Dos 27 titulares da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, responsável pela sabatina de Raquel Dodge, indicada para o comando da Procuradoria-Geral da República (PGR), 19 estão enrolados na Justiça ou foram citados em investigações
À frente da PGR, a sucessora de Rodrigo Janot tem como uma das funções investigar pessoas com foro privilegiado, como os parlamentares. O próprio presidente Michel Temer, responsável pela indicação da procuradora, é alvo de denúncia por corrupção passiva.
Onze parlamentares do colegiado respondem a inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), outros foram citados em delações da Operação Lava Jato ou são alvos de outras investigações.
Subprocuradora-geral, Dodge foi indicada para o cargo na última quarta-feira (28), após ficar em segundo lugar na lista elaborada pela ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República). Ela conta com apoio de caciques do PMDB, como o ex-presidente José Sarney e o senador Renan Calheiros (AL). Nos outros partidos, também não há resistência à nomeação, apesar de a procuradora não ter sido a primeira da lista.
Nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, o presidente da República tem indicado o nome com mais votos na ANP. Desta vez, contudo, o primeiro lugar ficou com o vice-procurador-geral eleitoral, Nicolao Dino. No processo que julgou a cassação da chapa Dilma-Temer, ele pediu a perda do mandato do peemedebista.
Após ser aprovado na CCJ, a indicação da nova procuradora-geral da República precisa de 41 votos em plenário.
Presidente da comissão, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) responde a cinco inquéritos que investigam corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
Três são relacionados à Operação Lava Jato; um apura fraudes na usina de Belo Monte e outro investiga irregularidades envolvendo a Diamond Mountain, nas Ilhas Cayman.
Em delação, Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, cita o peemedebista como beneficiário de R$ 1 milhão para favorecer a empresa em consórcio responsável pelas obras da usina nuclear Angra 3. Lobão foi ministro de Minas e Energia nos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Já o ex-presidente da Andrade e Gutierrez Energia, Flávio David Barra, afirmou, também em delação, que o parlamentar foi o responsável por coordenar o recebimento de propinas para o PMDB envolvendo as obras de Angra 3 e de Belo Monte.
Lobão nega as acusações e diz que não há provas. Ao assumir o comando da CCJ, em fevereiro, o senador disse que não havia constrangimento em ser investigado.
Citado na delação da Odebrecht, Antonio Anastasia (PSDB-MG) é é suspeito de receber vantagens indevidas em forma de doações de campanha eleitoral em 2009 e 2010. Segundo os delatores Sérgio Luiz Neves e Benedicto Barbosa, a empreiteira doou R$ 1,8 milhão em 2009 para a campanha do tucano ao governo de Minas Gerais a pedido do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Em 2010, os colaboradores falaram em repasses de R$ 5,47 milhões.
Segundo o ex-executivo da Odebrecht Benedicto Júnior, Aécio pediu à construtora doação de R$ 6 milhões via caixa dois para a campanha eleitoral de 2014 e Anastasia seria um dos beneficiados.
A assessoria de imprensa de Anastasia informou que, em toda a sua trajetória política e pessoal, ele nunca tratou de nada ilícito com ninguém.
Ex-ministro de Minas e Energia do governo Dilma, Eduardo Braga (PMDB-AM) é investigado por recebimento de propina da Construtora Camargo Corrêa pela obra da Ponte Rio Negro, no estado do Amazonas, onde Braga governou de 2003 a 2010. Ele aparece ainda na planilha da Odebrecht como beneficiário de um repasse de R$ 1 milhão. Quando o inquérito foi aberto, o peemedebista disse que aguardaria "com tranquilidade o resultado das investigações".
Também alvo da Lava Jato, Valdir Raupp (PMDB-RO) responde a sete inquéritos. Em um dos processos, o senador é réu. De acordo com a denúncia, o parlamentar é acusado de receber R$ 500 mil em doações eleitorais da empreiteira Queiroz Galvão. A defesa sustenta que ele não ofereceu uma contrapartida.
Ex-ministra da Cultura de Dilma e do Turismo, no governo Lula, Marta Suplicy (PMDB-SP) é investigada por caixa dois na Lava Jato. Marido da senadora e responsável pela arrecadação de fundos nas campanhas o empresário Márcio Toledo teria pedido cerca de R$ 1,05 milhão à Odebrecht, de acordo com delatores. Ela nega as acusações e diz que sua conduta "sempre foi baseada nos princípios éticos que marcam toda sua vida pública".
Outro citado na delação da Odebrecht é Jorge Viana (PT-AC). De acordo com delatores, ele e o irmão, governador do Acre, Tião Viana (PT), receberam R$ 2 milhões para a campanha de 2010, ao governo do Estado, sendo R$ 1,5 milhão pago via caixa dois. O petista disse que as doações foram legais.
Ex-ministro de Relações Exteriores de Temer, José Serra (PSDB-SP) é investigado por receber pagamentos irregulares da Odebrecht em troca da defesa de interesses da empreiteira. De acordo com delatores, foram R$ 2 milhões para campanha à Prefeitura de São Paulo em 2004 e de R$ 4 milhões para campanha ao governo do Estado em 2006.
Em 2008, Serra e teria pedido R$ 3 milhões para campanha à prefeitura da capital. Em 2009, a empresa teria repassado R$ 23,3 milhões para custear campanhas majoritárias, inclusive a de Serra à Presidência da República no ano seguinte. O tucano afirma que não cometeu nenhuma irregularidade e que suas campanhas "foram conduzidas pelo partido, na forma da lei".
Já Ronaldo Caiado (DEM-GO) é alvo de inquérito por crime de lesão corporal. O ex-prefeito do município de Turvânia acusa o democrata de ordenar que seguranças o agredissem em 2010, quando Caiado era deputado federal.
Já os senadores Maria do Carmo Alves (DEM-SE) e Eduardo Amorim (PSDB-SE), suplente na CCJ, teriam recebido R$ 600 milhões em caixa dois nas eleições de 2014, segundo investigações da Lava Jato. Amorim negou as acusações.
Benedito de Lira (PP-AL) responde a três inquéritos.O Ministério Público Federal já pediu a condenação do senador e do filho, deputado Arthur Lira (PP-AL), pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro e a devolução de R$ 7,8 milhões aos cofres públicos. A defesa dos dois nega irregularidades.
Presidente do PT, a senadora Gleisi HoffMann (PR) e o marido, ex-ministro Paulo Bernardo, foram indiciados por suspeitas de que dinheiro desviado da Petrobras abasteceu em 2010 a campanha ao Senado da parlamentar. A defesa sustenta que as provas do inquérito demonstram que o casal não recebeu o dinheiro.
Jader Barbalho (PMDB/PA) responde a inquérito aberto em 2010 por crimes contra a ordem tributária. Ele também foi citado na Lava Jato.
Já José Pimentel (PT-CE) foi citado na Operação Zelotes, que investiga esquema de corrupção no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf), órgão colegiado do Ministério da Fazenda, responsável por julgar os recursos administrativos de autuações contra empresas e pessoas físicas por sonegação fiscal e previdenciária.
Lasier Martins (PSD-RS) é investigado por agredir a esposa, a jornalista Janice Santos. Na época, ele negou a acusação e disse que o casal estava se separando.
Na delação da JBS, aparecem como beneficiados pelas doações da empresa os senadores Angela Portela (PDT-RR), Fátima Bezerra (PT-RN), José Maranhão (PMDB-MA), Paulo Bauer (PSDB-SC), Simone Tebet (PMDB-MS), além de Anastasia, Lira, Braga, Gleisi, Jader Barbalho, Serra, Suplicy e Raupp.
O diretor da JBS Ricardo Saud listou repasses que somam quase R$ 600 milhões para 1.829 candidatos de 28 partidos. De acordo com ele, a empresa conseguiu eleger 179 deputados federais, 28 senadores e 16 governadores. Todos senadores negam irregularidades nos repasses.
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