Dois dos maiores gênios da história do futebol, Pelé e Maradona tiveram carreiras absolutamente vitoriosas, ganharam Copas do Mundo, mas compartilham uma lacuna em suas galerias de troféus: jamais conseguiram ser campeões da Copa América, cuja próxima edição começa neste domingo (13.06), no Brasil.
Pelé, é verdade, disputou apenas uma edição do torneio continental, em 1959. Os fãs do argentino não podem usar esse argumento para defendê-lo. Maradona tentou mais. Participou de três Copas Américas, jamais indo além do terceiro lugar que obteve em 1989.
Entenda abaixo por que Pelé e Maradona nunca conseguiram ser vitoriosos no torneio continental de seleções.
Artilharia sem título - Pelé ainda era muito jovem em 1959. Tinha apenas 18 anos, mas chegou com imensa moral à Argentina para a disputa do Campeonato Sul-Americano de Futebol (o torneio só passaria a ser chamado de Copa América a partir de 1975).
Protagonista do título da Copa do Mundo do ano anterior, o Rei já era destaque na capa da Revista El Gráfico, que circulava em Buenos Aires antes do início da competição. Ele e Didi, lado a lado, eram chamados de "gênios da concepção e da realização do futebol" na primeira página do tradicionalíssimo diário esportivo portenho, publicado ininterruptamente desde 1919.
Em campo, Pelé justificaria a reverência que lhe foi dispensada: foi o artilheiro da competição com oito gols em seis jogos. O Brasil não conseguiu, porém, repetir em nível continental o domínio que teve na Copa do Mundo do ano anterior.
A campanha não chegou a ser ruim, mas o empate na estreia contra o Peru foi determinante. A Seleção venceu todos os jogos a partir de então até chegar à última partida, contra a Argentina.
Como não haviam tropeçado, os anfitriões precisavam apenas do empate para o título. Era uma final, embora não fosse oficialmente - já que o torneio foi disputado em turno único, pontos corridos, com todas as sete equipes se enfrentando uma vez.
Apoiada por 85 mil torcedores no Monumental de Nuñez, a Argentina abriu o placar com Juan José Pizzuti. Pelé até empataria o jogo depois, mas o Brasil não conseguiu a vitória que lhe asseguraria o título.
O troféu ficou com os donos da casa, consolidando o domínio regional da Argentina. Aquela era a terceira conquista seguida dos portenhos, a 12ª de sua história. O Brasil, apenas como comparação, conquistará sua décima taça se for campeão em 2021.
Aquela ficaria marcada também como a única edição que Pelé jogou. Dali em diante, com status de torneio secundário, a Copa América não teve mais o privilégio de ver o Rei do Futebol em seus campos.
Chamou atenção, mas não ganhou
Embora tenha sido vitorioso também em clubes, Maradona viveu seus melhores momentos na Copa do Mundo - competição em que carregou a Argentina nas costas no título de 1986 e na qual chegou à final em 1990, derrubando o Brasil pelo caminho.
Na Copa América, no entanto, o "Pibe de Oro" jamais conseguiu repetir o brilho que teve nos mundiais.
Em sua primeira edição, 1979, por exemplo, o meia tinha somente 19 anos e não foi capaz de guiar a Argentina a uma boa campanha.
Numa competição que não tinha sede fixa, as seleções foram divididas em três grupos de três equipes. As líderes de cada chave passavam às semifinais, onde encontrariam o Peru, com vaga garantida na fase final por ser o campeão da edição anterior.
A Argentina ficou na terceira posição do grupo que tinha Brasil e Bolívia. Maradona marcou apenas um gol - num dos duelos contra os bolivianos. Diante do Brasil, passou em branco nas duas partidas e foi eliminado, mas seu futebol chamou atenção no confronto que aconteceu no Maracanã (vencido pela Seleção por 2 a 1).
No Globo Esporte que foi ao ar no dia seguinte à partida, o apresentador Fernando Vanucci destacou as dificuldades do Brasil em parar o jovem craque portenho.
- O time brasileiro, compreensivelmente desentrosado, jogou o bastante para vencer um renovado time que teve o garoto Maradona jogando tudo o que dizem dele.
Decepção em casa
Oito anos mais tarde, Maradona já não era mais um garoto. Chegava à Copa América de 1987 no auge da forma. Tinha 28 anos, a Copa do Mundo do ano anterior e uma bola de ouro como credenciais.
Não vestia mais a camisa 6 que envergara em 79. Agora era o 10. El Diez.
E aquela edição era especial. Disputada em casa, onde os argentinos poderiam matar a saudade de seu grande ídolo, que deixara o Boca Juniors em 1981 e desde então atuava fora do país.
Na primeira fase, Maradona correspondeu à enorme euforia dos argentinos. Marcou três gols nos dois primeiros jogos e, assim, classificou o time para a semifinal.
Diante do Uruguai, no entanto, ele não conseguiu decidir. Num Monumental de Nuñez com 75 mil torcedores, os visitantes ganharam por 1 a 0, gol de Alzamendi com passe de Francescoli, e eliminaram os donos da casa. Maradona teve atuação discreta.
Abalada pela eliminação, a Argentina ainda perdeu a decisão de terceiro lugar para a Colômbia. Ficou em quarto. O Uruguai sagrou-se campeão ao vencer o Chile.
Frisson fora de campo e pouco brilho dentro dele
Num mundo em que ainda era recomendável aglomerar, Maradona foi recebido como astro no Brasil, sede da Copa América de 1989. Conta o jornalista Alex Sabino na Folha de São Paulo em 2019 que, ao se deparar com a multidão que aguardava sua chegada num hotel em Goiânia, o meia olhou para o irmão Hugo, ao seu lado, e comentou, impressionado:
- Parece até que está chegando o papa.
Ídolo global, Maradona atraiu multidões por onde passou no Brasil, mas não mostrou mais do que lampejos naquela Copa América. Um deles foi contra o Uruguai, quando repetiu Pelé e quase marcou um golaço do meio-campo, como o Rei tentou na Copa de 70. Assim como o do brasileiro, a bola chegou perto, mas não entrou. Explodiu no travessão, frustrando os mais de 65 mil torcedores presentes no Maracanã.
No Globo Esporte, um dia depois do lance, o apresentador Léo Batista interpretou que a jogada seria inesquecível, mesmo não terminando em gol.
Os brilhos eventuais de Maradona não foram capazes de levar a Argentina adiante. Na primeira fase, a Albicesleste até liderou, mas - uma vez no quadrangular final - não foi párea para uruguaios e brasileiros.
Além da derrota para os vizinhos no jogo em que Maradona quase fez gol do meio-campo, a Argentina perdeu para o Brasil, numa atuação de gala de uma certa dupla que faria história cinco anos depois: Bebeto e Romário.
O Baixinho marcou um gol e deu um caneta daquelas em Maradona. Bebeto guardou um de voleio, sua marca registrada.
Na partida final, contra o Uruguai, Romário fez o gol do título brasileiro, que punha fim a um jejum de 40 anos sem conquistar a Copa América.
A Argentina ficou apenas com a medalha de bronze. Era a terceira - e última - frustração de Maradona na Copa América, que ele jamais venceu.
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