Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal, captadas em fevereiro deste ano, mostram o ex-secretário de Governo Éder Moraes (PMDB) se justificando a pessoas próximas sobre a busca e apreensão realizada em sua residência na 4ª fase da Operação Ararath, que investiga esquema de lavagem de dinheiro no Estado.
Irritado com a invasão da polícia, Éder afirma a interlocutores que “quem tem que ter dor de barriga” não é ele, mas o governador Silval Barbosa (PMDB) e o senador Blairo Maggi (PR) – ex-governador de Mato Grosso por dois mandatos.
Os dois são classificados por Éder como “Esses filhos da p. que vão tomar no c. comigo”.
Éder é acusado pelo Ministério Público Federal de operar, em parceria com o empresário Gércio Marcelino Mendonça, o Júnior Mendonça, um banco clandestino em Mato Grosso. De acordo com o inquérito, há indícios de que Éder cumpria ordens de Blairo e de Silval, no pagamento de propinas a membros do Judiciário, do Ministério Público, lavagem de dinheiro e empréstimos fraudulentos. O esquema teria onerado o erário em R$ 500 milhões nos últimos seis anos.
Em uma ligação realizada às 11:10h do dia 19 de fevereiro de 2014, Éder afirma: “Agora é o seguinte, eu tô muito puto, cara, muito puto. Silval não me ligou. Ninguém do Palácio me ligou. Esses filhos da p. vão tomar no c. comigo, vão tomar no c. comigo... É, mas eu me coloquei a disposição da Polícia Federal para prestar qualquer esclarecimento sobre relações no Estado de Mato Grosso que eles queiram saber. É pra mandar recado pro Blairo e pro Silval cara”.
Curiosamente, um dia depois Éder deu entrevistas à imprensa reclamando por não ter recebido apoio de Silval e Blairo quando teve sua casa invadida pela PF. O recado foi dado durante entrevista ao programa Chamada Geral, com Lino Rossi.
"Não recebi a solidariedade nem de Blairo, nem de Silval. Acho que eles teriam que ter a hombridade de ter me ligado. ‘Companheiro, aqui é o cidadão Blairo, o cidadão Silval Barbosa. Tá precisando de alguma coisa? Houve algum problema? Conte conosco’. Porque afinal de contas, eu cuidei do caixa dos dois. Não é assim que se trata companheiro, deixando na beira da estrada", alfinetou Éder.
Em outra interceptação realizada em 19 de fevereiro, Éder diz a outro interlocutor: “Isso não vai funcionar comigo e quem tem que ter ‘dor de barriga’ não sou eu. Quem tem que ter dor de barriga é Silval, é Blairo, cê tá entendendo? É Tribunal de Contas, é Assembleia Legislativa, Tribunal de Justiça. Esse povo é que tem que ter ‘dor de barriga’. Eu não. Eu tô tranquilo. Nunca fiz nada de errado (sic)”.
As declarações de Éder se encaixam ao depoimento prestado por Júnior Mendonça à PF. De acordo com Júnior Mendonça, Éder Moraes tentou manipular infringindo medo da prisão, sua e de seus familiares. A finalidade de Éder era, de fato, se proteger e “blindar” Maggi de fatos que poderiam vir à tona, ainda desconhecidos, em razão do curso das investigações.
No inquérito, ainda não está clara a verdadeira participação de Blairo Maggi, se é que ocorreu. O ministro Dias Toffoli não acatou pedido do MPF para fazer busca e apreensão na casa, escritório e gabinete do senador. Seu nome figura nas denúncias por conta de citações que Éder Moraes fez a Mendonça. O empresário negou à PF que tenha se encontrado pessoalmente com o ex-governador.
“A grande maioria das vezes, Éder dizia estar a mando do governador, que na época era Blairo Maggi. Que inúmeras vezes o depoente ouviu de Éder: ‘Acabei de almoçar com o governador. Comemos um bacalhau e ele determinou que eu resolvesse esse problema’. Que o problema era sempre a solicitação de empréstimos operacionalizados pelo depoente. Que o depoente justifica sua convicção de Éder representar Blairo, pois este foi nomeado como secretário de Estado de Fazenda por Blairo. Que outro fundamento de convicção de Mendonça de que Éder Moraes falava em nome de Blairo Maggi foi quando Éder convenceu o depoente a tomar empréstimo no Bic Banco pela Amazônia Petróleo, sem que qualquer necessidade financeira por parte de sua empresa, mas sim para repassar diretamente a Éder, e questionou a facilidade na liberação dos empréstimos. Que o gerente do banco respondeu que Blairo teria conversado com um dos proprietários do Bic Banco, cuja orientação era de que atendesse todas as necessidades financeiras de Éder”.
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