Duas mortes, que teriam como causa a ineficiência de atendimento, ilustram bem o período conturbado de gestão do Gabinete de Intervenção Estadual na saúde da capital, que completou 70 dias de atuação, nesta sexta-feira (26.05). A afirmação é do vereador de Cuiabá, Luis Cláudio (PP), que analisa que mesmo com todos os esforços dos parlamentares aliados do governador, Mauro Mendes (UB), bem como da imprensa que o dá respaldo, não foi possível apresentar nada à sociedade além de discursos políticos.
Um dos casos trazidos à tona pelo parlamentar é de um paciente cardíaco, que morreu na UPA do Verdão, no fim de março, bem como de uma mulher que veio de Chapada dos Guimarães e morreu por picada de cobra, no Hospital Municipal de Cuiabá – HMC, mais recentemente. Em ambas as situações, conforma narra Luis, familiares dos falecidos se revoltaram com a ineficiência do serviço de socorro que foi disponibilizado aos entes queridos.
“Estes dois casos foram emblemáticos, mas a gente tem inúmeras denúncias e vídeos e mais vídeos de falta de medicamento, de plantão sem médico, crianças sem o devido socorro, mas o que me chama atenção é ver os vereadores contrários ao prefeito não perseguirem a equipe da intervenção. Eles não culpam os responsáveis por todas essas mazelas, como faziam com a equipe da Secretaria Municipal de Saúde. Essa indignação seletiva descarada deixa muito claro que tudo isso que a gente vê é movido por interesses meramente políticos, não tem nada a ver com preocupação com o povo”, externa Luis Cláudio.
A Intervenção assumiu efetivamente a saúde da capital em 17 de março, após uma decisão da maioria do Tribunal de Justiça de Mato Grosso – TJMT, validada posteriormente também por majoritária parte dos deputados estaduais. A partir de então, o setor essencial do município passou aos cuidados de uma estrutura administrativa nomeada pelo governador do estado. Pouco mais de dois meses depois, a realidade que se encontra em todas as unidades, não condiz com o que as manchetes tentam emplacar, conforme explica o vereador.
“Recentemente, a interventora (Danielle Carmona) decidiu pedir reforço da Polícia Militar, para que as forças de segurança blindassem as unidades e fossem para cima da população, caso preciso, e isso ocorreu em uma cena lamentável de uma senhora sendo imobilizada no chão. Agora me diz, se tudo estivesse bem como estão dizendo por aí, qual o motivo da população estar revoltada? As pessoas estão nervosas porque não tem médico, medicação e, diferentemente do que ocorria anteriormente, ainda estão sendo tratadas com rispidez”, pontua o vereador do PP.
A intervenção na saúde de Cuiabá não causou prejuízos apenas à população que busca atendimento, mas a centenas de pais e mães de famílias que foram sumariamente demitidos da Rede Municipal e da Empresa Cuiabana de Saúde Pública pelo simples fato de não serem efetivos, lembra Luis Cláudio. Não houve, segundo denúncia o parlamentar, uma análise técnica da equipe de intervenção sobre o trabalho desenvolvido por cada um dos profissionais em questão e muita mão de obra qualificada foi descartada inexplicavelmente.
O vereador da capital explica que tais ações sem critério, inclusive, atingiram até mesmo médicos que eram adorados por comunidades inteiras. “Há uma indignação imensa no bairro Três Poderes, por exemplo. Uma decisão da interventora revoltou os moradores do bairro de tal forma, que decidiram fazer um abaixo-assinado contra a intervenção. O presidente do bairro foi até à imprensa reclamar que tiraram o médico que trabalhava há mais de 15 anos no posto de saúde da região e que era querido por toda a comunidade. Que tipo de saúde pública esse pessoal está promovendo?”, questiona o parlamentar.
Luis lembra que a falta de médicos nas unidades cuiabanas de saúde se tornou um drama desde que a Prefeitura foi obrigada pela Justiça de Mato Grosso a demitir todos os profissionais contratados, após decisão que exigiu admissão apenas por processo seletivo ou concurso público. A dificuldade administrativa encontrada pela gestão municipal em atender essa demanda acabou sendo usada como argumento para construir a tese do caos e embasar a intervenção, segundo explica o progressista. O que foi apresentado como solução, todavia, entrou na cena como fogo na gasolina, diz o parlamentar.
“Saúde pública se faz com o público, ouvindo as lideranças e os usuários do SUS. Esse Gabinete de Intervenção não fez uma reunião ou audiência pública sequer com os moradores dos bairros para entender a realidade e a opinião de quem mora ali e usufrui do serviço. Temos relatos de servidores coagidos pela intervenção, inclusive sofrendo com assédio moral. Muitos têm medo de formalizar a denúncia e ficam em silêncio para garantir o emprego, o que entendemos perfeitamente, mas a verdade é que não há melhora na saúde de Cuiabá. Quem realmente acompanha o dia a dia sabe disso e vê que a única coisa que mudou foi a entrada de uma truculência absurda por parte de quem agora administra”, finalizou.
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