O juiz federal Sergio Moro deu prazo até a quinta-feira (23) para que as defesas da Odebrecht e dos diretores da empreiteira Márcio Faria da Silva e Rogério Araújo expliquem as anotações encontradas no celular de Marcelo Odebrecht, presidente da holding que controla a empresa, preso na 14ª fase da Operação Lava Jato.
No smartphone do executivo, conforme o inquérito protocolado nesta terça-feira (21), foram encontrados os seguintes textos, transcritos no formato original, conforme a Justiça:
"MF/RA: não movimentar nada e reimbolsaremos tudo e asseguraremos a familia. Vamos segurar até o fim
Higienizar apetrechos MF e RA
Vazar doação campanha
Nova nota minha midia?
GA, FP, AM, MT, Lula? ECunha? (...)"
De acordo com Moro, uma análise preliminar sugere que MF e RA são siglas referentes a Silva e Araújo, subordinados diretos de Odebrecht e também investigados por crimes de corrupção na Petrobras.
A anotação, diz o juiz, indica que ambos estariam sendo orientados a não movimentar suas contas e que, no caso de sequestro e confisco judicial, seriam reembolsados.
O "higienizar" é para que os diretores limpem os dados dos celulares deles e, por consequência, destruam provas, ainda de acordo com Moro. "Vazar doação" é algo que ainda não foi elucidado, afirma o juiz.
Outros trechos a serem explicados, encontrados no celular do presidente da holding, também foram transcritos no despacho:
"(...) Assunto: LJ: ação JES/JW? MRF vs agenda BSB/Beto
Notas Dida/PR/açoes MRF. Agenda (Di e Be). limp/prep
E&C. Desbloq OOG. Dossie? China? Band? Roth?
Integrante OA? Minha cta Tau? Perguntas CPI. Delação
RA? Arquivo Feira, V, etc. Volley ok? Panama?
Assistentes:
Localização:
Detalhes:
Acoes B
- Parar apuracao interna (nota midia dizendo que existem para preparar e direcionar).
- expor grandes
- para apuracao interna
- desbloqueio OOG
- blindar Tau
- trabalhar para parar/anular (dissidentes PF...) (...)".
LJ é referência à Operação Lava Jato, segundo a Justiça. "O trecho mais pertubardor é a referência à utilização de 'dissidentes PF' junto com o trecho 'trabalhar para parar/anular' a investigação", afirma o magistrado. Moro ressalta que o termo "dissidentes da PF coloca uma sombra sobre o significado da anotação.
Outras referências como "dossiê", "blindar Tau" e "expor grandes" são igualmente preocupantes, expõe o juiz. Para ele, nada indica que os recados eram dirigidos às defesas e nem que eram originados de orientação dos advogados.
Mesmo assim, Moro diz "oportunizar" as defesas para que esclareçam as anotações "graves", já que, pelo sigilo profissional que é de direito, estratégias ilícitas, como a destrução de provas, poderiam ser acobertadas pelos advogados.
O inquérito da Polícia Federal (PF) apontou que Marcelo Odebrecht tentou atrapalhar as investigações antes de ser preso. A conclusão também foi feita com base em anotações do celular do presidente da holding.
O G1 entrou contato com as defesas da empreteira, de Silva e de Araújo, mas, até as 16h desta terça-feira (21), ninguém havia se pronunciado sobre o despacho.
Sobre o relatório da Polícia Federal (PF) em que as anotações foram expostas, a Odebrecht disse, por meio de nota, que são "interpretações distorcidas, descontextualizadas e sem nenhuma lógica temporal de suas anotações pessoais".
Entre no grupo do VGNotícias no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).