Ao deixar o cargo de ministro da Educação do governo federal, Cid Gomes reafirmou que acredita “pessoalmente” na afirmação de que a maior parte da Câmara é formada por “achacadores” e que a imagem da presidente está fragilizada devido à sua atitude de “limpar” o governo da corrupção.
“Você viu quantos deputados do PT recebiam mensalidade de um diretor da Petrobras? Isso era a base do poder. Ela está mudando isso e isso cria desconforto. E a população sabe disso”, disse Cid, ao deixar o Palácio do Planalto, após se reunir com a presidente Dilma Rousseff e pedir demissão em caráter irrevogável.
A presidente aceitou imediatamente o pedido de demissão de Cid. “A população sabe, obviamente, que está vivendo um momento difícil, complicado. Toda hora ela é bombardeada pela crônica da corrupção. E qual é o conceito que a população brasileira faz do parlamento?”, questionou ele.
Cid classificou o parlamento brasileiro como “antipoder” e lamentou a composição e a forma com que os parlamentares se relacionam com o governo.
“Considero o Parlamento fundamental para a Democracia. O que é lamentável é a sua composição e a forma com que ele se relaciona com o poder . Virou o antipoder. Ou tomam parte ou apostam no quanto pior melhor para assumir o poder e, muitas vezes, fazer até pior”, disse o agora ex-ministro.
Cid afirmou ainda que deixa o governo para não prejudicar a relação do Planalto com a base aliada, em confronto cada vez mais patente. Devido a críticas ao poder Legislativo, ele foi convocado pela Câmara dos Deputados a comparecer à casa para prestar esclarecimentos.
“Eu não podia agir diferente senão confirmar aquilo que disse, aquilo que penso pessoalmente. Embora, como ministro, eu tenha sempre procurado ter uma posição respeitosa, mais por uma imposição do cargo, falei da minha opinião pessoal”, disse Cid.
“A minha declaração e mais do que ela, a forma como coloquei na Câmara, é obvio que cria dificuldades para o governo, portanto eu não quis criar nenhum constrangimento. Pedi demissão em caráter irrevogável", prosseguiu Cid. “Eu disse para ela [Dilma] que lamentava muito, que confiava nela, que acreditava nela, continuo acreditando, continuo confiando na presidente Dilma. Agora, a minha presença no ministério ficou em situação de contraponto, de indisposição, com boa parte da base que apoia o governo."
Crise - Em sua saída do ministério, Cid também falou sobre a crise pela qual passa o governo federal, especialmente em meio às investigações da Operação Lava Jato e após os protestos que levaram centenas de milhares de pessoas às ruas contra a presidente no último fim de semana.
“Ela [Dilma] tem qualidades que são necessárias. Tem muito discursos de oposição, tem muita gente que fala em corrupção, parece ser uma coisa intrínseca ao governo, mas o que a Dilma está fazendo é exatamente limpar o governo de corrupção que ocorreu no passado. Isso é que está acontecendo e é por isso que a gente vive esta crise hoje”, disse o ex-ministro.
“Quem demitiu este [ex-diretor de abastecimento da Petrobras] Paulo Roberto e este [ex-diretor de Serviços da estatal] Renato Duque foi ela, muito tempo atrás. Esta crise que exponencializa a corrupção é anterior a ela. Dilma, ao contrário, está limpando, não está permitindo isso e é isso que fragiliza a sua relação com boa parte dos partidos."
Cid ainda disse que não estava triste por deixar a pasta, apesar de estar entusiasmado com o trabalho. “Eu estou feliz, mas lamento pela Educação no Brasil. Lamento porque tem muito o que fazer e eu estava entusiasmado, muito entusiasmado”, disse ele.
“Eu tinha muito entusiasmo como ministro da educação e estava demonstrando isso. Já tinha ido a seis estados em três meses de trabalho. Já tinha ido à Câmara, por exemplo, três vezes. Iniciamos projetos importantes para melhorar a educação pública no Brasil."
O secretário-executivo do Ministério da Educação, Luíz Cláudio Costa, assume interinamente a pasta até a indicação do substituto de Cid pela presidente.
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