Nada aconteceu aos poucos na vida de Carlos Roberto de Oliveira. Sempre foi uma surpresa, uma explosão. Como Dinamite.
O maior artilheiro da história do Vasco (622 gols), principal goleador do Campeonato Brasileiro (190 gols) e integrante da seleção brasileira em duas Copas do Mundo (1978 e 1982) nem deveria ter sido jogador de futebol.
Aos sete anos, o garoto que entraria para a história como Roberto Dinamite teve diagnosticado um tumor na coxa esquerda. Ficou três meses sem sair da cama. Teve outro problema na mesma perna e passou por duas cirurgias quando chegou aos 12.
Os médicos duvidaram que ele poderia voltar ao esporte que praticava todos os dias no campo ao lado de sua casa, na Ilha do Governador, Rio de Janeiro.
O goleador que marcou época no futebol nacional entre os anos 1970 e 1980 morreu neste domingo (8), aos 68, por consequência de câncer no intestino. A doença foi diagnosticada no final de 2021.
Dois anos após a cirurgia na perna, aos 14, ele entrou nas categorias de base do Vasco com o apelido de Calu.
Dos seus 20 anos como atleta profissional, 18 foram em São Januário.
Quando o clube conquistou pela primeira vez o título nacional, em 1974, Roberto consolidou de vez o seu nome como um dos principais atacantes do país.
Foi o artilheiro do torneio naquele ano, com 16 gols. Repetiria o feito duas décadas depois em 1984.
O apelido surgiu por causa do hoje extinto Jornal dos Sports. Antes de partida contra o Internacional, no Brasileiro de 1971, o diário escreveu sobre o que seria a segunda aparição do então menino de 17 anos, com a manchete: "Vasco escala garoto-dinamite".
Ele fez um gol no confronto e a publicação estampou no dia seguinte: "Garoto-dinamite explodiu."
Ele foi o astro da equipe nos títulos cariocas de 1977, 1982 e 1987.
Dividiu o ataque com Romário na conquista de 1988 e fazia parte do elenco em 1992.
"Foram vários jogos de títulos, mas acho que meu principal momento não foi nenhum desses.
Foi contra o Corinthians", opinou.
A referência é à partida contra o alvinegro paulista pelo Brasileiro de 1980. Após pouco mais de seis meses frustrantes no Barcelona-ESP e descartado pelo técnico argentino Helenio Herrera, esteve perto de retornar ao Brasil, mas para jogar com Zico no Flamengo.
Na última hora, o Vasco apresentou proposta e ele decidiu voltar para casa.
A reestreia, contra o Corinthians, terminou com goleada por 5 a 2. Roberto anotou cinco vezes.
Depois disso, a não ser por empréstimo para a Portuguesa (1989) e Campo Grande (1991) passou toda a carreira no Vasco, mesmo clube em que depois seria presidente duas vezes, entre 2008 e 2014. Na primeira eleição, derrotou o grupo liderado por Eurico Miranda (1944-2019), que dominava a política vascaína desde os anos 1980.
Sentou-se na cadeira por causa da condição de ídolo da torcida, mas teve uma administração com altos e baixos dentro de campo e repleta de problemas financeiros. Em seu primeiro ano como mandatário, o time foi rebaixado para a Série B pela primeira vez em sua história. Foi campeão da Copa do Brasil de 2011.
Dinamite já tinha, também graças à sua fama no futebol, experiência política. Foi vereador no Rio de Janeiro entre 1993 e 1994, deputado estadual entre 1995 e 2015.
Nem os problemas administrativos em São Januário o frustraram tanto quanto suas passagens pela seleção brasileira. Ele sempre acreditou que poderia ter mostrado mais em Copas do Mundo.
Começou como reserva de Reinaldo no torneio da Argentina, em 1978. Fez contra a Áustria o gol da classificação para a segunda fase e não saiu mais da equipe.
Quatro anos mais tarde, na Espanha, não entrou em campo. Nas cinco partidas disputadas pelo Brasil foi reserva de Serginho Chulapa.
"Acho que poderia ter ajudado mais a seleção", sempre disse.
Com o passar dos anos e a perda da potência física, aprimorou ainda mais uma que já era de suas principais virtudes: as batidas de falta. Tornou-se um dos maiores cobradores do futebol nacional em todos os tempos.
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