O deputado Luiz Couto (PT-PB) denunciou na tribuna da Câmara a existência de um plano para assassiná-lo por causa de denúncias feitas por ele sobre o envolvimento de policiais, comerciantes e políticos em grupos de extermínio na Paraíba. Segundo o deputado, dois pistoleiros alagoanos foram contratados para matá-lo e também a advogada Valdênia Paulino, ouvidora da Secretaria de Segurança Pública da Paraíba até ontem. Pela execução do duplo homicídio, os dois criminosos receberiam R$ 500 mil, de acordo com Luiz Couto.
O deputado, que circula sob proteção da Polícia Federal há quatro anos, disse que foi surpreendido ao desembarcar em João Pessoa na última sexta-feira (27.09), um dia após ter recebido o Prêmio Congresso em Foco como um dos parlamentares que mais se destacaram em 2013 no combate ao crime organizado.
“Fui imediatamente notificado pela Superintendência Regional da Polícia Federal para suspender todas as atividades públicas previstas para o final de semana porque, palavras textuais do delegado responsável e subscritor do documento, havia uma majoração do risco à integridade física deste parlamentar”, afirmou o deputado.
Seguindo orientação da Polícia Federal, Luiz Couto cancelou os compromissos que teria no estado, inclusive uma viagem que faria ao interior, no último final de semana. O despacho foi encaminhado ao deputado pelo delegado federal José Olegário Pereira Nunes. Com o mandato à frente da Ouvidoria concluído ontem, Valdênia deixou a Paraíba no último final de semana, sob proteção policial, por orientação da PF.
Em seu discurso (veja a íntegra), feito ontem (30) à tarde, o petista disse ter recebido a informação de que um ex-cabo da Polícia Militar, preso na Operação Squadre, seria o mentor do plano. O ex-policial é condenado por homicídio. Deflagrada em novembro do ano passado pela Polícia Federal, a operação resultou na detenção de 20 policiais militares e civis, acusados de participação em grupos de extermínio e de venderem ilegalmente armas e munições.
Denúncias contra secretário - Parte do dinheiro destinado ao pagamento pelas duas execuções, afirma o deputado Luiz Couto, circulou numa viatura da Secretaria de Administração Penitenciária da Paraíba, que teria se deslocado até Pernambuco para buscar R$ 300 mil. Segundo ele, somente o secretário de Administração Penitenciária, Walber Virgolino da Silva Ferreira, poderia autorizar a circulação do veículo. Walber afirmou à rádio CBN João Pessoa que as denúncias feitas pelo deputado eram “mentirosas” e que não iria falar sobre o assunto para não “alimentar” as acusações feitas pelo deputado.
“Outra denúncia que recebi é que o secretário Virgolino teria visitado a primeira Superintendência de Polícia Civil da Paraíba e prometido soltar o sargento Arnóbio, que responde a processos por envolvimento com grupos de extermínio na Paraíba”, declarou Luiz Couto. O deputado ainda pediu ao governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), e à Superintendência da Polícia Federal no estado que apurem as denúncias.
Histórico de ameaças - Padre ligado à chamada Teologia da Libertação, Luiz Couto foi relator na Câmara da CPI que denunciou a ação de grupos de extermínio no Nordeste, em 2005. Desde então, o deputado já recebeu diversas ameaças de morte. Em 2009, passou a receber proteção da Polícia Federal após ser apontado como o próximo alvo pelo suspeito de ser o mandante do assassinato do advogado Manoel Bezerra Mattos Neto, morto com dois tiros quatro anos atrás, na divisa entre Paraíba e Pernambuco. Militante dos Direitos Humanos, Manoel Bezerra assessorou a CPI.
Em entrevista concedida ontem ao Congresso em Foco, o deputado contou que as primeiras ameaças surgiram quando ele ainda era deputado estadual. Na ocasião, dois pistoleiros chegaram a contar que foram a João Pessoa, mas desistiram de concluir o serviço após saberem que as vítimas – Luiz Couto e o deputado estadual Frei Anastácio – eram um padre e um frade. “Recuaram. Disseram que dava azar”, diz o deputado.
Quando relatava a CPI dos Grupos de Extermínio no Nordeste, que pediu o indiciamento de mais de 300 pessoas, entre policiais, comerciantes e políticos, Luiz Couto diz que perdeu a conta do número de telefonemas ameaçadores que recebeu. “Ligavam várias vezes em casa de madrugada. Ficavam em silêncio e depois colocavam o som de uma metralhadora. E diziam: é isso que você vai receber.” Ele relata também ter recebido diversas vezes recados de teor intimidatório por meio de conhecidos. “Uma vez mandaram me perguntar se eu sabia qual era o peso de uma jamanta, pois uma iria passar por cima de mim.”
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