Emerson Ferretti, ex-goleiro do Flamengo e atual presidente do Esporte Clube Bahia, falou pela primeira vez abertamente sobre as dificuldades que enfrentou ao longo de sua carreira como um homem gay em um ambiente onde a homossexualidade ainda é um tabu. Aos 50 anos, Emerson é o primeiro presidente assumidamente homossexual de um clube de futebol brasileiro.
Em uma entrevista concedida ao jornalista Bob Fernandes no canal "TVE Bahia", no YouTube, Emerson Ferretti destacou o quanto sua trajetória profissional foi marcada pelo medo e pelo isolamento. “O processo todo foi muito solitário, desde a adolescência, quando comecei a perceber e entender a minha sexualidade, sem poder falar com ninguém. Nem com a família, nem com os amigos, e muito menos dentro do futebol. Foi realmente muito solitário”, relembrou Ferretti.
Durante a conversa, o ex-goleiro compartilhou os esforços que fez para esconder sua verdadeira identidade, incluindo a invenção de um noivado para evitar perguntas pessoais. “Precisei esconder esse fato durante toda a minha carreira, para me preservar, preservar minha carreira, para sobreviver no meio do futebol. Consegui isso, tanto é que joguei até onde achei que deveria, aos 35 anos”, afirmou ele.
O ex-atleta destacou o peso da homofobia no futebol, um esporte historicamente marcado por machismo e intolerância. “Infelizmente, precisávamos criar discursos e personagens para nos proteger. Muitos atletas gays acabam até casando para afastar qualquer suspeita sobre a sexualidade deles. Isso é muito triste, ter que representar o tempo todo”, lamentou Ferretti.
Hoje, Emerson namora o bailarino e jornalista Jordan Dafner. A decisão de se assumir publicamente veio após anos de reflexão e é um passo significativo para trazer visibilidade a um tema negligenciado no futebol. “Essa tomada de decisão aconteceu justamente para jogar luz sobre um assunto que não é conversado no meio do futebol. Mas existem muitos gays, não fui o único, e todos eles precisam se esconder”, disse ele.
Ferretti acredita que sua voz pode ajudar a criar um ambiente mais inclusivo e seguro para outros jogadores e jovens que sonham com uma carreira no futebol. “O caráter, o talento, não se mede pela sexualidade. O fato de ser gay não me impediu em momento nenhum de ser um goleiro que entregasse desempenho nos clubes em que joguei”, afirmou ele.
A entrevista de Emerson Ferretti com Bob Fernandes também trouxe à tona uma antiga conversa entre os dois, em que o então goleiro, ao ser questionado sobre sua vida pessoal, sentiu-se obrigado a mentir sobre um noivado para se proteger. “Era um discurso que às vezes era necessário por causa da cobrança social muito grande em relação a namoro, casamento, a uma presença feminina ao lado. Infelizmente, tínhamos que usar esse discurso como uma das formas de nos protegermos”, relembrou ele.
“Falar sobre isso e virar uma referência acredito que ajudará muitos que estão no futebol ou até mesmo garotos gays que pretendem ser jogadores a se aproximar e enfrentar isso”, concluiu Ferretti.
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