Professores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) rechaçaram o projeto apresentado pelo Ministério da Educação (MEC) na última semana - intitulado Future-se. Em assembleia geral na última sexta-feira (26.07), eles decidiram realizar uma série de atividades nos próximos dias para pautar a discussão sobre a defesa da universidade pública e gratuita.
O Programa Institutos e Universidades Empreendedoras e Inovadoras (FUTURE-SE) tem por finalidade o fortalecimento da autonomia administrativa, financeira e de gestão das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), por meio de parceria com organizações sociais e do fomento à captação de recursos próprios, ou seja, a possível privatização das universidades federais.
Contra essa ideia, os professores resolveram realizar debates públicos em locais abertos, diálogos nos departamentos de cursos, elaboração e distribuição de cartilhas, panfletos, cartazes e outros materiais de divulgação.
Análise de conjuntura
Na avaliação dos docentes, o Future-se é o nó que pretende amarrar o projeto de privatização da universidade pública, já encaminhado pelos governos neoliberais que implementaram a terceirização e abriram caminho para o mercado no ensino superior nos últimos anos.
Nesse sentido, os docentes ressaltaram que sempre foram contrários as Fundações que realizam parcerias entre os setores público e privado, à instalação da Ebserh nos hospitais escolas, à forma como se deu a Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), porque essas políticas sempre expressaram o modelo de organização capitalista de sociedade.
Para os docentes, a universidade pública só tem razão de existir como parte de um projeto de educação e sociedade voltado para os interesses da classe trabalhadora. Para isso, é preciso que as instituições de ensino superior sejam, no mínimo, financiadas pelo Estado. “Ao final disso tudo, a universidade só terá duas alternativas: ou ela sai fortalecida e assume sua posição na construção de uma sociedade que visa emancipar a classe trabalhadora, ou será subjugada pelo mercado e passará a atender exclusivamente aos interesses do capital”, afirmou a diretora da Adufmat-Ssind, Lélica Lacerda.
Nesse sentido, o diretor geral do sindicato, Aldi Nestor de Souza, afirmou que é preciso ressaltar que os ataques à universidade são os mesmos desferidos à classe trabalhadora como um todo. “A universidade tem de se reinventar e discutir a sociedade de outra forma, porque do jeito que está a sociedade não se enxerga aqui dentro. A defesa da universidade pressupõe uma reinvenção. Por exemplo, nós nunca poderíamos aceitar declarações do tipo ‘ou você tem emprego ou você tem direitos’. Isso é inadmissível”, destacou.
Os docentes criticaram ainda os ataques pessoais à reitora da UFMT, Myrian Serra, após o corte de energia na instituição e as acusações públicas do ministro da Educação. “É estarrecedor pensar que professores, estudantes e técnicos compartilham dessa violência, que nos coloca no nível mais baixo de crueldade. As pessoas não têm nenhuma vergonha de agredir dessa forma. É uma bestialização sem fim, que talvez explique o esvaziamento dos espaços de discussão”, comentou Nestor.
Assim, a categoria avaliou que a lógica de discussão deve ser invertida. Antes de discutir se a universidade pagou ou não energia, ela deve discutir por que a instituição deveria pagar, já que foi o Estado que criou toda a estrutura de distribuição, com o dinheiro do contribuinte; deveria discutir por que o Estado precisa pagar por uma coisa que ele mesmo construiu.
Future-se
Como não poderia deixar de ser, a discussão sobre a proposta de privatização do governo federal se fez muito presente já na análise de conjuntura. Sobre o projeto, no entanto, os docentes destacaram que, para além da ideia de privatização - já conhecida pela categoria -, o Future-se retrata a imposição a uma ditadura do mercado, com ferramentas de controle ideológico.
“Se a questão fosse angariar recursos da iniciativa privada, apenas, o Future-se não seria necessário. Isso já é possível por meio das fundações. Mas o Future-se pretende submeter o financiamento das universidades exclusivamente ao setor privado, e isso é matar qualquer possibilidade de fazer pesquisas que não atendam ao interesse do mercado”, ressaltou a diretora de Imprensa do sindicato, Lélica Lacerda.
Informes
A diretoria abriu a assembleia falando sobre solidariedade. Após ler o manifesto de uma professora da rede estadual de ensino, retratando os ataques do governo de Mato Grosso à categoria que está em greve há 60 dias e, por isso, tiveram os pontos cortados, a diretoria da Adufmat-Ssind informou, também, que as trabalhadoras terceirizadas da limpeza, na UFMT, também estão sem receber desde o mês passado e podem iniciar uma paralisação caso não recebam até a próxima segunda-feira.
A diretoria informou, ainda, sobre a participação no Conselho do ANDES e algumas deliberações. Além disso, o corte de energia e os debates e atividades realizados em decorrência disso também foram lembrados.
A professora Maria Adenir Peraro falou sobre o lançamento do livro sobre os 40 anos do sindicato e sobre a formação de uma comissão de avaliação de gestão de documentos que está sendo formada pelo sindicato.
A professora Lélica Lacerda informou sobre ações de comunicação que o sindicato pretende desenvolver nos próximos dias, envolvendo páginas nas redes sociais, vídeos e podcasts.
O professor José Domingues se inscreveu para destacar o início da nomeação de representantes do governo nas estruturas das universidades, como ocorreu recentemente na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. O professor Reginaldo Araújo, diretor do ANDES - Sindicato Nacional, falou sobre a agenda de atividades do sindicato nacional nos próximos dias e informou que o relatório da auditoria das contas da Adufmat-Ssind no Araguaia, solicitado pela diretoria anterior do sindicato para verificar desvios, já foi entregue. O sindicato deverá realizar uma nova assembleia para apresentá-lo. (com assessoria).
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