Os 67 mil casais que se declararam gays no último Censo do IBGE devem movimentar neste ano R$ 6,9 bilhões --metade dos R$ 13,9 bilhões gastos em 2012 pelos 5,8 milhões de turistas estrangeiros que visitaram o Brasil.
São consumidores que fazem parte de um mercado quase inexplorado no Brasil, cuja principal marca é a Parada Gay de São Paulo, evento que acontece neste domingo (02.06).
Em sua 17ª edição, a previsão dos organizadores da parada é reunir ao menos 1,5 milhão de pessoas na cidade.
Pela primeira vez, o montante que passa pelo bolso desse grupo foi mensurado. Isso porque foi só no levantamento demográfico de 2010 que o IBGE perguntou, pela primeira vez, a opção sexual dos casais entrevistados.
Para chegar aos R$ 6,9 bilhões, o instituto Data Popular, responsável pelo cálculo, considerou a renda do trabalho (formal e informal) e a de benefícios sociais (aposentadoria, pensões) recebidos por esse casais gays. Os valores foram corrigidos e deflacionados para maio pelo IPCA.
Em 55% dos lares dos 67 mil casais homossexuais, a responsabilidade do domicílio é compartilhada --os dois contribuem para arcar com os gastos. Esse percentual é menor (39%) nos lares dos 37,6 milhões de casais heterossexuais, segundo o IBGE.
"Os casais homossexuais são mais escolarizados, ocupam empregos melhores e, por essa razão, têm renda mais elevada. Como a maior parte é de casais sem filhos, concentram menos gastos em itens básicos e têm renda disponível para os mais sofisticados", diz Renato Meirelles, presidente do Data Popular.
Cinco em cada dez casais estão na classe alta --aquela cuja renda familiar per capita é acima de R$ 1.019 por pessoa, de acordo com o critério definido pelo governo.
Publicitários e especialistas em consumo consideram que esse mercado está longe de ser explorado.
"Consultamos 40 empresas para pedir patrocínio para a parada e eventos paralelos, mas só Petrobras e Caixa toparam", diz o advogado Fernando Quaresma, presidente da associação da parada. A fabricante de preservativos Olla aderiu ontem, segundo os organizadores.
Do caixa das empresas vieram R$ 450 mil, além de R$ 1,5 milhão da prefeitura para a infraestrutura.
Para o professor Mário Schweriner, coordenador do núcleo de ciências do consumo da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), poucas empresas de poucos setores têm ações consideradas pontuais nesse mercado.
Entre elas, cita empreendimentos lançados pela Tecnisa há cerca de três anos.
"Turismo, cosméticos e moda podemos citar como os que mais avançam. Mas a questão ainda é sair do discurso para a prática", diz.
Para Meirelles, do Data Popular, é forte ainda o preconceito em relação a vincular uma marca a esse público.
"As empresas pensam se devem optar pela diversidade ou se ficam com os outros consumidores. E o desafio nem é esse: é ser democrático", afirma Meirelles. (Folha de São Paulo)
Folha de São Paulo