Em um cenário onde a tatuagem transcende a mera estética, o tatuador e ativista social Tiago Chaveiro, conhecido como Santiago Tatoo, compartilha sua jornada, refletindo sobre os desafios da profissão, suas aspirações e a intersecção entre arte e militância. Santiago é dono do estúdio Gato Preto Tatto, que além belos desenhos pelo corpo de seus clientes, também faz trabalha com piercing.
Desde a infância, Santiago se encantou com a tatuagem, inspirando-se nas experiências de vizinhos que faziam tatuagens caseiras nos anos 90. Para ele, a arte sempre teve um papel vital, mas, na época, o acesso a tatuagens profissionais era escasso. Com o passar dos anos, e especialmente após os anos 2000, a tatuagem ganhou um novo status, sendo aceita em diversas classes sociais. “O que me fez investir na arte foi a paixão e a possibilidade de viver disso”, afirma.
Entretanto, a profissão não está isenta de desafios. “Os maiores desafios são internos, relacionados à evolução pessoal do artista”, diz. Ele acredita que o acesso a materiais e ao conhecimento, que não existia anteriormente, pode ajudar a superar essas dificuldades. A busca pela evolução contínua é uma constante na sua vida.
A militância social é um aspecto central na vida de Santiago. Ele não vê como possível separar sua atuação artística de seu compromisso com as questões sociais. Ele defende que a arte deve ser um meio de conscientização e transformação social.
"Todo artista tem o dever de cumprir seu papel histórico frente ao tempo que vive. Claro que existem os artistas não militantes, e os respeitamos. Porém, particularmente, não consigo separar ambas as partes, vivendo literalmente disso. Afinal, o artista também come e quer comida real, sem venenos. O artista quer o rio limpo, fauna e flora abundantes, quer saúde e educação pública de qualidade para todos, pois também veio dessa origem. Como questão de consciência de classe, creio que estamos em todos os setores, não só no artístico", afirma.
A gratidão também permeia suas palavras ao mencionar o apoio incondicional de sua família, especialmente sua mãe. “Embora tenhamos diferenças ideológicas, nunca houve abandono. Esse apoio é essencial na minha trajetória”, comenta.
O futuro é uma questão de esperança e mudança para Santiago. Em dez anos, ele imagina um cenário diferente para sua cidade, Várzea Grande, onde as condições de vida da população melhorem. “Quero ver nossos bairros evoluindo, com saúde, educação e espaços culturais acessíveis a todos”, afirma. Para ele, a mudança social é uma responsabilidade coletiva que requer organização e engajamento popular.
A prática da tatuagem traz a ele uma profunda satisfação. “É uma honra receber a confiança das pessoas em levar minha arte na pele por toda a vida. Isso é um privilégio”, destaca. Momentos de conexão com seus clientes são especialmente gratificantes, reforçando o impacto emocional que a arte pode ter.
Refletindo sobre o passado, ele expressa um desejo de mudar as circunstâncias que afetaram sua juventude e a de muitos outros. “Queria que os jovens não se deixassem levar pela velha cartilha do sistema capitalista que abandona nossos bairros. Devemos trabalhar para que eles tenham acesso a oportunidades que nós não tivemos”, conclui.
Assim, a história de Santiago ilustra como a tatuagem pode ser uma forma de expressão artística e um veículo de mudança social, reafirmando a importância da arte na luta por uma sociedade mais justa.