Em reunião do Conselho Estadual da Pesca (Cepesca) realizada no dia 20 de fevereiro, o procurador de Justiça do Ministério Público Estadual, Gerson Barbosa, alertou para os impactos ambientais da prática do pesque-solte, modalidade de pesca esportiva em que o peixe é capturado e devolvido ao rio. Segundo ele, estudos científicos indicam que a técnica pode aumentar a mortalidade dos peixes em até 70%, gerando danos significativos ao meio ambiente.
Durante a reunião, transmitida ao vivo, o procurador apresentou dados de pesquisas que mostram que, após a soltura, os peixes sofrem com estresse, lesões e se tornam presas fáceis para predadores.
"Há uma taxa de mortalidade real de 60% a 70% após a soltura. Os peixes, muitas vezes já lesionados, buscam abrigo e acabam virando isca para outros animais", explicou Barbosa.
Ele citou estudos de biólogos renomados, como Francisco de Arruda Machado da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que classificam o pesque-solte como uma prática que causa sofrimento e morte aos peixes. Além disso, o procurador destacou que a modalidade é permitida pela legislação estadual, enquanto a pesca profissional enfrenta restrições, o que gera uma contradição na proteção dos recursos pesqueiros.
Debate acalorado no conselho
A discussão sobre o pesque e solte dividiu os conselheiros. Enquanto alguns defendem a prática como essencial para o turismo esportivo, outros criticam seus impactos ambientais. Luciana Ferraz, representante de organizações ambientalistas, sugeriu que, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) julga a legalidade da proibição de pesca de 12 espécies no estado, a pesca esportiva dessas mesmas espécies também seja suspensa.
Já representantes do setor turístico argumentaram que o pesque e solte é uma atividade consolidada e que gera renda para pousadas e guias de pesca. Eles propuseram a criação de campanhas educativas para ensinar técnicas adequadas de manuseio e soltura dos peixes, a fim de reduzir os danos.
Próximos passos
O Dr. Gerson Barbosa propôs a criação de um grupo de trabalho no Cepesca para discutir o tema de forma mais aprofundada, com base em estudos científicos e jurídicos. Ele se comprometeu a apresentar um relatório técnico até março, que será utilizado para subsidiar as discussões no conselho.
Enquanto isso, a polêmica sobre o pesque e solte continua, com pescadores profissionais e ambientalistas pressionando por uma revisão da legislação, enquanto o setor turístico busca manter a atividade como uma alternativa econômica para o estado.
A próxima reunião do Cepesca está marcada para 10 de abril, quando o tema deve ser retomado, com a possibilidade de novas propostas e encaminhamentos.
Impacto ambiental x interesse econômico
O debate sobre o pesque e solte reflete um conflito maior entre a preservação ambiental e os interesses econômicos. Enquanto a prática é vista como uma forma de promover o turismo e a renda local, seus impactos sobre os ecossistemas aquáticos não podem ser ignorados. A solução, segundo especialistas, pode estar no equilíbrio entre a regulamentação rigorosa e a educação ambiental, garantindo que a pesca esportiva seja praticada de forma sustentável.
Enquanto isso, o rio e seus peixes aguardam uma decisão que possa conciliar a proteção da biodiversidade com as necessidades humanas.