A formação da nova Mesa Diretora da Câmara de Cuiabá tem gerado desconforto entre os vereadores, em razão da interferência atribuída ao prefeito eleito Abílio Brunini (PL) e ao deputado estadual Faissal Calil (Cidadania). Este último tem defendido o nome de sua irmã, Paula Calil (PL), para a Presidência da Mesa Diretora, o que tem provocado insatisfação e divisão no parlamento.
Em entrevista concedida ao portal nesta terça-feira (12.11), o vereador Chico 2000 (PL), atual presidente da Câmara, afirmou que a Presidência da Casa deve ser ocupada por alguém com experiência acumulada em mandatos ou com amplo conhecimento sobre o funcionamento interno do parlamento. “Quando se coloca alguém sem experiência, os resultados não têm sido positivos”, declarou Chico 2000, ressaltando que não foi chamado para discutir, tampouco consultado sobre a composição da nova Mesa Diretora.
O parlamentar destacou que o atual cenário conta com 16 vereadores reeleitos, cuja experiência é vista como um fator importante para a condução eficiente dos trabalhos legislativos. Contudo, essa situação tem gerado atritos com os vereadores novatos que almejam posições de destaque na Casa. “Nada contra os novos vereadores, mas a experiência faz diferença para conduzir os trabalhos de forma eficiente e harmônica”, justificou.
Suposta interferência externa aprofunda divisões
Outro fator de tensão destacado é a interferência externa, tanto por parte do prefeito eleito quanto do deputado Faissal Calil. Essa prática, criticada por diversos vereadores, é vista como uma ameaça à autonomia do Legislativo. “O prefeito eleito sempre declarou que não interferiria nos poderes, mas o que estamos vendo contradiz essa postura”, afirmou Chico 2000, que se mantém afastado das discussões sobre a composição da Mesa. “A interferência do Executivo desorganiza o parlamento e cria conflitos que poderiam ser evitados”, lamentou o presidente, acrescentando que a ingerência prejudica a articulação de uma Mesa Diretora que seja representativa e independente.
Acusações de manipulação e judicialização
As divergências geradas por esse cenário chegaram ao campo jurídico. O prefeito eleito, que também é atual deputado federal, Abílio Brunini foi acionado no Supremo Tribunal Federal (STF) por declarações genéricas e acusatórias sobre suposto envolvimento de vereadores com facções criminosas de Mato Grosso. Candidato à Presidência da Câmara de Cuiabá, o vereador Pastor Jeferson Siqueira (PSD) interpelou Abílio Brunini, exigindo que ele comprove as alegações de ligação de vereadores do Legislativo com a facção criminosa Comando Vermelho.
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Segundo Chico 2000, Abílio fez afirmações públicas sem identificar responsáveis ou apresentar provas concretas sobre as supostas práticas que comprometeriam a integridade da Casa. “Quando você faz uma acusação sem provas e sem citar nomes, joga o parlamento inteiro na lama”, declarou o atual presidente.
Sessões marcadas por clima tenso
As sessões plenárias da Câmara de Cuiabá também têm refletido o clima de instabilidade política. Discursos exaltados e confrontos diretos entre os vereadores têm marcado os debates sobre a formação da Mesa Diretora. Em uma dessas declarações, na sessão desta terça-feira (12), o vereador Rogério Varanda (PSDB) criticou o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União), e o prefeito eleito Abílio Brunini, por insinuarem o envolvimento de vereadores eleitos com facções criminosas.
Ao defender a Câmara Municipal, Varanda ironizou o posicionamento do governador, que não mencionou que seu ex-secretário estadual de Ciência e Tecnologia (Seciteci), Nilton Borges Borgato, foi preso em um esquema de tráfico internacional de drogas em 2022. Ele também criticou o prefeito eleito, Abílio Brunini (PL), que apontou, sem provas, suposto financiamento da eleição da Mesa Diretora da Câmara, enquanto indicou o empresário Fernando Medeiros para comandar a Secretaria de Turismo. Fernando Medeiros, proprietário do restaurante Japidinho, já foi condenado a pagar R$ 64 mil por furto de energia elétrica.
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Busca por consenso
Apesar das dificuldades, alguns parlamentares têm tentado articular uma chapa consensual para apaziguar os ânimos e minimizar as divisões internas. Contudo, essas tentativas têm encontrado barreiras. “A partir do momento em que o prefeito se posiciona a favor de A ou B, inviabiliza qualquer tentativa de construção independente”, avaliou Chico 2000.
Desafios para a próxima gestão
A composição da nova Mesa Diretora da Câmara é considerada crucial para assegurar o equilíbrio entre os poderes e garantir a governabilidade em Cuiabá. No entanto, a combinação de divisões internas e influências externas coloca em xeque a independência do Legislativo e sua capacidade de atuar de forma coesa. Para muitos vereadores, o desafio é encontrar um caminho que permita superar as interferências e construir uma Mesa Diretora capaz de conduzir os trabalhos parlamentares de maneira eficiente e harmônica.
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