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Entrevista da Semana Sábado, 14 de Setembro de 2024, 15:00 - A | A

Sábado, 14 de Setembro de 2024, 15h:00 - A | A

ENTREVISTA DA SEMANA

Defensora critica falta de investimento público e diz que animal continua sendo entendido “como coisa” até no âmbito jurídico

Defensora falou sobre a importância das ONGs e que essas pessoas trabalham por amor e voluntariamente

Lucione Nazareth/VGN

A presidente da Organização para Proteção ao Meio Ambiente e aos Animais (OPAA), Ivone Galindo, concedeu entrevista ao , abordando sobre a proteção aos animais e questões ligadas aos maus tratos e abandono. Conforme ela, assim como existem leis em defesa dos homens, os animais são protegidos e há muitas pessoas que lutam intensamente por essa causa.

Galindo falou sobre a importância das Organizações Não Governamentais (ONGs) e que essas pessoas trabalham por amor e voluntariamente. Ainda segundo ela, cuidar e proteger os animais são deveres de todos, pois o cometimento de qualquer crime contra eles pode gerar multa e prisão.

Confira a Entrevista      

VGN - Qual foi o momento ou experiência que despertou em você o interesse pela causa animal?      

Ivone Galindo – Amo animais desde sempre. Desde criança, sempre resgatei animais em situação crítica. O interesse pela causa animal foi acontecendo naturalmente, em razão da empatia pelo sofrimento desses pequenos e percepção do descaso com que são tratados.      

VGN - Quais são os principais desafios que você enfrenta no seu dia a dia em relação à proteção animal?      

Ivone Galindo - Os desafios são inúmeros, contudo, a ausência de políticas públicas voltadas para a proteção animal talvez seja o maior dos desafios. Historicamente, a nossa sociedade evoluiu em diversos aspectos, mas no que se refere à causa animal, infelizmente não houve avanços significativos. O animal continua sendo entendido como "coisa", inclusive no âmbito jurídico.      

VGN - Além do abandono e maus-tratos, quais outros desafios você considera prioritários para melhorar a situação dos animais no Estado?      

Ivone Galindo - Quanto ao abandono e maus tratos, o Estado/Poder Público, não tem como resgatar essas pequenas vítimas, tirando as da situação critica. Não tem abrigo público e não há parcerias com ONGs ou mesmo com protetores independentes. Então fica complicado porque a polícia resolve a parte criminal, porem a parte social, que é o acolhimento e cuidados com o animal, não há estrutura para resolver.      

Além de abrigos, para melhorar a situação, é necessário um programa contínuo de castração. Continuo e em número significativo. Somente assim, pelo menos a médio e longo prazo, o número de animais errantes iria diminuir, amenizando o problema. Outra iniciativa importante é a conscientização da população em geral sobre a importância de cuidar dos animais e vê-los como seres sencientes. Palestras nas escolas seriam uma boa alternativa.      

VGN - Como as ONGs e protetores mantêm estes animais resgatados? E qual o custo de cada resgate e cuidado destes animais? Há alguma forma de financiamento público ou parcerias com empresas privadas para sustentar o trabalho dessas ONGs?      

Ivone Galindo - Algumas ONGs até conseguem. Porém, é um processo extremamente burocrático e depende dos mais variados fatores. Além de vários documentos, a elaboração de projetos e várias outras exigências que muitas vezes não temos tempo e mesmo voluntários que possam "correr atrás" e providenciar. Algumas vezes, por exemplo, é necessário ter "QI". Nesse contexto, não é fácil para ONGs, que em geral têm poucos voluntários realmente engajados. Mas, para protetores independentes, é ainda mais complexo, pois têm que providenciar uma gama de documentos e atender a exigências quase sempre inalcançáveis para sua realidade. Não importa se ONGs ou protetores estão com abrigos e casas cheias, deixando de pagar suas contas para manter os resgatados, fazendo um trabalho que é dever do Poder Público. O que importa é que os "papéis" estejam todos de acordo com o exigido. Estes são mais importantes que as vidas que estão sendo salvas e mantidas pelas entidades e protetores às suas próprias expensas (custo).      

Quanto ao custo de cada resgate, depende do estado do animal. A princípio, consulta e exames. Só então é possível saber se está doente e prever um custo. Então, de início, você vai gastar em torno de R$ 600 a R$ 800 com consultas e exames. Se estiverem doentes, o custo vai depender do tratamento necessário. Quando se trata de atropelados ou por alguma outra violência, fraturados, este custo inicial aumenta para mais de R$ 1 mil, pois vai requerer exames de imagem, e em casos de necessitar cirurgia ortopédica simples o custo mínimo é de R$ 2 mil. Depois tem custo de castração e vacinas antes de irem para o abrigo.      

Sobre financiamento público para tratamentos, há um órgão da Prefeitura de Cuiabá que tem convênio com clínica mas não dá para contar com isso, precisam autorizar o atendimento e  se você depender disso o bicho morre antes de conseguir.      

VGN - Em Cuiabá, por exemplo, têm a Secretaria do Bem Estar que tem como função atender e socorrer os animais no município. Como você avalia a atuação hoje desta pasta? Acredita que outros municípios poderiam implantar órgão semelhante voltado à causa animal? Existem formas de monitoramento e transparência nas ações da secretaria em relação ao número de atendimentos ou eficiência das ações?      

Ivone Galindo - É ineficiente desde que foi criado. Até o presente momento, não fez absolutamente nada significativo que tenha resultado em melhoria no contexto geral da causa animal. O número de castrações que fez não fez a menor diferença no contexto. Abrigos e protetores continuam sobrecarregados e endividados, tendo que se virar sozinhos. Houve uma época em que doavam ração para alguns protetores e ONGs, não sei se ainda doam.      

Sobre atender e socorrer os animais do município, também são ineficazes! Não conte com isso, que o animal vai perecer esperando. Essa secretaria foi criada, mas não foi estruturada. Desta forma, ainda que seus servidores desejem fazer algo, não irão conseguir prestar o atendimento necessário, pois não têm estrutura e não têm abrigo para colocar animais resgatados.      

VGN - Gestores públicos, em grande maioria, defendem o controle populacional sob o argumento de que o controle da reprodução de animais de rua é fundamental para reduzir o número de animais abandonados. Qual é a sua opinião sobre essa questão?      

Ivone Galindo - A castração é a solução para amenizar o problema, pois a médio e longo prazo sem dúvida diminuiria o número de animais em situação de rua. O problema é que, em via de regra, gestores públicos falam, mas não efetivam a ideia. Não há aqui um programa contínuo de castração em número suficiente que realmente altere o contexto.      

VGN - A conscientização sobre a importância do bem-estar animal e da adoção responsável é essencial, mas pode ser um desafio em cidades grandes e diversificadas como Cuiabá e Várzea Grande. Como os ativistas vêm atuando neste sentido?      

Ivone Galindo – É parte fundamental do processo de amenizar a problemática que permeia a causa animal. Nesse sentido, é dever do poder público. Mais um dos tantos que ignora e cai nos ombros de protetores.      

VGN - Recentemente, em Várzea Grande, teve um caso de gatos encontrados mortos queimados em um imóvel no bairro Jardim Imperador. Em Cuiabá, um professor aposentado matou uma gata a machadadas. Na sua opinião, o que falta de fato para garantir que a legislação de proteção animal seja cumprida e que os casos de maus-tratos sejam investigados e punidos?      

Ivone Galindo - Falta compromisso e comprometimento por parte do Poder Público em efetivar a legislação. Esta existe, embora com algumas falhas, mas as leis estão aí. Falta interesse e progresso moral para que sejam efetivadas. Esse professor que matou gata a machadadas, por exemplo, é um perigo para a sociedade. Não deveria estar sozinho, circulando livremente.      

VGN - Os fogos de artifício com estampidos são “verdadeiros vilões” na vida dos animais, pelo fato de muitos chegarem a se ferir em busca de esconder do barulho. Atualmente, está em vigor a Lei Estadual 12.155/2023, que proíbe a queima e soltura de fogos de artifício com estouros e estampidos em Mato Grosso, mas não impede a comercialização dos artigos. Como fazer valer a lei? E o que os ativistas já adotaram de medida para buscar “banir” a comercialização deste tipo de produto?      

Ivone Galindo - De fato, um paradoxo: proíbem o uso, mas não a venda... parece piada. Quanto às medidas tomadas, não cabe aos ativistas. Estes fazem o que está ao seu alcance: cobrar do poder público a solução para essa questão. Afinal, é mais um dever do qual o poder público se faz omisso.      

VGN - Qual o papel da sociedade civil na luta pela causa animal? Como os cidadãos comuns podem se engajar mais nessa causa?      

Ivone Galindo - A sociedade civil tem papel muito importante na luta pela causa animal, porém muitos não têm consciência da importância da causa, isso remete à questão da conscientização: muito se fala em saúde pública, proteção ao meio ambiente, porém poucos têm consciência de que a causa animal está relacionada tanto à saúde quanto ao meio ambiente, inclusive o meio ambiente urbano, onde vivem. Os cidadãos podem ajudar a cobrar ações do poder público no sentido de efetivar as leis, assim como podem contribuir para uma maior conscientização.      

VGN - Como as redes sociais têm ajudado ou prejudicado o trabalho de ONGs e protetores?      

Ivone Galindo - As redes sociais são importantes e fundamentais para divulgar as ações, porém junto a isso também vem muita cobrança. Infelizmente poucos procuram abrigos para ajudar, mas sim para pedir resgate ou mesmo para "se livrar" de seus animais.      

VGN - Você poderia compartilhar algum caso de sucesso que exemplifique o impacto positivo do trabalho dos protetores de animais?      

Ivone Galindo - O trabalho de ONGs e protetores para resgatar animais em situação crítica e a dedicação diária já é um impacto positivo. Se somarmos a quantidade de animais abrigados em cada abrigo, em cada casa de protetor, animais que protetores já castraram e tiveram que devolver às ruas (mas já castrados) por falta de abrigos aos que foram dados à adoção, e imaginarmos todos esses animais nas ruas durante todos esses anos, adoecendo, procriando, é possível ter noção do impacto desse trabalho.      

VGN - Como você vê o futuro da causa animal em Mato Grosso nos próximos 5 anos? Há algo que te deixa otimista ou preocupado?     

Ivone Galindo - Sou bastante cética quanto a algum progresso significativo, mas tentemos manter a positividade. Promessas têm muitas. Otimista, a gente tenta ser todos os dias. O que me preocupa é o número crescente de pessoas usando a causa animal para se autopromover e, em alguns casos, se locupletar.

VGN - A cultura de consumo de carne e o agronegócio têm forte presença em Mato Grosso. Como você vê o diálogo entre esses setores e os defensores dos direitos dos animais?      

Ivone Galindo – É utopia pensar que deixarão de existir, pois está ligado à economia do Estado e até mesmo de boa parte do país, então é necessário que se chegue a um consenso sobre os pontos mais sensíveis.  

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