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Cidades Domingo, 14 de Julho de 2024, 16:32 - A | A

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RESISTÊNCIA RIBEIRINHA

Comunidade de pescadores urbanos resiste à proibição e condena Mauro Mendes: “ele é o mais errado”

Vivendo na orla da Alameda, em Várzea Grande, pescadores lutam contra a proibição do governador

Gislaine Morais & Rogério Florentino/VGN

Nas margens tranquilas da Orla da Alameda, em Várzea Grande, e longe dos olhares da maioria da população, pequena e resistente comunidade de pescadores vive à margem da cidade.

Composta por cinco homens, essa comunidade ainda se sustenta da pesca, uma atividade que remonta a um tempo anterior à polêmica Lei n. 12.197/2023. Sancionada pelo governador Mauro Mendes (União Brasil), essa legislação proíbe, por cinco anos, o transporte, comércio e armazenamento de peixes dos rios estaduais, suscitando críticas fervorosas dos pescadores de todo o Estado.

Segundo os pescadores locais, a Lei do Transporte Zero beneficia exclusivamente grandes frigoríficos e criadores de peixes, deixando os pescadores artesanais em uma situação precária. Jaime de França Campos, 52 anos, expressa a frustração da comunidade: "O governador acusa os pescadores de estarem acabando com o rio, mas ele ignora o verdadeiro problema, que são os esgotos."

Jaime não poupa críticas a Mendes, acusando-o de governar apenas para os ricos e negligenciar os pobres. Revoltado, ele destaca a indignação dos pescadores que se veem obrigados a depender do auxílio governamental oferecido após a proibição de sua profissão. Para muitos, aceitar esse auxílio significa fortalecer a posição do governador.

A lei prevê que, durante três anos, o Estado pagará uma indenização de um salário mínimo por mês para pescadores profissionais e artesanais que comprovem residência fixa em Mato Grosso e que a pesca artesanal era sua principal fonte de subsistência. No entanto, para Jaime, isso é insuficiente diante da destruição das áreas verdes e da contaminação dos rios, problemas agravados, segundo ele, por atividades ilegais de garimpo associadas ao filho do governador Mauro Mendes.

“É ilegal, mas o governador quer fazer parecer que é legal. Ele diz que vai recuperar a área em 20 anos, mas não vai, nunca vai, uma vez que jogam mercúrio e muitos produtos químicos na água. Muitos deputados também fazem a mesma coisa”, refletiu ele.

Os pescadores da comunidade enfrentam o desafio de se reinventar. Além da pesca, passaram a consertar canoas e redes para complementar a renda. Com a legislação em vigor desde janeiro deste ano, a pesca de 12 espécies de peixes dos rios de Mato Grosso está proibida até dezembro de 2028, em um esforço do governo para reestruturar o estoque pesqueiro.

Jaime relata que o rio está seco e mal tratado. Espécies como pintado, piau, pacu e pera são raramente vistas, enquanto a curimba e o dourado ainda são encontradas. Ele também denuncia práticas ilegais de pesca, como o uso de ganchos, que prejudicam ainda mais a situação dos pescadores artesanais.

"São muitos barqueiros pescando o dia todo. Eles falam que soltam, mas não soltam. E muitos ainda pescam de gancho que é proibido. Falam que é pesca artificial, mas é um gancho. Eles prejudicam a gente, mas falam que eles podem pescar, a gente não", desabafou.
Outro fator que contribuiu para a degradação do rio, segundo Jaime, foi a construção da Usina do Manso, que baixou significativamente o nível da água e reduziu a população de peixes. "Essa usina acabou com os peixes e com o nível do rio. Este ano, o rio nem encheu e hoje só se vê pedras."

A luta pela comunidade ribeirinha de Várzea Grande

Em entrevista ao , Jaime revelou que ele e os colegas pescadores foram forçados a se mudar de Cuiabá para Várzea Grande há 27 anos, após uma intervenção do então prefeito Roberto França. Com esforço e determinação, eles estabeleceram a Comunidade Ribeirinha de Várzea Grande de Pescador, construindo seus próprios barracos e afastando usuários de drogas que antes ocupavam a área.

Hoje, apesar das adversidades, Jaime e seus companheiros se sentem felizes e realizados. "Recebemos visitas de autoridades que nos ofereceram casas, mas casa de pescador é na beira do rio", afirma Jaime. "Aqui temos tudo que precisamos: barraco, cama, geladeira, televisão. E, acima de tudo, pagamos nossa luz em dia para a Energisa. Somos felizes aqui."

A história desses pescadores é um testemunho de resiliência e esperança. Longe dos holofotes, eles continuam a lutar pela preservação de seu modo de vida e pela proteção do meio ambiente, mostrando que a verdadeira força está na comunidade e na capacidade de adaptação diante das adversidades.

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Rogério Florentino/VGN

Rogério Florentino/VGN

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