A CPI do Cachoeira adiou nesta quinta-feira (22) novamente a leitura do relatório do deputado Odair Cunha (PT-MG), que reúne as conclusões dos seis meses de trabalho da comissão. O documento, de mais de 4 mil páginas, só será apresentado na próxima semana, por pedido do próprio relator. Odair Cunha argumentou que gostaria de tempo para negociar o texto com os colegas de comissão.
A leitura já foi adiada três vezes. Ela estava inicialmente prevista para terça (20), mas o relator pediu mais tempo para concluir a redação. Marcada para quarta (21), a apresentação foi de novo adiada para a manhã desta quinta, após a oposição argumentar que o regimento interno do Congresso exige a entrega de cópias do relatório 24 horas antes de sua apresentação.
“Peço que adiemos a leitura do relatório para a próxima semana, para que eu possa dialogar com os parlamentares da CPI”, afirmou Cunha na sessão da CPI desta quinta. O pedido foi acolhido pelo presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB).
O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) criticou os reiterados adiamentos e disse que eles demonstram “insegurança” e “descompromisso” de Odair Cunha com o texto.
“Hoje o relator pede novo adiamento para aprimorar o relatório, colhendo sugestões. Fui relator de várias CPIs. Nunca houve uma ocasião em que o relator finalizasse o relatório e, por insegurança quanto ao seu conteúdo, adia sua apresentação”, disse. O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) discordou de Sampaio, defendendo que o ideal é negociar e chegar o mais perto possível do “voto médio”.
Divergências no texto
Uma das maiores divergências em torno do relatório de Odair Cunha é o pedido para que o Conselho Nacional do Ministério Público investigue a suposta demora do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em abrir investigação para apurar o elo do bicheiro Carlinhos Cachoeira com autoridades, como o ex-senador Demóstenes Torres e o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).
“Não pode constar da proposta do relator qualquer coisa relativa à Procuradoria-Geral da República, como se estivéssemos a tentar incriminar o procurador”, afirmou o deputado Miro Teixeira.
“O Conjunto da obra tem como foco o procurador-geral, que foi quem começou tudo isso, essa investigação. Não podemos nos cumpliciar com um feito que coloca jornalistas e o procurador-geral no foco”, afirmou ainda o senador Randolfe Rodrigues (Psol-SP).
Parlamentares também criticaram o pedido de indiciamento de jornalista da revista “Veja”.
Há dúvidas ainda sobre se o Conselho Nacional do Ministério Público teria poderes para investigar o procurador-geral. O Conselho Nacional de Justiça, órgão de fiscalização do Judiciário, não tem, por exemplo, competência para apurar feitos de ministros do Supremo Tribunal Federal.
Relatório de Odair Cunha
O relatório do deputado Odair Cunha pede o indiciamento de 46 pessoas, entre elas o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB-GO), e do presidente licenciado da Delta, Fernando Cavendish. Ele deixou o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), de fora dos pedidos de indiciamento.
Um grupo de senadores e deputados da CPI que discordam do texto de Odair Cunha anunciaram um “relatório independente”, que pede o indiciamento de Agnelo e dos governadores Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, e Siqueira Campos (PSDB), do Tocantins, por supostas irregularidades em contratos com a construtora Delta, empresa suspeita de elo com o grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso durante nove meses e libertado nesta terça (20).
O relatório será entregue por volta das 12h ao procurador-geral, Roberto Gurgel, segundo o senador Randolfe Rodrigues. O documento requer ainda que o deputado federal Sandes Junior (PP-GO) seja investigado por suposto vínculo com Cachoeira. “Também vamos pedir a quebra do sigilo e a investigação de 15 empresas fantasmas que receberam recursos da construtora Delta”, afirmou Randolfe.
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