A psicóloga Marisa Rodrigues, atual coordenadora de saúde mental da Secretaria de Saúde de Várzea Grande, destacou em entrevista ao que o ambiente de trabalho exerce um impacto significativo na saúde mental dos trabalhadores, especialmente em cidades como Várzea Grande, que enfrentam desafios locais, como infraestrutura deficiente e trânsito caótico, apesar de uma economia em crescimento.
Nos últimos anos, os casos de problemas de saúde mental entre trabalhadores de Várzea Grande aumentaram, em parte como consequência do estresse pós-pandemia. Fatores como sobrecarga de trabalho, prazos rigorosos, falta de autonomia, assédio moral e um ambiente organizacional negativo são frequentemente apontados como as principais causas desse quadro.
“O ambiente de trabalho afeta diretamente o bem-estar emocional e a produtividade dos funcionários. Tanto o setor público quanto o privado enfrentam demandas excessivas, que resultam muitas vezes em ambientes tóxicos, falta de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, insegurança no emprego e ausência de suporte psicológico, fatores que impactam severamente a saúde mental”, explicou Marisa Rodrigues.
No entanto, o impacto desses fatores tem sido minimizado pelo tratamento e apoio oferecidos pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), especialmente o CAPS III, inaugurado há mais de um ano. A psicóloga ressaltou que a unidade se tornou referência estadual, proporcionando um ambiente acolhedor e inclusivo, onde os usuários se sentem seguros para buscar ajuda.
Confira na íntegra a entrevista sobre Saúde mental
VGN - Como o ambiente de trabalho pode afetar a saúde mental dos funcionários locais?
Marisa Rodrigues - O ambiente de trabalho exerce uma influência significativa na saúde mental dos funcionários, afetando o bem-estar emocional quanto a produtividade. Tanto os serviços públicos quanto os privados enfrentam demandas elevadas, esses desafios tendem a ser ainda mais intensos. Alguns dos fatores que impactam a saúde mental no ambiente de trabalho incluem o excesso de pressão e demandas, ambientes tóxicos, falta de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, insegurança no emprego e a ausência de apoio psicológico. A implementação de políticas voltadas para a saúde mental, como a oferta de terapia ocupacional e a promoção de um ambiente de respeito e apoio, é crucial para o bem-estar geral. Além disso, treinamentos regulares para gestores sobre como lidar com questões emocionais no local de trabalho podem contribuir para a criação de uma cultura de acolhimento e cuidado contínuo.
VGN - Como poderemos identificar os primeiros sinais de que alguém está passando por problemas de saúde mental?
Marisa Rodrigues - É importante identificar e ficar atento aos primeiros sinais, que é fundamental para oferecer apoio antes que a situação se agrave. Entre os sinais mais comuns estão as mudanças no comportamento, isolamento social, dificuldade de concentração, falas que expressam desesperança ou desespero, uso excessivo de substâncias. Esses sinais podem variar de intensidade e muitas vezes aparecem combinados, ao notar qualquer mudança, é essencial aproximar-se com empatia, ouvir sem julgamentos e encorajar a busca por ajuda profissional, como psicólogos ou psiquiatras.
VGN - De que maneira a sociedade pode apoiar melhor aqueles que enfrentam transtorno mentais?
Marisa Rodrigues - A Sociedade pode oferecer melhor suporte às pessoas com transtornos mentais por meio da escuta, promovendo um ambiente acolhedor e inclusivo, algumas formas eficazes de fornecer esse apoio incluem a educação e conscientização sobre saúde mental, empatia, redução do estigma no ambiente de trabalho e nas escolas, promoção da inclusão evitando o isolamento, essas iniciativas ajudam a criar um ambiente mais seguro e receptivo, permitindo que pessoas com transtornos mentais se sintam apoiadas e em melhores condições para enfrentar suas dificuldades.
VGN - Como a pandemia COVID 19 afetou a saúde mental das pessoas?
Marisa Rodrigues - Com a pandemia COVID 19, a população teve um impacto profundo e negativo na saúde mental das crianças, adolescentes e adultos, foi o resultado de uma combinação de muitos fatores como o isolamento social, incertezas financeiras, medo da contaminação, luto, traumas, entre outros, o que desencadeou um aumento significativo de pessoas com transtornos mentais.
VGN - Quais são os programas de saúde mental em Várzea Grande? Onde são realizados e qual a importância?
Marisa Rodrigues - Temos a RAPS - Rede de Atenção Psicossocial, que perpassa os três níveis de atenção à saúde, atenção primária, especializada e hospitalar, tendo como referência os 03 CAPS, sendo que o CAPS III Transtorno Mental é o primeiro do seu tipo no estado do Mato Grosso, é de grande importância para o acolhimento do usuário em sofrimento mental.
Setembro Amarelo
VGN - De que forma o Setembro Amarelo tem impactado a conscientização sobre a prevenção ao suicídio em Várzea Grande?
Marisa Rodrigues - O movimento Setembro Amarelo tem sido bem-visto e gerado impacto significativo na conscientização sobre a prevenção ao suicídio, porém, é necessário que esse assunto não seja lembrando somente no mês de setembro, devemos dar mais importância a este tema o ano todo.
VGN - Quais são as principais atividades realizadas durantes o Setembro Amarelo nos Centros de Atenção Psicossocial de VG?
Marisa Rodrigues - No Município de Várzea Grande temos 03 CAPS (CAPS III Transtorno Mental, CAPS Infanto Juvenil e CAPS Álcool e Drogas) composta por equipes multiprofissionais, psicólogos, enfermeiros, médicos, técnicos de enfermagem, assistentes sociais, artesã, fisioterapeutas. É ofertado atendimento especializado para transtornos mentais severos e persistentes, incluindo aqueles que em uso prejudicial de álcool e drogas. Os profissionais têm um papel essencial na promoção de atividades voltadas à prevenção e à valorização da vida, proporcionando acompanhamento contínuo e suporte às pessoas em sofrimento psíquico. Além das rodas de conversa e discussões são promovidas oficinas terapêuticas, grupos de educação e saúde, dança, projeto de vida, hidroginástica e artesanato, que servem para contribuir na autonomia, no fortalecimento e no equilíbrio mental de cada usuário do SUS que ali vem a procura de ajuda.
VGN - Como os profissionais de saúde mental de Várzea Grande podem se envolver ativamente nessa campanha?
Marisa Rodrigues - Os profissionais podem se envolver na promoção da saúde mental de diversas maneiras, tanto dentro das instituições de saúde quanto na comunidade em geral, como em rodas de conversas e palestras educativas, capacitações para outros profissionais, atendimento comunitário, apoio psicológico em ambientes de trabalho, divulgação e mídia. Essas ações ajudam a construir uma cultura de prevenção e acolhimento, além de fortalecer a rede de apoio para as pessoas em vulnerabilidade emocional.
VGN - Quais mudanças políticas ou sociais são necessárias em Várzea Grande para uma prevenção mais efetiva do suicídio?
Marisa Rodrigues - Nos últimos anos Várzea Grande evoluiu muito no fortalecimento da saúde mental para população, o CAPS III foi implantado a mais de um ano e é referência no estado de Mato Grosso, no cuidado e atenção aos usuários e familiares. E para uma prevenção mais efetiva ainda, é dar continuidade nas capacitações para os profissionais de saúde mental, campanhas permanentes de conscientização sobre saúde mental e prevenção do suicídio. Essas medidas contribuem para a criação de um ambiente mais acolhedor e inclusivo, onde os usuários se sintam seguros em busca de ajuda, promovendo uma abordagem mais proativa e eficaz na prevenção do suicídio em Várzea Grande.
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