O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) voltou a afirmar, em Plenário, inocência com relação às acusações de que teria usado seu mandato a serviço de Carlinhos Cachoeira, apontado como líder de uma organização criminosa. Em pronunciamento de pouco mais de vinte minutos, nesta segunda-feira (2) o senador se disse vítima de uma campanha difamatória, questionou as escutas feitas pela polícia e se desculpou com os colegas que o apoiaram quando surgiram as primeiras denúncias.
– Não me pesa a consciência; ela continua limpa. O que pesa é carregar pelo isolamento dos corredores os grilhões impostos pelos holofotes - disse o senador.
Demóstenes Torres afirmou ter relação de amizade com Carlinhos Cachoeira, mas negou manter qualquer negócio com o empresário goiano, acusado, entre outros crimes, de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O senador rebateu pontos do parecer apresentado pelo senador Humberto Costa ao Conselho de Ética, a favor de sua cassação, em que é classificado como “despachante de luxo” de Cachoeira. O parecer foi aprovado por unanimidade no Conselho.
– Não, eu não coloquei meu mandato a serviço de Cachoeira, mas tão somente à disposição das forças produtivas do meu estado e do Brasil - afirmou o senador, que garantiu ter atendido todos os setores da economia que o procuraram.
Demóstenes também negou ter recebido vantagens indevidas em troca de atuação num determinado sentido no Senado, ou ter mantido servidores fantasmas em seu gabinete, outros pontos mencionados no parecer. Também afirmou nunca ter procurado colegas para tratar da legalização de jogos, uma das atividades atribuídas ao grupo investigado.
Montagem
O senador voltou a questionar a legalidade das gravações feitas pela Polícia Federal e divulgadas pela imprensa, tanto na coleta da prova quanto na transcrição, que traria “maldosas fraudes realizadas pela polícia”. O pedido de perícia feito pela defesa do senador ao Conselho de Ética foi negado. Para Demóstenes, as falas foram montadas para prejudicá-lo.
– O que coloca a população contra o homem público são três providências tomadas pela Polícia e o Ministério Público federais antes da divulgação: a edição, a montagem e a interpretação dos diálogos – acusou o senador.
Ainda de acordo com Demóstenes, das 250 mil horas de gravação feitas pela PF, apenas 150 minutos foram transcritos, dos quais só três minutos foram usados no parecer do conselho pela sua cassação.
O trecho mais repetido, no qual teria dito “te pega” a Cachoeira ao analisar um projeto que tornaria crime a exploração de jogos sem autorização, é, segundo o senador, uma parte de uma informação sobre projeto de interesse legítimo da sociedade. Para ele, é desproporcional tirar o mandato de um senador que transmite a alguém a situação de uma proposição.
– Dentro de 250 mil horas de gravação, pode ser cassado um mandato de 2 milhões de votos por causa de seis letras, três sílabas, duas palavras e uma interpretação – disse Demóstenes. que lembrou o fato de a informação não ter resultado em prejuízo ao Erário.
O senador criticou o vazamento à imprensa de informações em “pílulas”, repetidas à exaustão, e citou a quantidade de reportagens e postagens críticas em redes sociais, publicadas diariamente. Para Demóstenes, a estratégia é reutilizar as acusações para ter, continuamente, a aniquilação de sua imagem.
– No âmbito jurídico, sequer fui acusado, mas no tribunal das manchetes já fui denunciado, julgado e condenado. Estou no cumprimento da pena mais cruel que possa ser imposta a um homem direito.
Apoio
Apesar de reafirmar sua inocência, Demóstenes se desculpou com os colegas por possíveis constrangimentos gerados pelas denúncias. O senador afirmou não ter procurado todos por falta de oportunidade e, em alguns casos, por vergonha.
Além de dizer que entende as desconfianças, dada a proporção da “campanha difamatória”, Demóstenes citou nominalmente os 44 colegas que o apartearam no dia 6 de março, quando subiu à tribuna, pela primeira vez, para se defender.
– Vossas excelências verão que os apartes àquele pronunciamento em 6 de março não foram em vão, não mais lhes causarão qualquer decepção ou constrangimento – assegurou.
Demóstenes afirmou que subirá à tribuna todos os dias, até 11 de julho, data prevista para a votação em Plenário do pedido de cassação do seu mandato. Para o senador, o tempo para a sua defesa – de até 30 minutos – será curto, motivo pelo qual pretende apresentar sua versão antes, por partes.
No plenário, a votação será secreta. Antes, nesta quarta-feira (4), a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) votará o relatório de Pedro Taques (PDT-MT) pela admissibilidade do parecer do Conselho de Ética.
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