Em uma edição histórica do Oscar, a espanhola Karla Sofía Gascón tornou-se a primeira mulher transgénero indicada ao prêmio de Melhor Atriz. A indicação é pelo filme Emília Pérez, que também lidera as nomeações deste ano, concorrendo em 13 categorias. A conquista é um marco para a representatividade LGBTQIA+ na indústria cinematográfica, mas também trouxe desafios à atriz, que tem enfrentado ataques online vindos de fãs brasileiros, em razão da disputa com Fernanda Torres, indicada pelo filme brasileiro Ainda Estou Aqui.
Durante uma entrevista ao g1, Gascón revelou o impacto dos ataques e fez um apelo bem-humorado à sua concorrente brasileira: “Fernanda, por favor, um abraço. Te amo muito. Me ajuda com essa galera”. A declaração veio acompanhada de elogios tanto ao trabalho de Fernanda quanto ao filme brasileiro.
Aos 52 anos, Karla Sofía Gascón vive o auge de sua carreira. Natural de Alcobendas, na Espanha, ela iniciou sua jornada no entretenimento em séries espanholas como El Súper e Calle Nueva. Sua carreira deslanchou de vez ao cruzar o Atlântico, onde se destacou em novelas mexicanas como Corazón Salvaje e El Señor de los Cielos. Em 2018, Gascón iniciou sua transição de gênero, um processo que impactou tanto sua vida pessoal quanto profissional. Hoje, ela é um dos maiores nomes da representatividade trans no cinema.
Sua indicação ao Oscar não foi o primeiro reconhecimento internacional. Em maio, Gascón levou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes, onde também fez história como a primeira mulher trans a receber o título. Em seu discurso, ela dedicou a vitória a todas as pessoas que enfrentam discriminação diariamente: “Sofremos ódio todos os dias, mas continuamos aqui, criando, resistindo e vivendo”.
Apesar de toda a tensão gerada nas redes sociais, Gascón reafirmou sua admiração pelo Brasil, lembrando o carinho do público brasileiro durante sua participação na novela Rebelde. “Eu adoro o Brasil. Acho que o público da internet não é o público de verdade”, comentou ela. A atriz também destacou que sua intenção é celebrar a arte, não fomentar rivalidades: “Para mim, não é uma competição. Muito menos acho que seja bom que, para que seu filme seja relevante, tenha que diminuir os outros”.
No entanto, as críticas e comparações continuam intensas. Segundo Gascón, sua caixa de mensagens foi inundada com comentários como “Fernanda Torres é melhor que você” e “você não merece”. A atriz, porém, reafirmou que não viu nenhuma tentativa de desmerecimento de Ainda Estou Aqui por parte da equipe de Emília Pérez. Ao contrário, ela defende que ambas as produções são dignas de reconhecimento.
O Filme que Quebra Barreiras
Emília Pérez, um drama em formato musical, explora temas contemporâneos como identidade, violência e corrupção, ambientado no México. No filme, Gascón interpreta Manitas, um narcotraficante que busca uma cirurgia de afirmação de gênero para viver como Emília, a personagem-título. A atuação intensa e pessoal de Gascón foi amplamente elogiada pela crítica, inclusive pelo diretor Jacques Audiard, que destacou como a atriz trouxe profundidade e bagagem emocional ao papel.
A produção também gerou polêmicas, desde as representações culturais do México até a abordagem de questões trans. Contudo, o impacto positivo do filme em abrir discussões sobre diversidade supera as críticas.
Ao final da entrevista, Gascón deixou uma mensagem clara: “Quero lembrar às famílias que amem seus filhos. Ainda hoje há quem prefira que seus filhos sejam criminosos a gays”.
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