Uma discussão áspera travada na última reunião do Conselho Superior do Ministério Público do Estado revela que a lista com o nome de 47 membros do MP descoberta na casa do ex-secretário de Estado, Éder Moraes (PMDB), durante a operação Ararath, deixou cicatrizes e ainda não foi completamente aceita dentro do órgão fiscalizador.
O Diário teve acesso aos áudios do encontro, que ocorreu a portas fechadas na última segunda-feira (02.06). Na ocasião, o procurador-geral de Justiça, Paulo Prado, foi cobrado incisivamente sobre a explicação que deu à imprensa, sobre a lista de promotores e procuradores que teriam cartas de crédito a receber do governo.
Diante dos questionamentos, Prado se enfureceu e, bastante exasperado, sustentou que ninguém mais do que ele deseja que os impasses sejam resolvidos.
“Essa canalhada não vai sujar o nome desta instituição, esses patifes, vagabundos, desqualificados. Tenho 25 anos de Ministério Público. Faço tudo por isso aqui. Nem que eu tenha que trocar tiro com vagabundos. Nem que eu tenha que sair na bala, mas eu vou mostrar que aqui não tem vagabundo, não”, exaltou-se, pedindo desculpas em seguida ao assumir que sofre uma pressão interna “muito grande” sobre o assunto.
Na discussão, o procurador de Justiça Luiz Alberto Esteves Scaloppe cobrou coragem a Paulo Prado para identificar o possível envolvimento de membros do MP no esquema investigado na Ararath, que ele chama de “máfia silenciosa”.
“Será mesmo que parou por aqui? As ilações que foram feitas não têm mais parada. Então, dêem seletiva, separem o joio do trigo com coragem. Não adianta fazermos discursos diplomáticos”, declarou em referência à postura do procurador-geral ao responder as denúncias que pesaram contra o órgão.
Em resposta, Prado garantiu que nenhum membro do Ministério Público está envolvido no caso e que provará isso à sociedade. “Desculpe, mas quem foi três vezes buscar depoimento de um criminoso sem a existência de inquérito foi um membro do MP. Está escrito [na denúncia do MPF]. Temos que apurar. Uma irresponsável ação não pode cair sobre nós”, devolveu Scaloppe.
Outro procurador, cuja voz não foi identificada pela reportagem, rechaçou o posicionamento de Prado, afirmando que o MPE vive um “jogo de faz de conta”.
“Vivemos como Alice no País das Maravilhas. Todo mundo é bonzinho no MP. Todo mundo é maravilhoso e não temos problemas. Então, quando temos algum problema jurídico, ele é imediatamente desqualificado e politizado e ai de quem vier aqui mudar as coisas”, alfinetou.
As referências foram às denúncias de que o promotor de Justiça Marcos Regenold, atualmente afastado de suas funções, agia como “intermediador” entre a Polícia Federal e Eder Moraes, que está preso em Brasília.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Eder recorria a Regenold pessoalmente, por telefone e mensagens, pedindo orientações de como agir diante das investigações da PF. O promotor é acusado de auxiliar o ex-secretário na tentativa de atrapalhar a operação. Uma sindicância já foi instaurada no MPE para apurar a conduta dele.
Quanto à lista com nomes de 47 membros do MPE, explicações foram cobradas porque as investigações do MPF demonstraram que apenas Marcos Regenold e o próprio Paulo Prado tinham deságio de 10% sobre os valores de suas cartas de crédito, enquanto todos os demais tinham deságio de 25%.
Estas cartas de crédito, conforme a explicação do MPE - que chegou a ser confirmada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo -, se tratavam de pagamentos de direitos trabalhistas, como férias acumuladas. Elas teriam sido negociadas com a Rede Cemat.
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