram que irão tratar diretamente com o Ministério da Fazenda, excluindo o Ministério da Agricultura das discussões. Essa movimentação enfraquece a posição de Fávaro dentro do governo e aumenta a possibilidade de sua saída.
Planalto tenta evitar crise maior
A possível saída de Fávaro preocupa o Planalto. O governo entende que perder o ministro poderia agravar ainda mais a relação com o setor agropecuário, especialmente após ter celebrado, em dezembro de 2024, a abertura de mais de 300 novos mercados internacionais para exportação. Agora, discutir a taxação dessas mesmas exportações cria um paradoxo na estratégia econômica do governo.
Diante do cenário, auxiliares do presidente Lula tentam conter a crise e evitar que a proposta de taxação avance no Congresso. Ainda não há uma definição clara sobre o desfecho, mas a permanência de Carlos Fávaro dependerá diretamente das negociações nas próximas semanas.
Caso o ministro decida sair, o governo enfrentará um novo desafio para encontrar um substituto capaz de restabelecer o diálogo com o agronegócio e minimizar os impactos políticos e econômicos dessa crise.
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