por Tânia Matos *
“Dizem que a mulher é o sexo frágil, mas que mentira absurda...!”
Erasmo Carlos, no início dos anos 80, cantava em versos e prosas a música “Mulher (Sexo Frágil)”, que compôs juntamente com Narinha, sua ex-mulher.
Vamos concordar com Erasmo Carlos, de frágil não temos nada. Lembro que na minha geração a luta já começava nos primeiros anos de vida. Era a nós mulheres que cabia a tarefa de executar os afazeres domésticos e cuidar de nossos irmãos mais novos. Quando reclamava, ouvia que essa tarefa era da mulher. Cumpra e não discuta.
Nessa época a falta de acesso a informações e a pouca idade não contribuíam para uma percepção mais clara que nos desse embasamento para discutir essas questões de forma igualitária. A palavra da mãe era lei. Para ela a palavra da mãe dela foi lei também, aquela coisa de passar de mãe para filha. Sabemos que o que aprendemos na infância tende a enraizar-se em nossa memória.
Hoje observo amigas com filhos e as tarefas são divididas igualitariamente entre eles. Não existe mais o serviço que é só feminino. Já é um grande avanço.
Da música de Erasmo Carlos até hoje já se passaram 36 anos. Muitas leis foram instituídas para proteger e defender os direitos das mulheres. Que absurdo ter que instituir lei para proteger e garantir os nossos direitos quando isso deveria ser um processo natural.
O site G1, em 7 de março de 2015, traz uma matéria com dados que nos faz refletir sobre nossas conquistas ao longo desses anos. A pesquisa apresenta que no Brasil “a presença de mulheres em cargos de liderança vem caindo ao longo dos anos. Em 2012, 26% das empresas não tinham funcionárias em funções de comando. Em 2013, a proporção aumentou para 33% e, em 2014, para 47%”.
Nessa mesma matéria a sócia da Grant Thornton Brasil, Madeleine Blankenstein, fala sobre alguns fatores que contribuem para isso, como, por exemplo, a dificuldade para equilibrar a vida familiar com a profissional: “Poucas empresas têm creches, oferecem a oportunidade de trabalho flexível e outros benefícios que permitiriam que a mulher não precisasse sempre escolher entre a família e o trabalho. Além disso, os grandes centros urbanos dificultam a mobilidade e a possibilidade de flexibilidade para as mulheres que buscam este equilíbrio".
Quando pensamos que já avançamos muito em relação a nossos direitos e nossas conquistas, que esse processo dificilmente irá retroceder, vejo na quarta-feira, último 2 de março, o deputado Janusz Korwin-Mikke defender no parlamento Europeu, num debate sobre as assimetrias salariais em função do gênero que, "As mulheres devem ganhar menos do que os homens porque são mais frágeis, pequenas e menos inteligentes".
O que pensar sobre isso! Vamos voltar à música de Erasmo Carlos: “Mas que mentira absurda!”
Enfim, continuamos trabalhando mais e ganhando menos. Vamos continuar lutando por melhores condições, melhores salários e por melhores cargos. Não queremos ser diferentes. Queremos apenas ser iguais em deveres e direitos. Queremos e merecemos mais respeito.
Tânia Matos é arquiteta e urbanista, administradora, pós-graduada em Gerência de Cidades, mestranda em Ensino e presidente da Agência Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá.
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