Em quase sete horas de depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, a ex-presidente da estatal, Maria das Graças Foster, disse que só foi informada de corrupção na estatal petrolífera em 2014, com a Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF). Ela defendeu a gestão da empresa e disse que a operação da PF fez “um enorme bem à companhia”, já que a obrigou a adotar práticas preventivas de controle interno e externo.
Graça Foster foi ouvida pela CPI na qualidade de testemunha e se comprometeu a dizer a verdade. Foster estava acompanhada de três advogados. Apesar de defender seu legado na empresa e ter dito que fez o possível para defender a companhia, Graça Foster disse que a Petrobras merecia um gestor melhor que ela. “Alguém que identificasse esse tipo de caso de corrupção”, disse ela. Segundo Graça Foster, o esquema de corrupção na empresa “se formou fora da Petrobras” e “não era institucionalizado”.
Para o relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), o depoimento de Graça Foster "trouxe esclarecimentos importantes". Segundo ele, "a sua convicção de que a corrupção foi um conluio entre ex-diretores, empresas, mas que ocorreram de fora para dentro da Petrobras, eu acho que isso vai conformando um juízo de valor acerca dessa questão".
Auditoria - Ela informou que a Price Waterhouse, empresa de auditoria externa contratada pela Petrobras, avalizou sem ressalvas as contas da empresa a respeito do primeiro trimestre de 2014, período que coincide com o início da Operação Lava Jato.
Ela acrescentou que a Price só mudou o parecer depois da divulgação dos depoimentos dos delatores Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e do doleiro Alberto Youssef, um dos operadores do esquema bilionário de desvios na empresa, segundo a denúncia de corrupção e lavagem de dinheiro do Ministério Público Federal, aceita pela Justiça Federal do Paraná.
A partir da Operação Lava Jato, segundo ela, a Price Waterhouse recomendou a criação de uma comissão interna para investigar as denúncias de corrupção. Essa comissão foi criada e duas empresas contratadas para fazer uma investigação interna, a TRW e a Gibson.
Esquema externo - A ex-presidente da Petrobras defendeu os procedimentos adotados nas licitações e contratações, negou o vazamento de informações privilegiadas e deu uma explicação para o aumento dos custos iniciais de obras e contratos. Segundo ela, os aditivos firmados pela estatal com empresas contratadas para a execução de obras tinham como origem a deficiência dos projetos básicos. Estes aditivos multiplicavam os custos dos projetos.
Graça Foster admitiu que isso aconteceu na construção da refinaria Abreu e Lima (PE), que teve custo inicial estimado em 2,5 bilhões de dólares, valor que subiu para 18,5 bilhões de dólares ao final da construção. “Se você não tem projetos básicos de qualidade, você vai ter aditivos. Na Abreu e Lima, a questão principal foram as mudanças sucessivas no projeto. Até as características do petróleo que seria refinado ali mudaram durante o processo”, explicou.
A ex-presidente da Petrobras disse que a empresa cometeu um erro ao divulgar o valor inicial da refinaria Abreu e Lima como sendo de 2,5 bilhões de dólares. “A previsão inicial correta seria um custo de cerca de 14 bilhões de dólares”, disse a ex-presidente da estatal. Ela admitiu como razoável uma margem de diferença de preço de 20% acima do valor previsto em contratações. “Dá para trabalhar com margens menores que essa desde que haja um projeto básico realista”, disse ela.
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