O dia 10 de setembro - ‘Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio” - vem com sinal de alerta em Mato Grosso. De acordo com levantamento feito pela Superintendência do Observatório de Segurança Pública, vinculada à Secretaria de Segurança Pública do Estado de Mato Grosso (SESP-MT), o Estado registrou entre os meses de janeiro a julho um aumento de 43,93% nos casos de suicídios.
Entre os meses de janeiro a julho de 2021, Mato Grosso registrou 132 casos e no mesmo período de 2022 foram registrados 190 casos, um aumento de 43,93%. Porém, em Várzea Grande, os dados dos sete meses de 2021 em comparação ao mesmo período de 2022 apontam redução, sendo registrados 18 casos de suicídio em 2021 e 10 em 2022, redução de 44%.
O conversou com a psicóloga educacional e voluntária na Fundação Nova Suíça Rachele Steingruber, Ângela Alves sobre sinais de alerta e como buscar ajuda para evitar o suicídio. Ângela destacou a importância do diálogo na superação dos problemas, que levam à depressão. “A pessoa que não fala adoece.”
Arquivo pessoal
Pedagoga, Psicóloga, Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional em Atendimento Educacional Especializado - AEE, Consultora em Educação Especial
Segundo ela, a fala é importante, porque a pessoa precisa colocar para fora as angústias, as mágoas e a ansiedade. “É muito importante o psicólogo nesse movimento. A orientação é: busque um profissional, busque um psicólogo clínico para poder lhe dar com todas essas questões.”
“O suicídio é a tentativa de eliminar o problema, na verdade, a pessoa entra no movimento do suicídio querendo matar o problema, não a si mesmo. Então, ela tenta de todo jeito se livrar do desafio a qual ela se encontra e isso é um grande equívoco, aí que vem o trabalho do psicólogo, na questão da saúde mental, trazendo a oportunidade da fala”, disse a psicóloga.
“Falar sempre”, “Você precisa por para fora”, “Permita-se falar”, são gatilhos usados pela voluntária, para alertar aqueles que buscam ajuda nas reuniões da Fundação Nova Suíça, situada no bairro Jardim Potiguar, região do Zero Km em Várzea Grande.
“É importante pôr para fora, seja para o pai ou para o irmão. E que esse pai, esse irmão, essa mãe também tenham espaço para ouvir, porque muitas vezes, ele quer falar, mas não tem um ouvido para escutar. Aí está o desafio, esse acolher, o nosso acolher. Fazemos esse trabalho voluntário na Fundação e uma vez por mês é feita a terapia comunitária. Faz-se um círculo onde cada um coloca os seus desafios e a gente vai mediando esse processo”, contou.
A psicóloga também destacou outras iniciativas: “As pessoas que necessitam tem também o CVV que faz um trabalho muito interessante de escuta e de fala.”
Entre os sinais de alerta, Ângela chama atenção da família para observar quando uma criança se mostra muito retraída, ainda que não dê trabalho. Ela afirmou também que estão acontecendo muitos casos de automutilação.
“Aquele jovem que está muito retraído, muito quieto, aquele jovem que não dá trabalho dentro da sala de aula, mas porque ela é tão retraída, porque ela é quieta? Então, é se aproximar mais dos filhos, é ouvir mais os filhos e isso não está acontecendo”, disse.
Como profissional que atua em área especializada, Ângela também apontou a necessidade de acolhimento e de ajudar as pessoas com deficiência, os idosos e os jovens. Segundo ela, o atendimento não limita a vítima, mas também aos familiares.
“Temos deficiência que estão aprisionados no corpo. Tem deficiência que tem o cognitivo preservado, mas o corpo é todo com uma deficiência, é os cadeirantes, e aí o que acontece: vem a baixa autoestima, o complexo e isso vai ficando maçante na cabeça. A gente faz esse diálogo com eles, eles abrem esse espaço para dialogar, para pôr para fora”, disse.
A psicóloga destacou também o atendimento à família, especialmente dos alunos autistas: “Tem a família desses estudantes que também é um desafio, famílias de estudantes autistas, pai e mãe- que é um desafio lidar com isso -. Muitas vezes eles chegam a uma situação que fugir desse contexto é a solução e na verdade não é. Então, a gente trabalha esse cuidado através de palestras, de diálogos reflexivos, através da própria psicoterapia, quando há necessidade a gente encaminha para clínicas”, relatou.
Entre as observações, Ângela alertou sobre a ausência dos pais. Para a profissional, é importante os pais investirem não somente em bens, mas também alimentar os filhos com afeto, amor e atenção. Ela afirma que os jovens procuram suprir essa ausência na internet, o que alimenta ainda mais o vazio, que leva ao vazio existencial.
“O que a gente percebe (neste caso os adolescentes) pais que buscam - o ter – com jornada de trabalho intensivo, claro que para dar um conforto, mas não se preocupam com os cuidados junto a seus filhos e a sensação de abandono desses jovens é muito grande. Aí eles vão buscar o que? A rede social! E a internet é onde está alimentando esse vazio. Os nossos jovens estão vivenciando esse vazio existencial”, alertou a profissional.
Segundo a psicóloga, quando chega um adolescente ao consultório para atendimento clínico, logo pensa: “quem precisa na verdade do acompanhando são os pais, porque o jovem é um sintoma do que está recebendo.”
Ela chama atenção dos pais para a participação dos filhos na religião. Segundo Ângela, esses jovens e adolescentes precisam do acompanhamento para manter uma base. “A criança precisa de uma base religiosa, seja qual for, não importa. Nossos jovens estão sem foco, sem perspectiva e aí aparece o que? O vazio existencial e esse vazio é o caminho para o suicídio. Esse jovem passo a acreditar que o suicídio é a solução e não é!”
Entre os idosos, os sinais acontecem em razão da solidão e abandono. “Temos vários casos de idosos vindo ao suicídio. A solidão ou o abandono acaba levando eles a tirar a própria vida. Às vezes por não querer depender de ninguém”, lamentou.
A atenção à vida escolar das crianças e adolescentes também foi destaque na entrevista. Segundo a psicóloga, a comunidade escolar deve observar movimentos de bullying e agressões, que deixam os alunos deprimidos. Segundo ela, a escola precisa trabalhar “o respeito ao outro”.
“No ano passado fiquei pasma quando fiquei sabendo que um menino de nove para 10 anos cometeu suicídio por um bullying na escola, como essa escola não conseguiu enxergar isso? Como essa escola não conseguiu perceber esse movimento para com esse estudante. É uma ação que tem que ser feita dentro de todo espaço e trabalhar o respeito pelo outro.“
Homossexualismo – A psicóloga também abordou sobre a dificuldade dos jovens que estão em fase de descoberta da sexualidade. Segundo ela, na fase de adolescente ainda não é uma escolha, é compreender o que está acontecendo. Então, segundo ela, é preciso entender, acolher e respeitar.
“Vamos entrar no movimento do respeito. É compreender o filho, o que está acontecendo, muitas vezes a sociedade recrimina, crítica e exclui, e esse movimento, é o momento de acolher, de entender. É uma escolha? Beleza, e nós precisamos respeitar essa escolha e não é isso que acontece na sociedade, então, eles já entram nesse movimento dessa negação da sociedade, aí entra a depressão, conflitos existenciais íntimos: será que é isso? será que não é? Como as pessoas vão me olhar. Então, a orientação é busque um profissional, busque um psicólogo clínico para poder lhe dar com todas essas questões”, encerrou.
Leia também
Servidora da Secretaria de Educação de Cuiabá morre após complicações em cirurgia
Entre no grupo do VGNotícias no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).