Por Cristiane Romano*
A forma como líderes e equipes se comunicam no ambiente corporativo tem influência direta na produtividade, no engajamento e, principalmente, na saúde mental dos trabalhadores. Quando essa comunicação se torna disfuncional—com mensagens ambíguas, discursos desqualificadores ou falhas na escuta ativa—ela pode desencadear um ambiente de trabalho nocivo, prejudicando a autoestima dos colaboradores e comprometendo a dinâmica organizacional.
A nova Lei nº 14.831/2024, que institui o Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental, e a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que entra em vigor em maio de 2025, estabelecem diretrizes para que empresas monitorem e previnam riscos psicossociais no ambiente de trabalho. A comunicação corporativa está no centro dessas discussões, pois interações prejudiciais podem desencadear estresse, ansiedade e até afastamentos por questões de saúde mental.
“A forma como a comunicação é conduzida dentro de uma organização pode ser a diferença entre um ambiente saudável e um espaço tóxico. A ausência de diálogos claros, a prática de desqualificar funcionários e o não reconhecimento de esforços impactam diretamente a segurança psicológica dos profissionais”, destaca a Dra. Cristiane Romano, fonoaudióloga e especialista em expressividade.
Gaslighting corporativo: quando a comunicação enfraquece profissionais
Um dos efeitos mais prejudiciais da comunicação disfuncional é o gaslighting corporativo, termo usado para descrever a prática de distorcer informações, negar problemas evidentes e fazer com que funcionários questionem sua própria percepção da realidade. Comentários como "Você está exagerando", "Isso nunca aconteceu" ou "Você não entendeu direito" podem minar a autoconfiança dos trabalhadores e levá-los a duvidar de suas próprias competências.
Um levantamento da Harvard Business Review aponta que ambientes de trabalho onde há práticas desestabilizadoras na comunicação apresentam índices elevados de absenteísmo e rotatividade. Outro estudo, publicado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), revela que 62% dos profissionais brasileiros já vivenciaram episódios de desqualificação verbal no ambiente corporativo.
“Quando líderes invalidam sentimentos e percepções de seus funcionários, cria-se um ambiente de insegurança psicológica. Esse tipo de postura não apenas afeta a produtividade, mas pode gerar afastamentos e impactos diretos na saúde mental da equipe”, ressalta a Dra. Cristiane Romano.
Efeitos da comunicação disfuncional na saúde mental
A nova legislação brasileira estabelece diretrizes para que as empresas monitorem e previnam riscos psicossociais, incluindo fatores como:
Falta de transparência e clareza na comunicação - Gera ansiedade e insegurança entre os colaboradores.
Desvalorização e feedbacks destrutivos - Impacta a motivação e a autoestima dos funcionários.
Ausência de canais de escuta ativa - Leva a um ambiente onde as demandas dos profissionais são ignoradas.
Pressão e sobrecarga comunicacional - Contribui para o esgotamento mental e emocional dos trabalhadores.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já reconheceu a síndrome de burnout como um fenômeno ocupacional relacionado ao estresse crônico no trabalho. A comunicação inadequada dentro das empresas pode potencializar esse problema, tornando o ambiente ainda mais exaustivo para os colaboradores.
Como melhorar a comunicação e atender à nova legislação?
Para criar um ambiente saudável e garantir conformidade com as novas exigências legais, a Dra. Cristiane Romano sugere estratégias fundamentais:
1- Desenvolvimento da comunicação assertiva - Líderes devem praticar um diálogo claro e respeitoso, garantindo que as mensagens transmitidas sejam compreendidas sem ambiguidades.
2- Promoção da escuta ativa - Criar espaços seguros para conversas abertas, onde os colaboradores possam se expressar sem medo de retaliação.
3- Uso consciente da linguagem - O tom de voz e a escolha das palavras impactam diretamente a receptividade da equipe. Evitar expressões que possam desqualificar ou minimizar sentimentos é essencial.
4- Treinamento em comunicação inclusiva - Investir em capacitação para equipes sobre práticas saudáveis de comunicação e diversidade dentro da organização.
5- Feedbacks construtivos - Criar uma cultura de retorno baseado no desenvolvimento, e não no medo.
"A saúde mental no ambiente corporativo deve ser tratada como prioridade estratégica pelas empresas. A forma como nos comunicamos influencia diretamente a motivação e o bem-estar dos colaboradores. Empresas que investem em comunicação eficaz não apenas evitam penalidades legais, mas criam ambientes produtivos, onde os profissionais se sentem valorizados e seguros para desempenhar suas funções", conclui a Dra. Cristiane Romano.
*Dra Cristiane Romano - Fonoaudióloga, mestre e doutora em Expressividade pela USP, pós-graduada em Voz pelo CEFAC - BH e em Gestão Estratégica de Marketing pela PUC Minas. Possui formação em Business and Executive Coaching pela University of Ohio - EUA. Autora de diversos artigos científicos nacionais e internacionais. Atua na capacitação de profissionais para aprimoramento das habilidades comunicativas e desenvolvimento de influência e persuasão em diferentes contextos.
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