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Variedades Terça-feira, 07 de Março de 2023, 07:45 - A | A

Terça-feira, 07 de Março de 2023, 07h:45 - A | A

escravidão

Idoso é resgatado após 40 anos em situação análoga à escravidão: ‘Era tratado como bicho’

João, como é conhecido, vivia em situação análoga a escravidão há quase 40 anos em uma fazenda de café. Vive agora em uma casa de repouso da cidade

Bhaz

Um idoso de 74 anos foi resgatado de uma fazenda de café no município de Bueno Brandão, no Sul de Minas. João, como é conhecido, vivia em situação análoga a escravidão há pelo menos 40 anos.

O mineiro estava alojado em uma casa rústica com iluminação precária e sem higiene, sem portas evitando a entrada de animais silvestres, dormindo sobre espuma velha de colchão, e consumindo água diretamente da torneira, sem qualquer processo de purificação.

A operação ocorreu entre os dias 24 e 30 de janeiro e foi coordenada por Auditores-Fiscais do Trabalho do Grupo Especial de Fiscalização Móvel, vinculados à Secretaria de Inspeção do Trabalho. Ao BHAZ, o auditor do trabalho Filipe Nascimento, que participou do resgate, disse ter sido profundamente marcado por tudo o que viu.

“O lugar em que estava era muito bonito para passear, você olha os casebres e não imagina que tinha um senhor que trabalha lá dentro em situações degradantes. Quando ele nos contou que vivia ali há 40 anos, aquilo me tocou muito. Ele poderia ser o pai de qualquer um de nós”, comenta ele.

Trabalhador era ridicularizado

O idoso, que possui deficiência visual e cognitiva, trabalhava unicamente em troca de comida, sem receber nenhum tipo de remuneração. O trabalhador não era pago pelos trabalhos que era ordenado a executar na fazenda, em que capinava os pastos, cultivava café e tratava dos brejos junto a porcos.

“Por sua condição cognitiva, ele não tomava banho, não sabia o dia da semana que era, não sabia quem era o presidente do país. O proprietário alegou que João era da família, mas ele definitivamente não era. Ele era tratado como uma propriedade, um bicho, era ridicularizado por todos que estavam ali e chegou a ser apelidado de ‘João do Brejo'”, explica.

João foi resgatado após passar mal e ser levado a um posto de saúde da região. Como ele não apresentou nenhum documento, o médico desconfiou da situação e acionou a assistência social, que teve dificuldade de acessar o local em que o trabalhador vivia.

‘Não tinha dimensão da falta de dignidade’

Às autoridades, o proprietário da fazenda conta que o trabalhador em condição de vulnerabilidade e reduzido às condições de trabalho degradante havia chegado à fazenda quase quatro décadas atrás vagando pelos campos, já sempre fazendo afirmações desconexas, e foi aproveitado para tratar inicialmente dos brejos junto aos porcos do terreno.

O fazendeiro possui passagem pela polícia pelos crimes de furto, interceptação e porte ilegal de armas. Após ser resgatado, João foi submetido a avaliação médica e atualmente reside na casa de repouso Recanto Santa Luzia, em Bueno Brandão.

“Ele não tinha nenhuma dimensão da falta de dignidade que era imposta a ele. Não é nenhum exagero falar que ele não tem sonhos mais distantes que um animal de estimação tem”, lamenta o auditor Filipe.

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