por Williamon da Silva Costa*
As 3,659 milhões de pessoas que residem em Mato Grosso definitivamente podem ser consideradas vitoriosas. Isso porque não é fácil viver e sobreviver em um Estado tão peculiar, onde impera a lei da brutalidade e os “fortes” subjugam os “fracos” com os mais variados tipos de violência e ameaças.
Quase ninguém tem coragem de falar dessa violência enraizada em nossa terra.
Todos querem mostrar, com orgulho, apenas a força de uma economia pujante: o agronegócio batendo recordes ano após ano, o crescimento da indústria local, as belezas naturais exploradas pelo setor de turismo. Mas falar desse coronelismo patriarcal ainda presente no Estado? Ninguém quer falar.
É só olharmos os sites de notícias para vermos os mais variados tipos de barbárie sendo praticados em Mato Grosso: crimes de mando aos montes, pistolagem em praticamente todos os municípios, disputa por terras, tentativa de invasão de propriedades, ameaças políticas, violência urbana, expansão do crime organizado, a maior taxa de feminicídio do Brasil, violência policial, tortura e maus-tratos em presídios, advogados sendo mortos no exercício de suas funções (quatro óbitos em 2024) e presos por ajudarem o crime organizado, insegurança jurídica nas questões agrárias e ambientais, crimes ambientais de várias ordens ficando impunes, garimpagem ilegal realizada com braços armados, crimes do "novo cangaço", chacinas, cemitérios clandestinos sendo descobertos todos os dias, intimidação política contra a mídia e pessoas que enfrentam o “sistema” e inúmeros casos de corrupção ativa e passiva que acabam virando escândalos sem punição à altura.
E, mesmo assim, “parece” estar tudo bem!
Mato Grosso é lindo!
Mato Grosso é rico e o Agro é Pop!
E, no meio disso, o povo vive refém dessa triste realidade, no automatismo da vida cotidiana, tentando ganhar o pão de cada dia e rezando para não ser vítima de algum tipo de violência. Quem poderia, ou melhor, deveria atacar esse problema? O governador do Estado, Mauro Mendes, que nada fez para conter esse grave problema e, agora, no apagar das luzes de seu mandato, resolveu “acordar” e tem tentado, fracassadamente, organizar o caos da segurança pública com sua “Operação Tolerância Zero”.
Mas é muito fácil e muito cômodo “bater” em quem já está recolhido e custodiado em uma cela.
Pergunto: por que não há enfrentamento nas ruas?
Por que só o ladrão de galinha é preso e responsabilizado?
Por que os escândalos políticos de seu governo e de sua família têm virado pizza?
Por que só é apurado e cobrado com rigor aquilo que é de interesse pessoal do governador, em desfavor de seus desafetos?
Cadê a isonomia de direitos no Estado, onde ricos e pobres deveriam pagar da mesma forma pelos seus erros?
Essa isonomia não existe pelo simples fato de que a impunidade e a corrupção dominam o “sistema”. Todo mundo sabe que isso acontece há décadas, mas ninguém tem coragem de denunciar e se posicionar. Os poucos que tentaram foram calados pela bala ou pela desmoralização de sua conduta perante a sociedade.
Para ilustrar minha fala sobre a epidemia de violência em Mato Grosso, trago fatos e dados estatísticos abaixo:
Entre os anos de 2014 e 2023, foram registradas 7.550 ações de pistolagem por disputa de terra em Mato Grosso, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Como crimes de pistolagem entendem-se os crimes de ameaças, perseguição, prisão ilegal, constrangimento, destruição de patrimônio e até mortes.
Somente entre os anos de 2022 e 2023, houve um aumento de 17% nestes registros, que passaram de 256 casos de pistolagem em 2022 para 301 em 2023. Invasão e expulsão de terras também figuram como formas de violência contra ocupação e posse no campo.Nesse período de nove anos (2014-2023), ocorreram 1.342 expulsões e 21.465 invasões no Estado. Mas a violência não está apenas no campo. Segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em 2024 o Estado apresentou uma taxa de mortes bem maior que a média nacional.
A taxa nacional de homicídios dolosos – quando há intenção de matar – foi de 16,77 casos para cada 100 mil habitantes; em Mato Grosso, foi de 22,31. Ainda segundo o Ministério, 53 municípios mato-grossenses tiveram aumento no número de homicídios dolosos no ano passado. Inclusive, o município de Sorriso está entre os 10 mais violentos do Brasil, segundo o Atlas da Violência em 2024, com 77 homicídios para cada 100 mil habitantes.
Outra triste estatística é a violência contra a mulher no Estado, que registrou, no ano passado, 99 mortes de mulheres por violência, sendo 47 feminicídios e 52 homicídios dolosos. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Mato Grosso tem a maior taxa de feminicídios do país, com 2,5 mortes para cada grupo de 100 mil mulheres.
Para resumir a situação caótica da segurança pública, Mato Grosso teve um aumento de 18% na taxa de violência em 2024, o maior crescimento do Brasil. Mauro Mendes deixou essa situação correr livremente e, todas as vezes que foi questionado, culpou publicamente as “leis frouxas” do país. A culpa nunca foi dele.
Mas não é ele que está com a máquina da segurança pública nas mãos? Não é ele que deveria ter planejado e executado ações preventivas e corretivas de segurança pública nos últimos sete anos? O que ele fez ao longo de seus dois mandatos? Nada! Apenas demitiu todos que o questionaram publicamente, como fez com o ex-comandante da PM, Coronel Alexandre Mendes, que foi demitido porque feriu o ego de MM ao cobrar melhorias para a tropa.
Cadê o secretário de Segurança Pública, Coronel Cesar Augusto Roveri? O que ele tem a explicar para a sociedade diante de sua gestão fracassada e sem resultados positivos? Hoje, a única coisa que ele tem a entregar são recordes negativos, vitoriosos nacionalmente.
Infelizmente, o fracasso de MM e Roveri é preocupante, pois compromete a integridade das pessoas e das instituições de Mato Grosso. Embora a violência afete a todos, existem grupos que são mais vulneráveis a ela, especialmente mulheres, pessoas LGBTQIAP+, indígenas, negros, quilombolas, famílias de baixa renda e outros grupos historicamente marginalizados.
Mas a violência só incomodou os políticos quando um familiar deles foi atingido por ela. Aí foram determinadas caçadas, forças-tarefas, comitivas de políticos para visitação, etc. Quando foi com um pobre anônimo, virou apenas estatística e notícia policial. É importante combater a violência, pois seus efeitos afetam muito além do indivíduo; ela é uma ameaça à democracia, pois impede a participação igualitária e afeta a representatividade das pessoas nos espaços de poder.
É preciso redefinir estratégias de segurança pública no Estado, adotar medidas mais firmes contra a violência para proteger os indivíduos e fortalecer as instituições que executam as leis e promovem a ordem pública, sem retaliações e intimidação.
Diante dessa triste realidade, pergunto ao leitor: É fácil viver em Mato Grosso? Não!
Mato Grosso não é para amadores!
*Williamon da Silva Costa, é acadêmico de direito
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