O Brasil vive uma mudança religiosa significativa. A população evangélica cresce de forma acelerada e já redesenha o perfil de fé do país. Esse é o ponto central do documentário “Crentes – Além dos Muros”, da GloboNews. A produção apresenta um retrato atual e aprofundado de como o Brasil está se tornando um país majoritariamente evangélico, com destaque para o papel decisivo das igrejas de bairro nas periferias e áreas do interior.
Segundo o documentário, a maioria das congregações evangélicas não pertence a grandes templos, mas a pequenas igrejas espalhadas por comunidades carentes. São espaços simples, que funcionam como verdadeiras redes de solidariedade, espiritualidade e acolhimento para uma população majoritariamente preta ou parda, jovem, periférica e feminina.
De acordo com informações do programa Fantástico exibido na noite desse domingo (04.04), essas igrejas não apenas acolhem a fé dos seus membros, mas também promovem transformações sociais em suas comunidades. Em Natal (RN), por exemplo, a professora Kelly Lima lidera um grupo de mulheres evangélicas que, desde 1996, atua na pacificação da comunidade Novo Horizonte — antiga favela do Japão. “Quatro mulheres foram contratadas para visitar as famílias da comunidade. Isso começou a mudar a realidade da violência”, conta Kelly no documentário.
O pastor Bruno trabalha com a recuperação de dependentes químicos, enquanto a missionária Cleide Soares oferece apoio espiritual a mulheres no sistema prisional. São ações silenciosas, mas poderosas, que mostram como a fé evangélica ultrapassa os muros dos templos e atua diretamente no cotidiano das pessoas, afirmou a reportagem.
O documentário ainda destaca que o Brasil conta com quase 110 mil igrejas evangélicas com registro formal — número de 2019, que pode ser ainda maior hoje, considerando os templos que funcionam informalmente. “A gente pode ver essa diversidade em dois grupos principais: os evangélicos históricos, ligados à classe média, e o pentecostalismo, mais popular e fragmentado em milhares de ministérios diferentes”, explicou o antropólogo Juliano Spyer, pesquisador do tema.
Spyer também mostra como essa multiplicidade se manifesta no cotidiano. No bairro do Grajaú, na zona sul de São Paulo, ele mapeou igrejas em cada esquina, muitas vezes de diferentes ministérios da mesma denominação. A religiosidade está, inclusive, presente no comércio local, com nomes de estabelecimentos que refletem a fé evangélica, como o “Bar da Rose – Deus é Fiel”.
O avanço evangélico também levanta alertas. O pastor José Marcos, de Recife, faz um apelo por mais respeito às diferentes crenças: “Não pode ter intolerância religiosa. Se a gente não botar freio nisso, a gente vira um talibã gospel.” (Com informações da TV Globo)
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